​Sexo e carnaval no cinema

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

A Era de Ouro revelou as mais belas femme fatales do cinema, cujas cenas picantes acabaram sendo proibidas pela censura, uma dor de cabeça a mais á Alfred Hitchcock para finalizar com perfeição a cena do chuveiro de Psicose que quase não se realizou. Em 1971 o filme Laranja Mecânica foi censurado no Brasil de forma grotesca, porém, a versão integral sem cortes pode ser apreciada hoje em dia nas plataformas digitais, ao contrário da era dourada, cujas cenas sensuais nem chegaram a ser filmadas. Stanley Kubrick morreu aos 70 anos no dia 7 de março de 1999, cinco dias após entregar o corte final do seu último longa-metragem. De Olhos Bem Fechados, disponível na HBO Max, foi baseado na obra literária, Breve Romance de Sonho publicada em 1926. O escritor e psicanalista contemporâneo de Freud, Arthur Schnitzler, fantasia uma Viena prostituída do tempo dos duelos com sabre e armas de fogo. Já na adaptação cinematográfica a cidade decadente escolhida por Kubrick foi Nova York. Na trama, o andarilho Dr. Bill Harford (Tom Cruise) ronda na calada da noite o submundo nova-iorquino, desesperado para concretizar seus desejos sexuais mais primitivos. Em oposição à sinceridade da esposa Alice (Nicole Kidman) que lhe confessava todos os sonhos pornográficos dela ao acordar. Por esse motivo o médico enciumado entra de gaiato numa mansão pertencente a uma seita especializada em orgias e bacanais e acaba se tornando um entrave para os sócios misteriosos daquele lugar guardado a sete chaves. O evento erótico naquela sociedade secreta faz referência aos bailes de máscaras que inspirou a canção Masquerade do musical da Broadway, O Fantasma da Ópera. Essas comemorações promíscuas acontecem desde a antiga Babilônia, cujas fantasias simbolizam uma troca momentânea dos papéis na sociedade onde os escravos tomavam o lugar do rei, enquanto os bacanais romanos homenageavam o deus do vinho, Baco ou Dionísio para os gregos. Em 590 d.C, a Igreja Católica adaptou esse libertino baile à fantasia, denominando-o “carnis levale” (adeus à carne). O Carnaval popular que conhecemos hoje ocorre quarenta dias antes da Páscoa, pois a Quaresma demanda um ritual de penitência e purificação, análogo ao êxodo bíblico e ao teste realizado por Jesus no deserto, antes do Mestre iniciar a sua jornada rumo à ressurreição da carne. 
Com o fim da censura nos anos 1980, Kathleen Turner e William Hurt filmaram as cenas mais quentes, ambientadas no calor insuportável da Flórida. O jovem advogado Ned Racine ao lado da sua amante nua e suada, Matty Walker, estavam dispostos a dar o golpe no marido abastado dela, Edmund Walker (Richard Crenna). Matty estava obcecada em ficar rica sem trabalhar, a fim de curtir a vida na praia para sempre. Corpos Ardentes introduz a atriz e o diretor Lawrence Kasdan, inspirado em Pacto de Sangue e Fuga ao Passado. Uma das 100 estrelas mais sexy da história do cinema, nomeada pela revista Empire, preencheu aquela década republicana com os sucessos Tudo por uma Esmeralda (1984), Peggy Sue (1986) e A Guerra dos Roses (1989). Acontece que nos anos 1990, a "Viúva Negra” começou a sentir os sintomas de uma grave artrite reumatóide, inchou em razão dos medicamentos e começou a beber muito, sendo rebaixada a papéis pequenos e de pouca relevância na mídia. Em 2008, a atriz publicou a sua autobiografia, “Send Yourself Roses”, dando a volta por cima dez anos depois, ao lado do antigo parceiro Michael Douglas em “O Método Kominsky”, uma série bastante comentada da Netflix com 3 temporadas.
Hoje aos 76 anos, o ator foi o primeiro astro de Hollywood a se definir como viciado em sexo após ter sido flagrado traindo diversas vezes a ex-esposa, Diandra Luker. Logo após estrelar o sucesso Instinto Selvagem em 1992, Douglas decidiu se internar, e anos depois descobriu um câncer na garganta (HPV) em consequência do excesso de sexo oral. HPV é a abreviação em inglês para papilomavírus humano. Michael Kirk Douglas antes de se casar com Catherine Zeta-Jones no ano 2000 interpretou o gerente Tom Sanders, rival da sua ex-namorada Meredith (Demi Moore) em Assédio Sexual (1994). O astro foi companheiro de Kathleen Turner em A Guerra dos Roses e de outra “Viúva Negra” (Glenn Close) em Atração Fatal (1987). Catherine Tramell (Sharon Stone), a loira manipuladora de coque no cabelo foi inspirada em Madeleine Elster de Um Corpo que Cai, cuja bela residência à beira-mar localizada em Carmel Highlands na Califórnia é para se admirar e causar vertigem, lembrando outros clássicos do mestre do suspense. Após O Vingador do Futuro, Paul Verhoeven deu uma oportunidade dourada a atriz, transformando-a na Femme Fatalle mais conhecida dos anos 1990 pela famosa cruzada de pernas sem calcinha. A protagonista de Instinto Selvagem aos 63 anos escolhe muito bem seus papéis até hoje, interpretando geralmente uma vilã ambígua e sensual, o que lhe rendeu o Globo de Ouro em Cassino (1995), ao contrário de Demi Moore, esquecida há mais de 20 anos. Sharon é mãe de três meninos adotados após dois abortos espontâneos consecutivos, ambos no quinto mês de gestação. Em 2001 a atriz no auge da carreira foi vítima de um aneurisma e escapou por pouco da morte. Sua recuperação levou sete anos tendo que reaprender a andar, a falar e a ler. 
Aos jovens de hoje que tem como referência a trilogia sadomasoquista Cinquenta Tons de Cinza, baseado numa literatura vulgar, deveriam pesquisar as origens da franquia na longínqua década de 1980. Kim Basinger ficou conhecida como par romântico do eterno 007 Sean Connery em Nunca Mais Outra Vez (1983), o que levou a bond girl a contracenar com Mickey Rourke três anos depois. Nascia aí dois símbolos sexuais em um dos longas mais copiados de todos os tempos. 9 1/2 Semanas de Amor fomenta brincadeiras sexuais que aguçam o olfato e o paladar humano com comidas deliciosas, saudáveis e coloridas num cenário paradisíaco com vista para o mar. As cenas de sexo na trilha sonora composta por Joe Cocker (You Can Leave Your Hat On) sugerindo um striptease,  transformou-se num divisor de águas para a setima arte. A cena dos corpos molhados do casal romântico num beco escuro sob a luz do luar, virou referência aos dançarinos, sobretudo aos iniciantes de pole dance que também adoraram Flashdance, outro clássico oitentista. 
Daniel Craig, o último James Bond ficou expressamente proibido pela  ditadura do politicamente correto na última década a galantear mulheres, cuja finalidade era rebaixar a figura masculina, principalmente as últimas bond girls Léa Seydoux, Ana de Armas e Monica Bellucci, uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos até hoje. No caso da atriz francesa Léa Seydoux o jeito de convencer aquela censura totalitária foi interpretar uma femme fatale lésbica em 2013 que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes, além de melhor filme e melhor atriz á Adèle Exarchopoulos, a atriz mais jovem a receber o prêmio aos 19 anos, uma das maiores revelações do cinema naquela década perdida. O longa francês de drama “coming of age” foi baseado na Graphic Novel de Julie Maroh, narrado em flashbacks, a partir das anotações do diário da adolescente Clémentine, descrevendo sua aventura sexual com a parceira Emma. O romance gráfico “Le bleu est une couleur chaude” conta com um ótimo roteiro ilustrado em cores suaves, à exceção do azul, a cor mais quente, enquanto o longa francês do polêmico Abdellatif Kechiche acontece de forma linear. Em “La Vie d'Adèle – Chapitres 1 & 2”, a aspirante de professora Adèle (Adèle Exarchopoulos) está se descobrindo na política e no amor, a fim de cursar a nobre profissão do futuro ao se encantar pela misteriosa jovem extrovertida de cabelo azul, Emma, (Léa Seydoux) mais experiente do que ela. O longa de 3 horas com destaque a sequencia de sexo explícito de 12 minutos, foca nas expressões em close da bela estudante, passando toda a angústia natural de uma adolescente tímida e indecisa.

De Olhos Bem Fechados (1999) - Nota: 5,0 
Corpos Ardentes (1981) - Nota: 4,5 
Instinto Selvagem (1992) - Nota: 4,5 
9 1/2 Semanas de Amor(1986) - Nota: 4,0 
Azul é a Cor Mais Quente (2013) - Nota: 5,0