10/10/2024 às 22h55min - Atualizada em 10/10/2024 às 22h55min

Quem é o monstro?

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

O mesmo diretor de Depois da Tempestade, Hirokazu Kore-eda, nos brinda com outra pérola do cinema japonês, cujo senso de justiça passa longe de Hollywood. Porém, grande parte dos méritos de Monster (2023), disponível no Telecine, é do roteirista vencedor da Palma de Ouro em Cannes, Yuji Sakamoto, ao induzir o telespectador ao erro com uma história não linear, cujos protagonistas são  vítimas do estamento burocrático. Segundo o diretor: a mãe é restringida por normas sociais enquanto o professor é oprimido pelo sistema escolar; já as crianças são afetadas pelo mundo violento dos adultos embora eventualmente consigam se libertar dele. É o caso da amizade entre Minato e Yori quando estão próximos à natureza e afastados dos adultos.
Já Entre os Muros da Escola (2008) se concentra apenas numa sala de aula da periferia de Paris, por isso o Prime Video optou pelo título traduzido do inglês. Nesse documentário multiétnico disfarçado de longa-metragem “A Classe” os adolescentes são todos amadores interpretando a si mesmos em diálogos improvisados; incluindo o professor François Bégaudeau, autor do livro homônimo adaptado para o cinema. Os primeiros nomes dos personagens foram mantidos, à exceção dos nomes dos alunos mais rebeldes, Khoumba e Souleymane, líderes daquela “batalha campal”, cuja diretoria precisou punir.
Os Rejeitados (2023) disponível no Prime Vídeo é uma mistura de Clube dos Cinco com o livro O apanhador no campo de centeio onde um professor pragmático, um aluno rebelde e uma cozinheira ainda em fase de luto acabam passando juntos as festas de fim de ano. O estudante Angus Tully (Dominic Sessa) foi rejeitado pela mãe após ela arrumar um novo namorado. O garoto de Barton teme ser expulso daquele internato pela terceira vez e ter que estudar num colégio militar, enlouquecendo como o pai. Já o professor Hunham (Paul Giamatti) é rejeitado pelos alunos de lá devido ao seu comportamento perante, falando frequentemente em latim com o objetivo de humilhar os menos esclarecidos. Por fim, a cozinheira-chefe Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph) tenta se livrar do álcool como aquele catedrático tradicional toma o mesmo antidepressivo do adolescente. Com comportamentos distintos eles descobrem aos poucos que têm muito em comum, aprendendo um com o outro a se livrar dos vícios, num característico final natalino.
Em Ficção Americana (2023) ou “Fuck”, disponível carinhosamente no Prime Vídeo, um professor rabugento, inspirado em Larry David da série Segura a Onda, é suspenso da universidade onde trabalha após confrontar-se com uma aluna militante. O motivo pelo qual a fez se retirar da sala revoltada foi o conto O Negro Artificial, de Flannery O'Connor (The Artificial Nigger), sobre o avô tentando provar ao neto o quanto é ignorante, quando, na verdade, o racista, preconceituoso e arrogante é o próprio avô, análogo aos progressistas, donos da verdade absoluta: satisfeitos com uma mentira confortável a uma verdade inconveniente. Nesse período de folga Monk (Jeffrey Wright) precisa pagar o asilo da mãe de modo a publicar um livro mal escrito de proposito em protesto aos estereótipos ofensivos criados pela indústria do entretenimento ao movimento negro: retratados sempre como criminosos mortos por policiais violentos na impossibilidade de ascender socialmente. Acontece que o livro se torna sucesso de vendas e o escritor acaba optando pelo pseudônimo de um ex-presidiário negro a fim de se disfarçar, impulsionando ainda mais as vendas. Apenas o Blue Label é bom, embora seja muito caro. Por isso, o apreciador de uísque acaba optando pelo Red Label ou pelo Black Label porque o objetivo dele, na verdade, é apenas ficar bêbado.

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