14/03/2024 às 23h34min - Atualizada em 14/03/2024 às 23h34min

Maestros

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Leonard Bernstein (1918 – 1990) foi o primeiro maestro nascido nos Estados Unidos a liderar uma grande orquestra sinfônica americana, dominada anteriormente apenas por alemães. O poliglota, filho de imigrantes judeus ucranianos, foi o diretor musical da Filarmônica de Nova York e regeu as principais orquestras ao redor do mundo, a partir de 1943 com apenas 25 anos. Além disso, Bernstein popularizou a música clássica ao aproximá-la dos jovens com o musical Um Dia em Nova York, estrelado por Frank Sinatra e Gene Kelly, e a adaptação moderna de Romeu e Julieta (Amor, Sublime Amor), refilmado por Steven Spielberg em 2021, que ao lado de Martin Scorsese produziu o longa-metragem da Netflix dirigido e protagonizado por Bradley Cooper. Contudo, Maestro (2023) perde um tempo precioso com os relacionamentos extraconjugais daquele musicista, quando deveria dar mais ênfase à sua carreira extraordinária: como, por exemplo, na trilha sonora de Sindicato de Ladrões, dirigido por Elias Kazan e Marlon Brando no elenco. “Você é homossexual e talvez nunca mude” — escreveu Felicia em carta ao marido, publicada em 2014 no livro” As cartas de Leonard Bernstein”. Mesmo traída com frequência, a esposa nunca o abandonou até a morte, em 1978, por câncer de mama metastático; interpretada brilhantemente por Carey Mulligan, sobretudo na parte final.
Lydia Tár, vivida pela magnífica Cate Blanchett, foi a primeira regente titular feminina da Filarmônica de Berlim. A discípula de Leonard Bernstein é um dos poucos mortais a ganhar o EGOT: Emmy, Grammy, Oscar e Tony. Certa feita, porém, um dos seus alunos pangênero da Juilliard School se recusa a tocar Bach devido do comportamento misógino do maior compositor de música erudita de todos os tempos, embora não veja problema algum em escutar as composições do seu ídolo racista e antisemita, Edgar Varèse: a típica condenação seletiva ao julgar o músico em vez da música; o artista em vez da arte. Essa cultura do cancelamento acabou vitimando a própria maestrina lésbica após o suicídio de uma das suas alunas, cujo processo judicial foi instaurado rapidamente após a promotoria descobrir que Lydia era egomaníaca e adúltera, pois, abusava psicologicamente e sexualmente delas; por isso a filha não a chamava de mãe na frente da companheira, Sharon Goodnow (Nina Hoss). O diretor Todd Field (de Pecados Íntimos) enganou a todos: dentro e fora das telonas, porque Tár (2022), disponível no Telecine, é, na verdade, uma personagem fictícia, cuja ambiguidade causa repulsa e admiração nas pessoas, tornando-a cada vez mais humana.
Damien Chazelle espantou Hollywood em Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) após conquistar três Oscars com apenas 29 anos. O ex-baterista de jazz da Princeton High School foi aluno de um professor abusivo antes de ser cineasta. Whiplash ou Chicotada é o nome da composição do saxofonista americano Hank Levy (1927 – 2001), conhecido pelos compassos ímpares de métrica incomum. Na trama, disponível no Prime Video, Neiman (Miles Teller) é um garoto tímido levando uma vida ordinária por não conseguir se relacionar com a família e os colegas do prestigioso conservatório Shaffer; até ele ser desafiado pelo exigente maestro Fletcher (JK Simmons) a deixar um legado como o de seu ídolo de infância, Buddy Rich. A partir daí, o baterista começa a encarar os adversários de frente, ensaiar como louco e namorar a garota mais bela de lá (Melissa Benoist) após tomar coragem e convidá-la para sair. Apesar do terror psicológico, aquele professor abusivo abriu caminho para o seu pupilo mais esforçado chegar à perfeição; o que quase lhe custou a vida, a exemplo do maestro brasileiro João Carlos Martins no filme: João, o Maestro.
Pitágoras foi considerado o pai da matemática e da música por inventar a escala musical, retratada na animação: Donald no País da Matemágica: “A matemática é o alfabeto no qual Deus escreveu o universo” — Galileu Galilei. Embora a música esteja em toda parte, só se pode ouvi-la bem com o coração, porque ela é invisível aos olhos. Em O Som do Coração (2007), disponível no Max, Evan Taylor (Freddie Highmore) vive num orfanato em Nova York, inspirado em Oliver Twist de Charles Dickens. Aquele garoto prodígio pretende encontrar os pais através da música, enquanto os colegas de quarto o chamam de louco por 10 anos. Ocorre que a bela violoncelista da Juilliard School Lyla Novacek (Keri Russell) e o cantor de rock Louis Connelly (Jonathan Rhys Meyers) nem sabem da sua existência. Porém, o chamado divino do filho pretende reuní-los para sempre, apesar de o “Feiticeiro” (Robin Williams) tentar mantê-lo nas ruas como integrante de um sindicato de artistas mirins com o intuito de lucrar com as  apresentações daquele superdotado.

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