28/06/2024 às 01h43min - Atualizada em 28/06/2024 às 01h43min

Equilíbrio

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Existe uma teoria que conecta todas as animações da Pixar num único Universo onde Riley, da franquia Divertida Mente, encarnou pela primeira vez na Terra depois de séculos de planejamento reencarnatório. Apesar de ter sido auxiliada por mentores ilustres como Gandhi, Arquimedes e Madre Teresa de Calcutá, quem a convenceu de fato foi um pianista que a fez descobrir prazer nas pequenas coisas da vida. Dessa forma, em Soul (2020), disponível no Disney Plus, a Alma 22 (Tina Fey) encarna no corpo daquele fanático por Jazz, enquanto ele habitava o corpo de um gato de terapia. A metempsicose proposta por Pitágoras foi apenas uma forma de educar a população da época, já que é impossível uma alma humana retroagir para dentro do corpo de qualquer animal. Ocorre que aquela passagem fugaz pela Terra a deixou desiludida e sem forma definida, vagando errática pelo Limbo; até ela ser resgatada pelo músico em estado de êxtase. Aquele submundo sem vida lembrou o do julgamento da deusa egípcia da verdade, justiça, retidão e da ordem, Maat: desenvolvida no episódio 6 da série do Cavaleiro da Lua, cuja maioria permanecia ali ao lado de espíritos obsessores e de coração desequilibrado. Por conseguinte, Joe Gardner (Jamie Foxx) recebeu uma moratória da conselheira espiritual, interpretada por Alice Braga, para curtir um tempinho a mais no mundo sensível, agora sem estresse. Enquanto isso, a 22 teve a oportunidade de comer pizza encarnada no corpo de Riley.
A personalidade de Riley foi baseada na da filha do criador, diretor e roteirista de Divertida Mente (2015), Pete Docter, cujo psicólogo pioneiro no estudo das emoções, Paul Ekman, foi quem elaborou as cinco emoções universais, contidas na excelente animação da Pixar. A palavra emoção provém do latim “emovere”: mover para fora, deslocar-se. Por isso, a nossa encarnação só se completa aos 7 anos de idade quando os amigos imaginários da criança, como Bing Bong, se afastam, de modo que a sua personalidade seja moldada apenas de memórias base; assim como a de Riley, representada pelas ilhas: da Bobeira, formada de momentos engraçados; do hóquei, seu esporte predileto; além da amizade, da honestidade e da família, principalmente. Riley teve uma infância tranquila, sem frustrações, num ambiente seguro e afortunado, graças ao apoio da família e dos amigos. Assim, desde a concepção até a mudança de Minnesota para São Francisco, aos 11 anos, quem assumia o painel de controle da sua mente era a Alegria, brilhante como uma estrela, e fazendo o possível para deixar a Tristeza de lado. No entanto, quando ambas foram sugadas acidentalmente para onde ficam armazenadas as memórias de longo prazo, quem assumiu o comando — a fim de protegê-la de situações vexatórias, injustas ou que fogem ao controle — foi o Medo, a Raiva e o Nojo. Desse modo, dominada pela Raiva incandescente e sem o amparo da Tristeza e da Alegria, aquela pré-adolescente tenta fugir de casa até a sua Terra Natal onde era feliz. Contudo, é impedida pela Tristeza a tempo, depois de refletir um pouco com uma lágrima; voltando ao encontro dos pais num abraço melancólico e reconfortante, porque a felicidade não é deste mundo.
No curta-metragem: O Primeiro Encontro de Riley (2015), disponível no Disney Plus, a garota se encontra com aquele metaleiro sem neurônio que conheceu no final da animação original. Desta vez, o pai dela quase tem um colapso nervoso com a hipótese de um possível namoro de quem acaba de completar 12 anos enquanto a filha se arrumava com a mãe.
Divertida Mente 2 (2024), em exibição nos cinemas, se passa dois anos depois do primeiro, quando Riley chega à puberdade e ao Ensino Médio, como já havia previsto a animação anterior. A trama se passa num acampamento de Hóquei do colégio onde aquela caloura precisa provar às veteranas que merece uma vaga no time; por isso ela abandona imediatamente as colegas de infância para poder se encaixar no novo círculo social. A partir daí, novas emoções como o Tédio, a Inveja, a Ansiedade e a Vergonha substituem as antigas no painel de controle, formando novas Ilhas. Isso até a Ansiedade tentar resolver tudo sozinha de forma desordenada, enquanto a Inveja a observa de olhos esbugalhados; a Vergonha se faz de boba e o Tédio descansa naquele caos instalado; até a Ansiedade ser contida quando as novas emoções aprendem a conviver mutuamente com as antigas, formando novas memórias base e outras Ilhas da personalidade.

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