10/02/2022 às 22h54min - Atualizada em 10/02/2022 às 22h54min

​Caça-Fantasmas e assombrações do passado

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Os Caça-Fantasmas de 1984 colocaram em prática o que Chico Xavier revelou no programa Pinga Fogo em 1971: “E nós estamos no limiar de tempos novos em que a Ciência descortinará para nós todos um futuro imenso diante do Universo. Então, será necessário esperar que a Ciência possa compreender e interpretar para nós outros, os filhos da Terra, a vida em outras dimensões, outros campos vibratórios”. Peter, Raymond e Egon, vividos Bill Murray, Dan Aykroyd e o falecido Harold Ramis eram professores universitários de parapsicologia desempregados que decidiram montar seu negócio próprio com a ajuda de Winston Zeddmore (Ernie Hudson), mistura de bombeiro e polícia, cujo objetivo era restabelecer a ordem na cidade de Nova York. Os fantasmas simbolizam nossos instintos mais primitivos, por isso os primeiros alvos dos espíritos zombeteiros foi uma biblioteca e um restaurante de modo a eliminar todo conhecimento e o sustento da população, a fim dominá-la com mais facilidade, inspirados em Stalin que matou todos os padres ortodoxos da URSS, destruiu a literatura clássica, além de matar de fome 10 milhões de ucranianos durante o Holocausto Comunista. Ao contrário do remake de 2016 na Netflix, que visava apenas menosprezar a figura masculina ao invés de conhecerem a si mesmas. Uma chata guerra dos sexos com piadas apáticas, a maioria sobre impotência sexual que pouco acrescentaram a trama lacradora e sem criatividade, invertendo apenas o sexo dos protagonistas. Com exceção as performances musicais de Chris Hemsworth, Kate McKinnon e o show de rock com participação de Ozzy Osbourne, apesar da discriminação ao gênero musical. Ciente da revolta dos fãs, o diretor do longa original Ivan Reitman ao lado do filho Jason pensaram numa continuação nostálgica que estreou cinco anos depois, ao estilo Stranger Things. Ghostbusters: Mais Além, tenta voltar quarenta anos no tempo até uma cidadezinha onde não pega celular e os carros ainda são “banheiras retangulares”. Em Summerville, Oklahoma, a filha de Egon, interpretada por Carrie Coon, herda a fazenda do pai enquanto fenômenos sobrenaturais acontecem. Sem perder tempo, Phoebe (Mckenna Grace) desenferruja o equipamento do falecido avô com a ajuda do hilário colega “podcast” (Logan Kim), o irmão Trevor (Finn Wolfhard, de Stranger Things) e o professor desnaturado Gary (Paul Rudd) que almeja ser um cientista de verdade. Ghostbusters: Mais Além, em cartaz no cinema, emociona pelo respeito ao original, por isso terá vida longa no coração dos fãs, enquanto a versão original está disponível na BP Select. 
Eloise Turner (Thomasin McKenzie) ganha uma bolsa de estudos para cursar design de moda na promíscua região central de Londres. A gata-borralheira antes de se tornar  Cinderela acaba num quarto individual, cuja proprietária é uma velha rabugenta (a falecida bond girl Diana Rigg) que cobrava caro demais. No entanto, a bela estudante do interior faz uma súbita viagem astral até 1965 durante a exibição do filme 007 Contra a Chantagem Atômica nos cinemas de lá, ao estilo Meia Noite em Paris, Em Algum Lugar do Passado e A Máquina do Tempo. Além disso, a admiradora daquela época glamourosa assume o corpo da sua cantora favorita, Sandie (Anya Taylor-Joy) enquanto observa o reflexo da própria imagem no espelho da boate Café de Paris, do mesmo modo que enxerga a mãe falecida através dos seus dons mediúnicos. Ocorre que esses desdobramentos constantes colocam-na em contato com espíritos trevosos apegados à matéria, ansiosos para a garota sensitiva solucionar um mistério que os atormenta há mais de meio século, só assim descansarão em paz nas dimensões superiores. Noite Passada em Soho é outro trabalho original do diretor Edgar Wright, cheio de reviravoltas, mistura do terror psicológico italiano de Mario Bava e Dario Argento com um ótimo suspense hitchcockiano visto em Interlúdio e Psicose. Nasce Uma Estrela na Cidade dos Sonhos às avessas. 
Venom é um parasita que vampiriza as energias psicofísicas dos hospedeiros, obrigando-os a comer o dobro de modo a alimentá-lo também. O típico diabinho que inferniza a consciência da vítima até a possessão espiritual completa. Nesta sequência mais infantilizada e galhofa, a afinidade entre Eddie Brock (Tom Hardy) e o simbionte chega ao nível de um casal romântico, trazendo bons diálogos com cenas ridículas e sem nexo, principalmente na hora da balada. Venom - Tempo de Carnificina é divertido, mas não tem carnificina alguma tampouco um roteiro coerente, apesar de Woody Harrelson está excelente na pele do louco psicótico apaixonado Cletus Kasady. A ótima cena final na igreja lembra a animação do Homem-Aranha de 1994 que passava na Globo na hora do almoço.
O forasteiro ambicioso Stanton Carlisle  (Bradley Cooper) invade uma feira repleta de bizarrices, fraudes e aberrações, análogo ao O Gabinete do Dr. Caligari e O Homem Elefante ou O  Maior Espetáculo da Terra, promovido pelo Rei do Show, P.T. Barnum (Hugh Jackman), ainda em cartaz no circo Ringling Bros. O andarilho errante após a morte dos pais começa a fazer pequenos bicos, interessado em descobrir o código dos charlatões Zeena (Toni Collette) e Pete (David Strathairn) de modo a iludir a plateia ingênua com frases de efeito genéricas, falácias e ilações. De objetivo cumprido e a alma corrompida, Stan se muda para Nova York, casando-se com a garota mais bela daquela feira, disposto agora a enganar a elite e faturar ainda mais. A espetacular direção de arte no novo trabalho noir de Guillermo del Toro, O Beco do Pesadelo, remake do clássico: O Beco das Almas Perdidas, conta com um elenco de peso, identificado pelo figurino do início da Segunda Guerra. Molly (Rooney Mara) é uma garota independente que não se submeteu no final ao marido mau-caráter e totalmente lúcido, em oposição a versão de 1947 que apesar do roteiro objetivo recompensa a criminalidade do bêbado com um final feliz ao lado da esposa submissa que cura sua loucura. O símbolo do tarô com o triângulo voltado para baixo ao invés do plano espiritual acima, indicava desde o início o caráter materialista do golpista que pagou na mesma moeda após ser seduzido pela “deusa adorada na babilônia", Lilith Ritter (Cate Blanchett), caindo na desgraça.
Enquanto isso, um marinheiro hedonista celebra o final da Segunda Guerra com lágrimas de crocodilo. Igualmente sem o amparo dos pais perturbados e da namorada ausente, Freddie Quell (Joaquin Phoenix) se torna em pouco tempo um andarilho viciado em sexo e bebida, até ser acolhido pela “Causa”. A seita de métodos duvidosos, dogmas e controle rigoroso dos membros é comandada pelo Mestre, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman) e sua esposa, Peggy (Amy Adams), inspirada na Cientologia criada pelo norte-americano L. Ron Hubbard, da qual Tom Cruise, Juliette Lewis, Priscilla Presley, John Travolta e Kirstie Alley fazem parte. A solução imediata para um selvagem indomável, desnorteado.  Destaque a bateria de perguntas, cujo entrevistado não pode piscar de modo a evitar a mentira, indicando a ausência de arrependimento na vida de Fred. Já a terapia de vidas passadas é um método perigoso que pode causar traumas em vez de curá-los. No final das contas apesar do fotografo buscar uma nova família seu desejo era permanecer na antiga zona de conforto à margem da sociedade, rodeado de bebida e prostituição a vontade. O Eterno Retorno ou Roda da Fortuna de que também foi vítima o órfão oportunista Stanton Carlisle.

Ghostbusters: Mais Além (2021) - Nota: 4,5 
Noite Passada em Soho (2021) - Nota: 4,5 
Venom - Tempo de Carnificina (2021) - Nota: 2,0 
O Beco do Pesadelo (2021) - Nota: 4,0 
O Mestre (2012) - Nota: 4,0 

 

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