25/04/2024 às 23h01min - Atualizada em 25/04/2024 às 23h01min

‘Dia de Trabalho’ duro e pesado

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Pouco antes de iniciar os Jogos Olímpicos de Tokyo, Wim Wenders, o mesmo diretor de “Asas do Desejo” e “Paris, Texas”, foi contratado para fazer um documentário sobre os banheiros públicos impecáveis do Japão, mas acabou produzindo um longa-metragem magnífico sobre o mesmo tema, indicado ao Oscar de Melhor Filme de língua Estrangeira, cujo roteiro de “Dias Perfeitos (2023)” levou apenas três semanas para ser escrito e 17 dias para ser filmado, baseado na rotina de um monge perfeccionista.
Na trama, Hirayama (Kōji Yakusho) era um industrial rico de família rica, até virar alcoólatra e perder tudo. A partir daí, o taciturno abandonou aquela vida materialista para dar valor às pequenas coisas: registradas em sua câmera fotográfica analógica dos anos oitenta. O morador de Shibuya, Tokyo, começou então a limpar banheiros públicos diariamente, unido aos primeiros raios de sol alimentando seu rosto com as canções preferidas, gravadas nas fitas K7 do seu carro: para uma leitura revigorante antes de dormir. Esse ritual monástico, deu-lhe sentido à vida, a fim de conhecer a si mesmo apenas com o necessário e o lado bom da vida ao seu lado.
Após o excelente Eu, Daniel Blake, sobre uma batalha individual contra o estamento burocrático, Ken Loach repete a dose ainda mais intimista. Em “Você Não Estava Aqui (2019)”, disponível no MUBI, Rick Turner (Kris Hitchen) é um pai de família falido durante a crise financeira de 2008, até abrir o próprio negócio dirigindo uma Van pelo trânsito caótico do norte da Inglaterra. No entanto, após integrar uma franquia de entregas diárias, focada em resultados práticos, acaba pressionado pelo patrão 14 horas por dia, como Tom Hanks, em Náufrago. Ricky ainda tem de lidar com as rebeldias criminosas do filho adolescente, mesmo amparado pelos competentes agentes do estado Britânico à sua disposição. Em contrapartida, temos a filha caçula exemplar, auxiliando a mãe nos afazeres de casa, enquanto ela cuida de idosos e pessoas com deficiência.
Baseado na babá do diretor Alfonso Cuarón: Cleodegaria (Yalitza Aparicio) é ao mesmo tempo, governanta, babá e faxineira de uma família de classe média alta do bairro Colonia Roma, na Cidade do México; ambientado a partir das festas de fim de ano de 1970. A indígena era tratada como um membro da família pela patroa (Marina de Tavira), cujos quatro filhos em idade escolar passavam a maior parte do tempo com ela. Cleo precisava estar disposta todos os dias para caminhar pela casa apressadamente; cuidar do cachorro e subir centenas de degraus. À noite, antes de dormir, ainda tinha fôlego para conseguir se exercitar, acompanhada da cozinheira e amiga. Do lado de fora, um longo plano-sequência engrandece a agitação no centro como na periferia — mesmo sem ter sido asfaltada pelo governo. De fato, a fotografia em preto e branco embeleza cada canto daquela cidade: a mata consumida pelo fogo; o fim de semana numa praia quase vazia e o Massacre de Corpus Christi quando soldados mexicanos treinados pela CIA reprimiram o protesto de estudantes treinados em artes marciais, provocando a morte de 120 pessoas.
Após o multipremiado “Roma (2018)”, da Netflix, o novo escolhido do México para concorrer ao Oscar foi “A Camareira (2018)”. Dessa vez, a diretora estreante, Lila Avilés, retrata o cotidiano desgastante de uma arrumadeira tímida num hotel de luxo mexicano. Eve (Gabriela Cartol) é uma jovem mãe solteira dedicada e obediente que labuta com abnegação e afinco sem reclamar até dos vendedores chatos de corredores. Uma aula de como se deve limpar um cômodo: esfregar, esfregar diversas vezes, com força e atenção; além de arrumar as camas com destreza até aquele quarto ficar impecável para o próximo hóspede se hospedar.

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