03/10/2024 às 22h49min - Atualizada em 03/10/2024 às 22h49min

Coringa e Lady Gaga não combinam

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Coringa: Delírio a Dois (2024), um dos longas-metragens mais aguardados do ano, estreou nesta quinta-feira dia 3 de outubro nos cinemas de todo Brasil. Porém, as primeiras exibições para os críticos dividiu opiniões, já que o diretor Todd Phillips misturou o mesmo drama do original de causar mal-estar ao público com os musicais românticos dos anos 1950, em maçantes 138 minutos de duração. Depois de dois anos preso, sendo maltratado diariamente pelos guardas, finalmente é realizado o julgamento de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix): que pode resultar em pena de morte ao Palhaço do Crime, graças a denúncia do promotor público Harvey Dent (Harry Lawtey). Para salvá-lo, a advogada Maryanne Stewart (Catherine Keener) tem que provar que o cliente sofre de transtorno dissociativo de identidade ao invés de ser um agente do caos. Ocorre que nesse ínterim o detento conhece uma cantora de coral (Lady Gaga) com quem volta à realidade, análogo à revista em quadrinhos: Batman O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.
A principal inspiração de Todd Phillips para os números musicais compostos por Lady Gaga foi Sinfonia de Paris (1951), vencedor de seis Oscars, incluindo melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original. Por isso, os delírios do Coringa podem ser comparados aos do pintor residente em Paris, Jerry Mulligan (Gene Kelly), cuja sequência de dança de 17 minutos no final levou um mês para ser filmada, custando a “bagatela” de 500 mil dólares na época. Enquanto Vincente Minnelli resolvia o seu complicado divorcio com Judy Garland, Gene Kelly assumia a função de diretor para desgosto do elenco e da equipe, cuja parceira de dança, Leslie Caron, estreava no cinema com apenas 19 anos de idade e até hoje continua na ativa aos 93 anos.
Robert De Niro foi lembrado duas vezes em Coringa 2: como aquele apresentador assassinado ao vivo e o saxofonista com ciúmes doentio da esposa e do próprio filho, simplesmente por ele ter nascido. Se em Rei da Comédia e Cabo do Medo ele inferniza Jerry Lewis e Nick Nolte; em New York, New York (1977) ele inferniza a personagem vivida por Liza Minnelli no papel que a revelou para o cinema. Um dos motivos do musical noir ter sido um fracasso de bilheteria: arrecadando praticamente o mesmo que gastou para ser produzido, foi a falta de controle sobre os diálogos. De acordo com o livro de Peter Biskind “Easy Riders, Raging Bulls”, Scorsese encurtou em um dia as entrevistas porque tinha ficado sem cocaína: “Eu estava muito drogado para resolver a estrutura”. “É um milagre que o filme faça algum sentido” — concluiu o diretor. A música tema de John Kander e Fred Ebb que se tornou o hino da cidade de Nova York passou despercebida quando foi lançada; até que Frank Sinatra gravou a sua versão em 1980, se tornando uma das melhores músicas tema de todos os tempos. Há também várias referências aos filmes da mãe de Liza Minnelli, Judy Garland, como, por exemplo: O Ponteiro da Saudade; Casa, Comida e Carinho, e Nasce uma Estrela. Ademais, o sogro de Liza, Jack Haley — o Homem de Lata de O Mágico de Oz — teve uma participação especial antes de falecer em 1979.
Entre Apocalipse Now e Vidas sem Rumo, Francis Ford Coppola dirigiu o musical romântico O Fundo do Coração (1981) pouco antes de Nastassja Kinski estrelar A Marca da Pantera e Raul Julia O Beijo da Mulher-Aranha. O cineasta de O Poderoso Chefão criou uma representação agradabilíssima de Las Vegas em homenagem aos multicoloridos musicais dos anos cinquenta, ao estilo de O Show de Truman — O Show da Vida, cuja trama é ambientada no Dia da Independência Americana, enquanto o casal vivido por Frederic Forrest e Teri Garr completava cinco anos de namoro. Gene Kelly foi o consultor de dança para a sequência marcante envolvendo Teri Garr e Raul Julia, embora existam outros destaques musicais a ser lembrado: como o dueto narrativo quase intermitente sobre os desdobramentos daquela relação tempestuosa, prestes a desmoronar a qualquer momento; ou o olhar penetrante de Nastassja Kinski cantando “Little Boy Blue”, a única de todo o elenco que emprestou sua voz sexy para o filme.

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