​O Dia D para Spielberg e Tom Hanks

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

A Guerra do Vietnã era composta de hippies mimados, os quais foram obrigados pelo governo Kennedy a se alistar sob pena de prisão; a exemplo do boxeador Muhammad Ali. Na prática, não havia alvos claros tampouco objetivos definidos até a derrota humilhante para os Vietcongues, consolidada na década de 1970. Em oposição, na Segunda Guerra Mundial, o país contra-ataca o Japão com soldados voluntários e bem treinados, vindos da Grande Depressão: agradecidos em ter o que comer. Nesse sentido, inicia na década de 1990 o projeto de Steven Spielberg e Tom Hanks, baseado num caso real dos irmãos Niland, desmembrado em três minisséries, até agora.
O Resgate do Soldado Ryan (1998), disponível na Globoplay, foi considerado um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos, sobretudo nos 27 minutos iniciais, durante a batalha mais sangrenta da invasão à Normandia, na Praia de Omaha. Lá os aliados foram surpreendidos pela traiçoeira artilharia alemã, vinda de casamatas protegidas de relevo escarpado, manchando de vermelho aquele mar azul-celeste, repleto de ouriços tchecos dilacerantes. A Carta Bixby, escrita pelo presidente republicano Abraham Lincoln, motivou sete militares liderados pelo Capitão John H. Miller (Tom Hanks) a procurar o paraquedista James Francis Ryan (Matt Damon), o último sobrevivente de quatro irmãos mortos em combate. Uma das cenas mais dramáticas na cidade de Neuville foi protagonizada pelo jovem estreante Vin Diesel: a única de sua carreira cinematográfica até então. Por fim, a catarse decisiva na vila francesa de Ramelle homenageia o filme de 1959, A Ponte da Desilusão.
Ryan era, na verdade, o sargento Frederick Niland, conhecido da Companhia Easy na minissérie Band of Brothers (2001), da HBO, inspirada na  obra literária do historiador Stephen E. Ambrose de 1992. A jornada dos Irmãos de Guerra da 101.ª Divisão inicia com o “Assalto a Brecourt Manour”, ainda no Dia D; até a libertação da Holanda dos nazistas durante a Operação Market Garden. À noite, os paraquedistas invadiam o céu inimigo entre os cargueiros e a artilharia antiaérea que os iluminava como vagalumes. As baixas temperaturas na belíssima paisagem nevada da floresta das Ardenas foi o pior adversário dos americanos, antes de se embebedar por dois dias seguidos com os melhores vinhos do mundo no Ninho da Águia: a fortaleza de Hitler nos Alpes de Berchtesgaden. A minissérie revelou ainda: Tom Hardy, Michael Fassbender, James McAvoy e Simon Pegg para o cinema ao lado dos principais combatentes ainda vivos, em depoimentos emocionantes no início de cada capítulo. Augusta era o nome verdadeiro da enfermeira congolesa de Bastogne; ela sobreviveu àquela batalha, por isso viveu até 2015; assim como o soldado Albert Blithe após levar um tiro no ombro (e não no pescoço como foi mencionado no episódio), viveu até 1967.
The Pacific (2010) observa o lado físico e psicológico dos fuzileiros navais Leckie, Sledge e John Basilone nas batalhas pelo controle das ilhas de Guadalcanal, Iwo Jima e Okinawa. Quando não estavam lutando contra kamikazes honrados, aqueles jovens de família tinham tempo para namorar, ser preso por indisciplina ou morrer de malária ou disenteria na selva japonesa.
Mestres do Ar (2024), disponível na Apple TV Plus, encerra esta trilogia com chave de ouro, agora pelos céus de Berlim e Bremen com imagens deslumbrantes. Na trama, acompanhamos os aviadores inexperientes do 100.º batalhão comandado suas Fortalezas Voadoras B17, cuja tecnologia e a precisão de mira das potentes metralhadoras contra os ases alemães fizeram a diferença naquela guerra. A minissérie se divide entre os que voltaram ilesos das missões até a Inglaterra e aqueles capturados por nazistas ou salvos pelo Exército Vermelho; além dos Red Tails, os primeiros pilotos Afro-Americanos da Força Aérea dos Estados Unidos apesar de toda a discriminação racial imposta pelas leis Jim Crow (1876 a 1965), dentro e fora do exército, da marinha e da aeronáltica.