06/10/2022 às 23h49min - Atualizada em 06/10/2022 às 23h49min

O Autêntico Senhor dos Anéis

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Para comemorar o Dia da Criança nada mais justo do que homenagear o Pai da Cultura Pop e a sua obra-prima, O Senhor dos Anéis (1954 – 1955), o quarto livro mais vendido do mundo, atrás de História em Duas Cidades (1859), Dom Quixote (1612) e da Bíblia. O Hobbit (1937) ficou em 7.º lugar. J. R. R. Tolkien (1892 – 1973) teve uma infância caótica e sofrida, análoga ao Herói das Mil Faces. O maior escritor do século XX nasceu em Bloemfontein, na África do Sul, e aos 3 anos mudou-se para a Inglaterra após a morte do pai, quando começou  de fato a sua jornada mitopoética. A vida rural em Sarehole, ao sul de Birmingham, inspirou o Condado dos Hobbits, um lugar arborizado onde Tolkien (2019), disponível no Star Plus, andava descalço em contato com a natureza, canalizando a energia da terra, de onde vieram as criaturinhas fantásticas, apegadas ao amável lar, ao trabalho manual e corriqueiro, a comida apetitosa, preparada com esmero, para dormir de barriga cheia numa cama aconchegante. A mãe católica, Mabel Suffield, após se converter em 1900, perdeu a ajuda financeira da família anglicana. Em homeschooling, o garoto esforçado aprendeu grego e latim com ela, sua maior inspiração, cujo sacrifício em alimentá-lo a deixou desnutrida, agravando a sua diabete aguda, sem tratamento na época, até a morte. Logo, o Padre jesuíta Francis Xavier Morgan (Colm Meaney) o aloja junto com o irmão na mansão de uma bondosa senhora, especializada em acolher órfãos, onde John Ronald Reuel Tolkien (Nicholas Hoult) conhece, Edith Bratt (Lily Collins), em 1908. Aos cuidados do padre disciplinador, o jovem de 16 anos ficou proibido de namorar a futura esposa protestante antes de completar os estudos, aos 21 anos. Em 1916, o marido da católica, convertida por ele, fez questão de participar da Batalha do Somme, na Primeira Guerra. Com 15 línguas na bagagem, incluindo o Esperanto, o soldado chega àquele ambiente macabro que inspirou Mordor, mas os companheiros leais do Front, inspiraram o amigo de Frodo (Elijah Wood), Sam (Sean Astin). Em 1930, o professor de Oxford e seu colega C. S. Lewis, de As Crônicas de Nárnia, que também participou da Grande Guerra, fundaram o Clube de Chá e Sociedade Barroviana (Inklings), a verdadeira Sociedade do Anel, onde travaram uma Guerra do Imaginário (2022) que está longe de terminar, disponível na BP Select, contra dois grandes e respeitáveis amigos, membros da Sociedade Fabiana. O filólogo britânico acreditava que o mito é a representação mais próxima da verdade imutável, enquanto a ciência é uma confrontação de hipóteses, em vez de uma finalidade. Por isso, a ficção deve moldar a nossa realidade, a exemplo do filme A Chegada, e da Trilogia Cósmica em homenagem a Tolkien, cujo romance literário virou até música da banda Iron Maiden: “Lewis critica o mito do progresso, o evolucionismo puramente material, imanente, desprovido de qualquer perspectiva transcendente, a técnica e a ciência como fins em si, a ciência sem alma, por assim dizer, que só se preocupa com a matéria, crendo que os fins justificam os meios, dominada que está por uma perspectiva puramente desenvolvimentista e evolucionista.” (Carlos Ribeiro Caldas Filho, doutor em Ciências da Religião). A Sociedade Fabiana, fundada pelo influente dramaturgo rousseauniano, Bernard Shaw, em 1893, cujo objetivo era fomentar a evolução progressiva da sociedade, rumo ao socialismo, simbolizada pelo lobo na pele de cordeiro, substituído mais tarde pela tartaruga por ter ficado evidente demais. Outro amigo do criador de O Senhor dos Anéis (2001 – 2003), membro daquela sociedade progressista, foi o pai do globalismo e do cientificismo que levou a fundação das Nações Unidas. As grandes obras literárias de H. G. Wells, fomentaram o uso mais sombrio da tecnologia, como a bomba nuclear e as guerras com bombardeios. A imaginação plasmada do autor de A Ilha do Dr. Moreau, traduzida em palavras, fez da ciência uma religião, transportando o Paraíso até a Terra onde a tecnologia acaba com o sofrimento dos homens. Em oposição a odisseia de Frodo, iniciada pelo chamamento do mago e profeta Gandalf (Ian McKellen), o único de coração puro, capaz de carregar aquele fardo pecaminoso (Um Anel) no bolso, análogo ao peso da cruz crística nas costas, inspirado no Anel de Giges e no Anel de Nibelungo, cobiçado pelo esquizofrênico, Gollum (Andy Serkis) que perde a sua identidade e vai de deformando proporcionalmente ao vício, obstinado na infinita fixação monoideística. Apesar dos inúmeros erros, o hobbit humilde conclui a sua missão evolutiva com louvor e sofrimento, acendendo a vida eterna celestial, ao lado dos elfos, longe dos afazeres errantes dos moradores do condado, apegados à matéria, agora sob a responsabilidade de Sam após constituir uma nova família. Aragorn (Viggo Mortensen) desceu à Mansão dos Mortos, munido da espada forjada pelos elfos que transcende entre os dois mundos, a fim de libertar aqueles espíritos sofredores, ligados à matéria. O casamento do Rei dos Homens com a elfa imortal, Arwen (Liv Tyler), representa a união do Cristo com a humanidade na Parábola das Dez Virgens, enquanto Nossa Senhora e Joana D'arc podem ser aplicadas a figura de Galadriel (Cate Blanchett) e Éowyn (Miranda Otto).

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