14/04/2022 às 22h23min - Atualizada em 14/04/2022 às 22h23min

É morrendo que se nasce para a vida eterna

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

A Páscoa primordial celebra a libertação do povo hebreu após 400 anos de escravidão. “Dos espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações. Mas, se era grande a sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da verdade e da vida. Consciente da superioridade de seus valores, nunca perdeu oportunidade de demonstrar a sua vaidosa aristocracia espiritual, mantendo-se pouco acessível à comunhão perfeita com as demais raças do orbe”. (A caminho da Luz, Emmanuel). “Hebreu” significa “povo do outro lado do rio”, o Rio Eufrates, que juntamente com o Rio Tigre, formam a Mesopotâmia, onde se localiza o Iraque atualmente. “Egito” em hebraico significa “estreiteza”, ou melhor, a prisão da matéria. Por volta do ano 1250 a.C, antes da décima praga, Moisés foi instruído por Deus a pedir que cada família hebraica sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais das portas com o seu sangue. O símbolo vermelho marcado nas casas poupou aqueles primogênitos da ira do Anjo da Morte. Por isso, Páscoa (Pessach) significa, pulo, passagem. O temor após a morte do único filho fez o faraó libertar aquele povo sofrido, dando início ao êxodo bíblico. Na última ceia de cativeiro egípcio, retratada em Os Dez Mandamentos, Moisés (Charlton Heston) pouco antes da meia-noite ao lado da família judaica, comeu carne de cordeiro, acompanhada de pão ázimo sem fermento, e ervas amargas, a fim de reviver a lembrança amarga da escravidão pela última vez. Esse ritual é comum até hoje. O profeta demorou 40 anos para atravessar o deserto do Sinai, morrendo pouco antes de entrar na Terra Prometida, Canaã. Jesus também foi testado no deserto, só que por 40 dias. O Príncipe do Egito era filho de Joquebede e Anrão, da tribo de Levi, nascido numa época em que o faraó determinou que fossem executados todos os filhos homens dos hebreus, de modo a impedir que aqueles escravos se multiplicassem. Essa política malthusiana é semelhante ao Holodomor, implantada por Stalin na Ucrânia, e a Política do Filho Único na China até 2016. A primeira psicografia que se tem notícia foi escrita diretamente na tábua sagrada. Os Dez Mandamentos se opunha à lei cívica da Torá, cujo objetivo era conter cerca de 3 milhões de israelitas que passaram a adorar um bezerro de ouro, ao invés do Deus único, na ausência do líder mediúnico que meditava no alto do Monte Sinai. As Leis de Deus são invariáveis, enquanto as de Moisés são apropriadas aos costumes e ao caráter daquele povo turbulento e indisciplinado. Apenas um Deus terrível era capaz de impressionar homens ignorantes. Infelizmente, ainda hoje seguimos mais as leis do olho por olho e dente por dente do que as Leis Divinas.
Os gregos também se uniram para derrotar o exército persa em maior número. A Pérsia invadiu os estados da Grécia continental em 492 a.C, mas foi forçada a se retirar após a derrota na Batalha de Maratona em 490 a.C. Em resposta, as cidades-Estados formaram a Liga Helênica em 481 a.C, liderada por Esparta. União que não acontecia desde a mítica da Guerra de Troia. Os dois filmes dirigidos por Zack Snyder em 2006 e 2014, retratam as batalhas de Maratona, Termópilas, Artemísio e Salamina entre a primeira e a segunda invasão persa. Uma das entradas cavernosas para o Hades, onde os descendentes de Hércules foram jantar naquela noite, é o desfiladeiro de Termópilas que une a Tessália à Beócia, a única rota de terra grande o suficiente para suportar qualquer tipo de tráfego significativo entre a Lócrida e a Tessália. Leônidas (Gerard Butler) defendeu até a morte a pátria com apenas 300 homens da sua guarda pessoal. Isso é Esparta! Os espartanos pareciam indestrutíveis até serem traídos pelo corcunda Ephialtes (Andrew Tiernan). Os 300 aniquilaram cerca de 20 mil soldados da tropa de Xerxes no período de três dias, enquanto Atenas derrotava a esquadra persa no Mar Egeu, graças a genial estratégia militar de Themistokles (Sullivan Stapleton) contra a frota inimiga, liderada pela grega amargurada, interpretada por Eva Green, que dá um show de sensualidade. 300: A Ascensão do Império, inicia com a morte do Rei Dario na Batalha de Maratona, provocando a ira do filho Xerxes (Rodrigo Santoro), antes da  transformação. Os 50 anos de paz que se seguiram após as vitórias gregas nas Guerras Greco-Persas pela segunda vez são conhecidos como a Idade de Ouro de Atenas. Contudo, em 146 a.C, a Macedônia foi anexada como uma província romana e o restante da Grécia tornou-se um protetorado romano. Ocorre que as revoluções internas, como a Revolta de Espártaco, e as constantes intrigas políticas entre patrícios e plebeus, enfraqueceram o senado, contrariado pela formação do Primeiro Triunvirato, em 60 a.C. Depois da Batalha de Farsalos, em 48 a.C, Júlio César auxilia Cleópatra a se consolidar como Rainha do Egito que disputava o trono com o irmão. Diferente da estonteante Cleópatra, interpretada por Elizabeth Taylor em 1963, a película em preto e branco do “rei dos filmes mudos”, Cecil B. DeMille, que também dirigiu duas versões de Os Dez Mandamentos, em 1923 e 1956, conta com a visita do rei da judeia, Herodes, aos pés da descendente de Ísis, interpretada pela belíssima Claudette Colbert em 1934. O romance histórico termina de forma trágica após o general ser assassinado na escadaria do Senado, em março de 44 a.C, por Brutus e os inimigos que lhe tramaram a ocorrência nefasta. A administração de Roma e o coração da rainha egípcia foram substituídos por Marco Antônio, membro do Segundo Triunvirato. Isso até ambos morrerem abraçados como Romeu e Julieta. Dessa forma, em 27 a.C, Otávio Augusto torna-se o primeiro e mais longevo imperador romano. Seu governo conservador e austero, esforçou-se para reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e da religião. O período conhecido como Pax Romana, finalizado após a morte de Marco Aurélio em 180 d.C, o último dos “Cinco Bons Imperadores’’, serviu de preparação para a atuação do Cristo.  
O Verbo imponente do temido Deus de Israel se fez carne e habitou entre nós. “Ele morreu por toda a humanidade, sofreu por todos nós” (Mel Gibson). Na passagem do inverno para a primavera, equivalente ao mês de abril sob o signo de Áries, o Cordeiro de Deus, símbolo da renovação, protagoniza o filme de Mel Gibson em 2004, desde a captura no Jardim das Oliveiras até a ressurreição. A belíssima fotografia destaca meia hora de setenta chibatadas agonizantes que dilaceraram a pele do profeta nazareno (James Caviezel), antes da crucificação no topo do Calvário ou Gólgota, que significa “caveira”. Enquanto isso, Caifás (Mattia Sbragia Yosef) se deliciava ao lado dos comparsas, misturados entre a angélica mãe de Jesus (Maia Morgenstern), a arrependida de Magdala (Monica Bellucci), o fiel apóstolo João (Hristo Jivkov), com apenas 16 anos, e a Santa Verônica (Sabrina Impacciatore), famosa por enxugar a face ensanguentada do Messias com o “Véu de Verônica”, enquanto Ele carregava uma cruz pela Via Dolorosa (não confundir com o Santo Sudário, de Turim). O que A Paixão de Cristo não mostrou, mas vale a pena ressaltar, é que o rabi querido apareceu primeiro para Maria Madalena após descer ao Inferno, a fim de resgatar Judas Iscariote. Por isso Ele não podia ser tocado naquela hora. A cortesã rejeitada pela sociedade judaica seguiu o exemplo de Moisés e Paulo de Tarso e libertou  sua alma corrompida por sete espíritos obsessores. A única meretriz de Israel trocou os pertences dourados e o conforto do suntuoso palacete pela companhia de aproximadamente 10 mil leprosos que habitavam o Vale dos Imundos em Jerusalém. “Em breve tempo, sua pele apresentava, igualmente, manchas violáceas e tristes da lepra. Sentindo-se ao termo de sua tarefa meritória, Maria de Magdala abandonou o vale, para ir ao encontro de seu círculo pessoal em Éfeso. Uma noite, atingiram o auge as profundas dores que sentia. Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava. Maria, no entanto, experimentava sensação de alívio. Foi quando viu Jesus aproximar-se, mais belo que nunca. Seu olhar tinha o reflexo do céu e o semblante trazia um júbilo indefinível. O Mestre estendeu-lhe as mãos e ela se prosternou, exclamando, como antigamente: - Senhor!... Jesus recolheu-a brandamente nos braços e murmurou: - Maria, já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te  espero aqui!” (Boa Nova, Humberto de Campos).

Os Dez Mandamentos (1956) - Nota: 4,5 
O Príncipe do Egito (1998) - Nota: 3,5 
300 (2006) - Nota: 4,0 
300: A Ascensão do Império (2014) - Nota: 2,5 
Cleópatra (1934) - Nota: 3,5 
Cleópatra (1963) - Nota: 3,5 
A Paixão de Cristo (2004) - Nota: 3,5 

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