18/04/2024 às 23h11min - Atualizada em 18/04/2024 às 23h11min

O bom e o mau jornalismo

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Não foi à toa que Guerra Civil (2024), de Alex Garland estreou em 12 de abril apenas nos EUA e no Reino Unido, há exatamente 163 anos do início da Guerra de Secessão Americana (1861 a 1865): uma semana antes de estrear nos cinemas do Brasil e do resto do mundo. No entanto, o conflito ficou em segundo plano para o cineasta poder destacar a atuação inescrupulosa da velha imprensa, com direito a circular através das zonas de conflito à frente inclusive dos militares. O Road Movie de Nova York até a Casa Branca: no Coração Das Trevas, adota um tom sério e angustiante — como nas cenas ultra-violentas amplificadas pelos efeitos sonoros dignos de Oscar, semelhante à “Filhos da Esperança”. Isso até o ator Jesse Plemons roubar a cena ao reprisar seu personagem hilário em A Noite do Jogo, encarnado agora num militar à serviço de um ditador com apoio do Texas e da Califórnia. Enquanto isso, Kirsten Dunst — sua esposa na vida real — vive uma fotógrafa de guerra, cujo desgaste aparece estampado na face. Ao contrário do parceiro sarcástico de sorriso maroto (Wagner Moura), a quem se adequa àquela realidade corrupta perfeitamente; aliado a uma jovem oportunista (Cailee Spaeny), capaz de tudo para se dar bem na profissão, a exemplo de O Abutre, vivido por Jake Gyllenhaal.
O jornalista investigativo Michael Finkel (Jonah Hill) tinha acabado de ser despedido do Jornal New York Times por distorcer a verdade, a fim de incorporá-la à sua matéria, quando um presidiário se passa por ele. Christian Longo foi o personagem mais desprezível de James Franco em razão do interesse em escrever um livro de memórias, usando uma narrativa sofisticada para sensibilizar leitores e jurados, confundindo-os com a realidade dos fatos. Porém, o seu discurso refinado no tribunal ganha apenas a admiração daquele repórter ambicioso que o instruiu, com quem se fala até hoje pelo menos uma vez por mês na prisão; apesar da esposa Jill (Felicity Jones) sentir nojo daquele psicopata. A História Verdadeira (2015), disponível na BP Select, se tornou um best-seller homônimo, por isso Michael Finkel teve o emprego de volta, sem a mesma paz de espírito por ter dado voz e fama àquele criminoso, além de ter violado a ética do ­jornalismo.
Spotlight: Segredos Revelados (2015), disponível no Prime Vídeo, é um departamento específico direcionado ao jornalismo investigativo do jornal The Boston Globe, cujas matérias são publicadas geralmente após um ano de pesquisa, inspirado no escândalo Watergate após dois anos de investigação. A equipe do intérprete de Michael Keaton, vencedora do Prêmio Pulitzer, era composta por jornalistas em dificuldades financeiras, vividos por Mark Ruffalo e Rachel McAdams, que ao invés de transcrever as matérias da agência Reuters preferiram “seguir o dinheiro” até a casa das vítimas e dos infratores, buscando depoimentos realistas e incômodos — ausente de sentimentalismo.
Apesar de as denúncias terem sido ignoradas em 1976 envolvendo 87 padres pedófilos da região, elas ganharam fôlego no limiar do século XXI chegando inclusive até o Brasil e a outros países, os quais ainda mantêm a fé no cristianismo e nas tradições da Igreja Católica.
Nesse sentido, o Tribunal de Lyon, na França, condenou em 16 de março de 2020 o ex-padre Bernard Preynat a cinco anos de prisão em regime fechado por violência sexual contra menores de idade, devido à influência do filme de François Ozon, Graças a Deus (2019), no Prime Video: “Eu não percebia o mal que causava aos meninos. Anos mais tarde, os pais me fizeram entender o mal que eu havia causado a seus filhos. Para mim, eram gestos de ternura” — justificou Preynat no julgamento. As setenta vítimas entre sete e 15 anos disseram que o pedófilo as obrigava a beijá-lo e acariciá-lo. De acordo com Preynat, os crimes ocorriam “todos os fins de semana durante acampamentos” entre 1971 e 1991. “Podiam ser quatro ou cinco meninos em uma semana” — confessou. A trama ambientada em 2015 destaca o executivo pai de cinco filhos, Alexandre Guérin, por denunciá-lo às autoridades — amparado numa Associação criada por ele e por outros dois ex-escoteiros bolinados também, os quais não perderam a fé em Cristo como na Igreja Católica.

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