Denzel Washington vai parar com os filmes de ação?

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Os filmes de ação parecem estar com os dias contados para o astro de 68 anos; afinal todo mundo envelhece algum dia. Isso ficou evidente após O Protetor: Capítulo Final (2023), em razão do número reduzido de cenas de ação, apesar do novo trabalho dirigido por Antoine Fuqua estar no mesmo nível dos demais. Contudo, o último capítulo da aclamada trilogia foi o mais cristão de todos, já que o protagonista é evangélico pentecostal e membro da Igreja de Deus em Cristo Oeste de Los Angeles. Seu personagem baseado na série homônima de TV: The Equalizer, busca na medida do possível restaurar o equilíbrio nas comunidades por onde passa ao desfazer o caos e restaurar a ordem; tema recorrente em todas as religiões e mitologias antigas: a vitória do bem contra o mal. Robert McCall (Washington) era sargento de artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais antes de ingressar na CIA. Aquele cotidiano metódico na luta contra a desordem moral foi inspirado nos Dez Mandamentos da Cavalaria; assim como a fidelidade à Igreja no berço do catolicismo após proteger uma comunidade na Sicília contra a Camorra: organização criminosa filiada à máfia italiana. Retirar uma criança (Chloë Grace Moretz) da prostituição e um jovem pintor da vida bandida (Ashton Sanders) faz parte de outro importante mandamento; bem como ajudar um idoso a reencontrar a irmã desaparecida nos campos de extermínio desde a Segunda Guerra Mundial. Geralmente o patriota costuma atacar sem misericórdia quando o inimigo infiel menos espera, a exemplo do russo Vladimir Pushkin ou o antagonista que relativiza o bem e o mal, interpretado por Pedro Pascal. Outra peça fundamental em sua jornada heroica foram os parceiros contra o crime: a melhor amiga (Melissa Leo), o colega de trabalho da loja de material de construção e a jovem que desmantelou aquela organização criminosa italiana, vivida por Dakota Fanning. 
Essa dupla já havia trabalhado junta em Chamas da Vingança (2004) quando a excelente atriz-mirim tinha apenas 10 anos. Se Fuqua não estivesse ocupado com a produção de Rei Arthur teria formado um ótimo trio. Porém, essa missão ficou a cargo de Tony Scott devido à experiência com o galã de Maré Vermelha; posteriormente em Déjà Vu, O Sequestro do Mêtro 123 e Incontrolável, os últimos longas do mesmo diretor de Top Gun antes de se jogar da ponte. O roteiro foi baseado no romance de A. J. Quinnell e na refilmagem homônima de 1987, cujo visual arrojado foi inspirado em Cidade de Deus de Fernando Meirelles. Dessa vez, o agente da CIA é alcoólatra e com baixa autoestima, quando é contratado como guarda-costas de Lupita Martin Ramos (Dakota) na Cidade do México. A graciosa pequenina teria ofuscado um dos maiores atores de todos os tempos caso tivesse o mesmo tempo de tela que ele. Porém, o plano de vingança daquele fuzileiro naval bastante falho, acaba desvendando uma conspiração surpreendente ao nível dos cartéis mexicanos.
No entanto, a maior prova de fé desse cristão evangélico foi em O Livro de Eli (2010), disponível da BP Select, Prime Video e Netflix, cujo eremita invencível vagou por 30 anos no deserto apocalíptico, guiado pela voz de Deus, de modo a espalhar a Boa Nova contra um magnata a lá Andrew Carnegie. O globalista interpretado por Gary Oldman pretendia dominar a “Cidade dos Homens”: mistura de Velho Oeste e Mad Max; controlando água, comida e o conhecimento da população após queimar todos os livros; porque uma sociedade sem livros e religião é bem mais fácil de dominar. “Se toda a literatura se perdesse e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido” (Mahatma Gandhi). Além disso, aquele guerreiro sem armadura brilhante arranjou uma parceira fundamental (Mila Kunis) para manter vivo o seu legado divino, principalmente na “prisão” onde curiosamente existe ordem em oposição àquele caos escaldante a céu aberto.