07/10/2021 às 23h12min - Atualizada em 07/10/2021 às 23h13min

“Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus”

O Jardim Secreto assemelha-se ao Fruto Proibido devido ao seu caráter especial e por estar separado dos demais, instigando as mentes infantis a solucionar o mistério, de modo a cultivar o jardim diariamente com muito esmero. A metáfora pode servir ao Jardim do Éden, ao planeta Terra ou a um singelo presépio coordenado por São Francisco de Assis, assim como nossa vida interior. Na trama ambientada no início do século XX, a indiana Mary Lennox após a morte dos pais sai da terra natal e vai morar numa linda casa de campo na Inglaterra com o depressivo tio Craven, seu único herdeiro legal que perdeu a esposa recentemente. A garotinha de 10 anos, geniosa e emburrada, encontra muita dificuldade em se adaptar ao novo lar, mas com o tempo, descobre a alegria de viver ao fazer novas amizades, entretendo-se e cuidando com esmero daquele misterioso jardim escondido há 10 anos. A atitude positiva contagiou o primo Colin que estava condenado a viver eternamente numa cama após seguir as ordens ultrapassadas do médico da família, ao invés de se exercitar diariamente como ensinava o patrono nas paralimpíadas, Ludwig Guttmann. O best-seller escrito em 1910 por Frances Hodgson Burnett prende o leitor numa riqueza de detalhes impressionante, desde os pântanos no caminho da mansão Misselthwaite até o jardim mitológico, ansioso para ser descortinado pela chave sagrada. A primeira versão de 1949 em preto e branco é fiel e surpreendente, lembrando a emoção de Dorothy ao desembarcar no mundo mágico de Oz. Na televisão, a melhor versão é sem dúvida a de 1987, filmada na mansão e no parque que décadas mais tarde viriam a ser utilizados na série Downton Abbey. Enquanto a versão de 1993, no Telecine, produzida por Francis Ford Coppola, tornou-se a versão definitiva do cinema ao capturar a mensagem que a autora britânica quiz passar através do seu romance literário. Por fim, o longa homônimo de 2020 disponível na HBO ao invés de copiar as anteriores, preferiu inovar usando avançada tecnologia digital que transformou o jardim de Yorkshire em um mundo mágico e milagroso com pouca fidelidade literária e profundidade filosófica. Entretanto, o recurso foi válido e agregador depois de tantas versões apresentadas pela mídia. Família Addams de senso de humor irônico e mórbido, originária das tiras de quadrinhos de Charles Addams nos anos 1930, é uma inversão satírica da família americana ideal, encaixando-se perfeitamente em nossa sociedade atual, politicamente correta. Na trama, a pré-adolescente superdotada Wandinha (Chloë Grace Moretz) em destaque novamente está inconformada após ter sido obrigada pela professora a socializar com os demais concorrentes o seu prêmio conquistado com louvor na feira de ciências do colégio. Essa política assistencialista que impede a competitividade entre os alunos, desmotiva-os de estudar, criar e aprender, levando o ensino ao fundo do poço. A Família Addams 2: Pé na Estrada, começa com um roadmovie pelos EUA proposto por Gomez (Oscar Isaac) e Morticia (Charlize Theron) e termina numa espécie de laboratório do Dr. Moreau. A animação estreia nos cinemas em 28 de outubro. He-Man e os Mestres do Universo, que estreou em 16 de setembro de 2021 pela Netflix, mostra as origens dos personagens principais com um design futurístico em CGI, capturando a essência da série dos anos 1980. Teela em vez de capitã da guarda real herdou os dons mediúnicos da mãe, enquanto Duncan é apenas um jovem aprendiz dos capangas do Esqueleto, ou melhor, do irmão ciumento do Rei Randor. Keldor está desaparecido na floresta com seu sobrinho Adam, o único de coração puro capaz de empunhar a Espada do Poder de Grayskull. Essa primeira temporada com 10 capítulos homenageia as mini-histórias em quadrinhos agregadas aos colecionáveis bonecos da Mattel há 40 anos. He-Man antes da série original estrear na TV em 1983 era um bárbaro sem poderes mágicos que pertencia a uma tribo da floresta, a exemplo de Conan, enquanto o He-man em 3D executa golpes especiais ao estilo Street Fighter II, amparado por um roteiro divertido e instrutivo somado a uma fantástica mitologia histórica que complementa a animação de 2002. Em oposição a série Mestres do Universo: Salvando Eternia, também da Netflix, preocupada apenas em lacrar, destruir o Cristianismo e a figura masculina, usando piadas superficiais em excesso e dramalhões psicológicos caducos. Alice e Peter são duas crianças que evitam crescer a fim de desfrutar o máximo possível do seu País das Maravilhas, escapando da dura realidade em que os pais se encontram. Angelina Jolie, que sempre interpretou mulheres fortes, ativas e independentes, vive dessa vez uma dona de casa passiva de olhar melancólico e cansado que sofre calada ao invés de tentar sair da sua zona de conforto para ajudar o marido (David Oyelowo, de Interestelar), um excepcional artesão que costuma perder prazos de entrega fundamentais e acumular dívidas astronômicas. Alice e Peter — Onde Nascem os Sonhos, disponível no Now, retrata a tendenciosa Pedagogia do Oprimido, relativizando os erros do oprimido com ênfase na crueldade do opressor, exclusivamente da alta sociedade. A única solução encontrada pela mesma diretora de O Príncipe do Egito, Brenda Chapman, é a vítima roubar toda a fortuna do credor, tornando-se um aclamado herói dos contos de fadas. A bela fotografia do interior da Inglaterra no início do século XIX não esconde a direção confusa que mistura sonho e realidade, o que pode desagradar tanto adultos quanto crianças. Enquanto O Menino Que Queria Ser Rei, passa uma mensagem oposta, retratando as virtudes e defeitos infanto-juvenis sem politicagem, pieguice e maniqueísmos. Na trama, o pré-adolescente acima do peso, Alex (Louis Serkis) acompanhado do melhor amigo, Bedders (Dean Chaumoo) retira despretensiosamente a famosa espada Excalibur de uma pedra em um canteiro abandonado. Ao executar a incrível proeza antológica, o garoto é designado por Merlin, ora disfarçado de aluno novo (Angus Imrie), ora na forma original, interpretado por Patrick Stewart, cuja missão é recrutar os fiéis Cavaleiros da Távola Redonda encarnados em um casal de corriqueiros bulliers (Tom Taylor e Rhianna Dorris) a fim de combater a feiticeira Morgana (Rebecca Ferguson) e seus asseclas flamejantes, ao estilo do exército de zumbis comandado pelo Rei da Noite em Game of Thrones. Um longa simples e divertido com excelentes efeitos especiais, ideal para comemorar o Dia da Criança. O Jardim Secreto (2020) - Nota: 3,5 A Família Addams 2: Pé na Estrada (2021) - Nota: 2,5 He-Man e os Mestres do Universo (2021) - Nota: 3,5 Alice e Peter — Onde Nascem os Sonhos (2021) - Nota: 2,0 O Menino Que Queria Ser Rei (2019) - Nota: 3,5


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