19/09/2024 às 23h28min - Atualizada em 19/09/2024 às 23h28min
55 anos do homem na Lua
Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com
A Lua é o astro que ilumina o nosso planeta na ausência do Sol. Esse satélite misterioso desde a aurora dos tempos é associado a sedução e a intuição feminina: renascimento da luz na escuridão. É consenso, porém, nas mitologias antigas ser a Lua morada de uma linda princesa enquanto esteve separada do amante, exilado aqui na Terra, já que ele foi reprovado na escola da vida. No Brasil, as lágrimas daquela princesa formaram o rio Amazonas e na China, sob a lenda de Chang'e, amparou uma garotinha superdotada após a morte precoce da mãe. O ambiente lunar onde vive, foi inspirado na capa do álbum clássico do Pink Floyd — The Dark Side of the Moon, cujos personagens mitológicos de lá são comparados à família da garotinha Fei Fei, a exemplo dos tios e amigos de Dorothy com os habitantes do mundo fantástico de OZ. Na trama de A Caminho da Lua, da Netflix, Fei Fei não aceita a nova madrasta com o filho dela em sua vida, cuja tristeza é semelhante à daquela soberana irritadiça enquanto não volta a reinar ao lado dos súditos lunarians que tanto a amam.
Apesar de a mitologia chinesa conter mensagens profundas nas camadas interiores, o francês Júlio Verne no século XIX trouxe uma visão científica e racional da Lua, amparado pela Revolução Industrial. Dessa forma, o segundo escritor mais traduzido do mundo descreveu a viagem até o nosso satélite natural através de uma bala de canhão gigante, desenvolvida por artilheiros do Gun-Club que deixaram de financiar guerras entre as nações para serem financiados por todas elas juntas, cujo projeto universal custou, na época, a bagatela de cinco milhões e meio de dólares para ser concluído. Da Terra à Lua foi adaptado para o cinema em 1958.
O outro pai da ficção científica na literatura, nascido quase meio século depois, foi H. G. Wells, cujo estilo peculiar e fantasioso é baseado geralmente numa sociedade eugenista em oposição à nossa. O escritor fez questão de elaborar a sua própria viagem em homenagem à obra original de Júlio Verne. Na trama de Os Primeiros Homens da Lua, publicada em 1901, um físico encontra um meio de anular a força da gravidade da Terra levando com ele dentro de um cubículo aconchegante um casal de namorados até a Lua. A espaçonave em forma de esfera na adaptação cinematográfica de 1964 lembra a bolha eletromagnética de Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985), inventada pelos personagens vividos por Ethan Hawke e River Phoenix, outro clássico da Sessão da Tarde.
No entanto, Georges Méliès, o pai da ficção científica no cinema, foi quem retratou ambos os clássicos literários pela primeira vez na telona, uma vez que o ilusionista francês inventou o cinema de trucagem em substituição às monótonas cenas cotidianas das primeiras películas exibidas em público. Em Viagem à Lua de 1902, seis astrônomos liderados pelo Professor Barbenfouillis (Méliès) entram num foguete lançado por um canhão de 300 metros de comprimento. Mas chegando lá, encontram-se com os selenitas (em homenagem à deusa grega da Lua Selene) que os obriga a retornar rapidamente ao planeta Terra onde são recepcionados como heróis.
Já no fim do cinema mudo, Fritz Lang exibiu antes da NASA a primeira contagem regressiva para o lançamento de um foguete de dois estágios até o espaço sideral com gravidade zero. O gênio do expressionismo alemão teve a ajuda fundamental do físico alemão Hermann Oberth antes dele ir trabalhar com a NASA. Na trama de A Mulher na Lua (1929), disponível no Youtube, Helius é um empreendedor com interesse em viagens espaciais após conhecer o Professor Mannfeldt que afirma ter ouro na Lua em abundância. Confiantes no estudo, eles partem para lá num foguete confortável ao lado de um casal de noivos e um espião escondido naquela espaçonave de combustível líquido.