09/11/2023 às 23h59min - Atualizada em 09/11/2023 às 23h59min

Rir ainda é o melhor remédio

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

O título interrogativo em português: Que Horas Eu Te Pego? (2023), na HBO Max, foi proposto com a intenção de relembrar uma das melhores comédias de todos os tempos (Quem Vai Ficar com Mary?) antes do advento do politicamente correto. Da mesma forma que o astro de Curtindo a Vida Adoidado não aparece aqui por acaso. Nesse sentido, Laird Becker (Matthew Broderick) tenta arranjar uma namorada de aluguel ao filho de 19 anos antes dele ingressar na faculdade; porém, a escolhida, sem ele saber, foi uma bela motorista de Uber de 32 anos após perder o carro. A primeira hora cumpre seu papel como uma autêntica comédia romântica dos anos 1990, graças ao excelente tom de comédia de Jennifer Lawrence em provocar gargalhadas de rolar no chão, somado à primeira cena de nudez frontal da carreira. É uma pena que a partir daí o diretor Gene Stupnitsky se rende a agenda Woke sofisticada, devido ao tom dramático  abrupto; bullying, preconceito e a moderna guerra cultural e sexual; ao mesmo tempo que o relacionamento perde a graça e o encanto inicial; principalmente a oportunidade do longa se tornar um clássico em definitivo.
É costume de Hollywood aproveitar os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro para refilmá-los do jeito americano, bem pior que o original, a exemplo de Oldboy — Dias de Vingança. No caso da película sueca com a maior bilheteria do país, baseado no romance homônimo de Fredrik Backman, aconteceu o contrário graças a Tom Hanks e ao filho Truman de 26 anos. Com mudanças mínimas onde a ideologia progressista se encaixa, sem cair no humor negro ou sentimentalismo, O Pior Vizinho do Mundo (2022), no Prime Video, valoriza o trabalhador mal-humorado à disposição da comunidade, sem tempo para morrer; contrariando àquele político bem-humorado que não soluciona os problemas da comunidade. Por isso, Chico Xavier morreu durante a comemoração do pentacampeonato mundial de futebol em 30 de junho de 2002. A versão americana é tão boa, ou melhor, que a sueca porque o namoro em flashback é mais bem aprofundado ao ignorar completamente a relação de “Um Homem Chamado Ove” com o pai, pois o motivo dele tirar a própria vida foi a morte da esposa, transformando-o num velho ranzinza e amargurado; igual ao síndico do cortiço na HQ do mestre Will Eisner: Um Contrato Com Deus. E Outras Histórias De Cortiço. Pedro era explosivo, mas não era perigoso. O perigo estava em Judas que sorria e beijava no rosto.
Woody Allen aproveitou a onda hippie dos anos 1970 e a sua vasta experiência no teatro para escrever e dirigir os maiores sucessos da carreira, estrelados por mulheres com quem se casou, sobre a cidade onde nasceu. Nem o escândalo sexual em 1992, fomentado pela ex-esposa Mia Farrow durante o processo de divórcio do casal, diminuiu a qualidade dos filmes. Além disso, o promotor abandonou o caso um ano depois, após o laudo médico concluir que a filha adotiva Dylan não havia sido abusada sexualmente por ninguém. Porém, a cultura do cancelamento através das redes sociais ressuscitou o caso duas décadas depois com o intuito de impedir que os trabalhos subsequentes do diretor chegassem ao cinema e ao serviço de streaming. Pelo fato de O Festival do Amor (2020) seguir o mesmo padrão dos anteriores, consegue ser uma das melhores comédias românticas desta década. Na trama, o crítico de cinema Mort Rifkin (Wallace Shawn), com as mesmas neuroses e anseios de Woody Allen, vai ao festival de San Sebastian na Espanha ao lado da esposa Sue (Gina Gershon), mesmo desconfiado de traição com o jovem cineasta francês, interpretado por Louis Garrel. Ocorre que é ele quem se apaixona pela médica local, a Dra. Jo Rojas (Elena Anaya), quando as suas neuroses se materializam em obras-primas, ao estilo de A Rosa Púrpura do Cairo. 
Channing Tatum estreia na direção, baseado no documentário Cão de Guerra: O Melhor Amigo do Soldado, o qual ele mesmo produziu. A relação entre os veteranos de guerra e os companheiros caninos, tanto no campo de batalha quanto na vida civil, foi a pedra angular para road movie, disponível na HBO Max: Dog — A Aventura de uma Vida (2022), enquanto a protagonista Lulu homenageia a cadela falecida do ator em decorrência de um câncer. Na trama, Jackson Briggs (Tatum) é um Ranger do Exército aposentado devido a uma lesão cerebral, apesar das inúmeras tentativas em voltar a ativa. Certa manhã, após a morte de um herói de guerra, ele é convocado para escoltar uma cadela militar com histórico de comportamento agressivo até o funeral de seu dono em Nogales, Arizona, pouco antes dela ser sacrificada. A ótima comédia — cada vez mais rara nesta década — não apela para o sentimentalismo melodramático, apenas reforça a grandeza desses anjos de quatro patas quando bem treinados para ajudar a nação corretamente, assim como K-9 — Um Policial Bom pra Cachorro, com James Belush.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.