01/03/2024 às 00h18min - Atualizada em 01/03/2024 às 00h18min

​“Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro.” (Talmud)

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Oskar Schindler (1908 – 1974) nasceu em Svitavy (Zwittau), Morávia, uma província da monarquia Austro-Húngara na época. Após a invasão alemã na Tchecoslováquia o industrial se filia ao partido nazista com o intuito de comercializar no mercado negro, uniformes poloneses, a fim de simular uma invasão falsa á Alemanha que justificasse a retaliação imediata, marcando o início da Segunda Guerra. Dessa forma, aquele oportunista se muda para a cidade de Cracóvia onde viviam 80 mil judeus para trabalhar á preço de banana na sua nova fábrica; cujas festas repletas de mulheres fogosas com vinho Romanée-Conti á vontade aos oficiais da SS foi o motivo principal para o fim do casamento com a sua resignada esposa, Emilie Schindler (Caroline Goodall). Porém, esses funcionários com visto de trabalho não foram mandados ao gueto murado de 16 quarteirões — sem acesso à comida e medicamentos — enquanto os campos de extermínio e trabalhos forçados não ficavam prontos. Foi aí que o empresário, interpretado por Liam Neeson, tomou consciência e quase caiu do cavalo ao testemunhar as atrocidades lideradas pelo comandante do campo de concentração de Płaszów, Amon Göth (Ralph Fiennes), onde Schindler montou uma filial com a intenção de alimentar seus empregados. A obra-prima de Steven Spielberg destaca ainda uma menininha de casaco vermelho em meio àquela multidão sofrida, de modo a simbolizar a grande virada moral daquele personagem real, em contraste com o preto e o branco documental da película premiada com 7 Oscars, incluindo melhor filme e melhor diretor. Roma Ligocka era prima de Roman Polanski; ao contrário de sua contraparte cinematográfica, sobreviveu à guerra para escrever “A garota do casaco vermelho: um livro de memórias”. Próximo ao fim da guerra, Schindler elaborou um plano brilhante para salvar 1200 judeus de padecer em Auschwitz, além de vender armamentos com defeito àqueles derrotados. Quando sua empresa foi a falência em 1945, o católico de origem étnica alemã perdeu toda fortuna, tendo que ser sustentado pelos mesmos 1200 judeus até a morte, aos 66 anos; enterrado no cemitério do Monte Sião, em Jerusalém, onde fica o Museu do Holocausto e o jardim dos justos entre as nações; ao lado do Capitão Hosenfeld, do diplomata brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas e do “Anjo de Hamburgo”, a paranaense Aracy Guimarães Rosa, eposa do famoso poeta mineiro.
Roman Polanski se recusou a dirigir A Lista de Schindler (1993), no Telecine, porque viveu no gueto de Cracóvia até os oito anos de idade, quando escapou no dia da liquidação, graças à ajuda de uma família católica. Sua mãe morreu em Auschwitz, mas o pai sobreviveu ao campo de Mauthausen, na Áustria; se reencontrando com Polanski após a guerra. Em 1969, a esposa de Polanski, Sharon Tate, mesmo grávida de oito meses, foi assassinada pela Família Manson. Em 1977, o diretor é condenado por fazer sexo com uma modelo de 13 anos durante uma sessão de fotos na casa de Jack Nicolson: “O que aconteceu com Polanski nunca foi um grande problema para mim” — relatou Samantha Geimer. “Eu nem sabia que era ilegal, que alguem poderia ser preso por isso. Estava bem e ainda estou”. “Ter constantemente que repetir que isso não foi um grande problema é um fardo terrível”.
Após a Trilogia do Apartamento, o cineasta pelas mãos de O Pianista (2002), disponível no Prime Video, retrata o Holocausto com maestria, finalmente; graças a sua experiência pessoal. No entanto, em vez de Cracóvia, o especialista em Chopin, vivido por Adrien Brody, quase morreu de fome e de sede na capital da Polônia, embora tenha tido muita sorte ao ser salvo três vezes em virtude do seu grande talento musical. Em 16 de agosto de 1942, Szpilman está prestes a ser transportados para o campo de extermínio de Treblinka como parte da Operação Reinhard, quando um fã da polícia nazista o reconhece, separando-o da sua família. A partir daí, o judeu-polonês se torna um trabalhador escravo desajeitado, até ser amparado por uma cantora durante o Levante do Gueto de Varsóvia, onde observa a heroica resistência judaica por uma janela indiscreta. Durante o recuo do exército alemão na ofensiva do Exército Vermelho, em janeiro de 1945, Władysław Szpilman é alimentado o suficiente pelo Capitão Wilm Hosenfeld (Thomas Kretschmann), fã de Chopin, até a chegada dos aliados soviéticos.
Por fim, em Uma Vida — A História de Nicholas Winton (2023), em exibição nos cinemas a partir de 14 de março, conhecemos “O Schindler Britânico”. Ao contrário do alemão, ficou conhecido apenas em 1988 após participar de um programa de TV, graças a esposa Grete (Lena Olin). Com a ocupação das tropas de Adolf Hitler na região norte da Tchecoslováquia — conhecida como Sudetos — milhares de famílias judaicas partiram aterrorizadas em direção à capital, Praga, em 1938, a fim de sobreviver mais algumas semanas. Enquanto isso, o empresário interpretado por Johnny Flynn com a ajuda da sua mãe (Helena Bonham Carter) e de amigos, apesar de toda burocracia, consegue transportar de trem 669 crianças até a Inglaterra para serem adotadas, enquanto as fronteiras não eram fechadas. A operação emocionante, ficou conhecida como Kindertransport. Sir Nicholas Winton (Anthony Hopkins) faleceu em 1.º de julho de 2015, aos 106 anos, enquanto descansava tranquilamente em sua cama.

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