11/02/2021 às 22h30min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h19min

Um sonoro adeus musicalizado ao marido da Noviça Rebelde

The hills are alive with the sound of music / With songs they have sung for a thousand years / The hills fill my heart with the sound of music / My heart wants to sing every song it hears. O sentimento de respirar o ar puro das montanhas e cantar livremente as canções que vem do coração ao invés de permanecer enclausurada decorando rezas da boca para fora, divide o coração da aspirante de freira, interpretada por Julie Andrews. Sabendo disso, a sábia Reverenda Madre, da abadia de Nonnberg, na Salzburgo de 1938, a enviou para uma casa de campo, a fim de espairecer como governanta dos sete filhos do rígido oficial naval aposentado Capitão von Trapp (Christopher Plummer), que perdeu alegria de cantar em razão da morte da esposa, descontando toda sua amargura nos pupilos, através de um mecânico apito como se fossem animais. Árdua tarefa para A Noviça Rebelde, disponível no Disney Plus, a começar do zero, ou melhor, do do-re-mi; “When you read you begin with A-B-C /When you sing you begin with do-re-mi”. No entanto, essa disciplinadora formação nacionalista do futuro marido de Maria, impediu-o de se curvar ao Partido Nazista (Nacional Socialista), monopolizador da virtude, após invadir a sua terra-natal, Áustria. Nesse sentido, acompanhamos o drama do metaleiro Ruben (Riz Ahmed - indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator) que precisou deixar às pressas a turnê da sua banda de Thrash Metal, liderada pela namorada Lou (Olivia Cooke) devido a repentina perda total da audição. O baterista acostumado ao agito da multidão foi obrigado a mudar de vida radicalmente por orientação médica, aconselhado a ficar trancafiado num ensurdecedor silêncio infernal. Longe da namorada em contato com a natureza, o ex-dependente químico se isolou num retiro espiritual para deficientes auditivos, cujo coordenador (Paul Raci) perdeu a audição na guerra do Vietnã. A genial mixagem de som nos passa a dimensão exata da angústia do roqueiro, impossibilitado de ouvir os sons ambiente tampouco se comunicar com o mundo exterior. Preso ao Som do Silêncio, disponível no Prime Video (ótimo título em português, copiado da música de Paul Simon), o novo deficiente auditivo aprende a contragosto a linguagem dos sinais a fim de ser útil novamente, transmitindo ao seleto grupo de jovens especiais suas frenéticas aventuras ao redor do país. Quanto tempo será que ele aguenta ficar longe da Selva de Pedra, da namorada e da carreira musical? Todavia, para o deficiente visual Vitorio, interpretado por Edson Celulari no longa: Teu Mundo não cabe nos Meus Olhos, enxergar tornou-se um martírio, após cirurgia ocular. Na verdade, tocar um instrumento musical decor (do coração) é divino; os gênios da música clássica, preocupados apenas em superar a si mesmo, impressionaram o mundo antes de aprender a andar de bicicleta ao invés de competir com os colegas em busca de fama e reconhecimento. Tal sentimento mesquinho manchou a carreira promissora da tímida pianista estudantil Juliet (Sydney Sweeney), obcecada em superar a irmã gêmea Vivian (Madison Iseman) que tanto a admirava. Apesar da trama simples e manjada, o longa de terror: Noturno, do Prime Video, prende a atenção e ainda traz algumas reflexões importantes. Por fim, A lenda chinesa da Deusa da Lua, Chang'e, análoga à lenda japonesa da Princesa Kaguya, também chamada de O Conto do Cortador de Bambus, considerada a mais antiga narrativa japonesa (adaptada pelo Studio Ghibli), foi dirigida por Isao Takahata, sócio e amigo do capricorniano que completou 80 anos, Hayao Miyazaki. Nas duas animações, as princesas celestes, punidas pedagogicamente, foram exiladas á viver na Terra como simples mortais, mas acabaram adquirindo o elixir da vida eterna, ou melhor, passaram no teste da escola da vida, o que as permitiu retornar ao Paraíso Perdido, derramando saudosas lágrimas de cima da Lua. Em oposição aos deuses da mitologia indígena brasileira, Jaci e Guaraci, a personificação da Lua e do Sol. Em A Caminho da Lua da Netflix (indicado ao Globo de Ouro 2021), o ambiente lunar inspirado na capa do álbum clássico do Pink Floyd - The Dark Side of the Moon, transformou-se num palco musical multicolorido, dominado pela irritadiça princesa pop amargurada, Chang'e, em virtude da perda do amado, Houyi. A fértil diva real em depressão eterna, descontava toda sua raiva reprimida nos pobres súditos, a exemplo do Capitão von Trapp quando era viúvo. Uma linda homenagem à Viagem à Lua, de Georges Méliès. Na trama, a superdotada chinesinha Fei Fei, quatro anos após o falecimento da mãe, morre de ciúmes da futura madrasta enquanto constrói um foguete com destino à Lua para provar ao pai querido que a Deusa Chang'e existe de verdade a fim de reconquistar sua atenção, ao contrário da massiva nissei, Yue (disponível no site: amazonias.net), abandonada pelos pais aos 12 anos em um reformatório para crianças ­problemáticas. Christopher Plummer Christopher Plummer, vencedor de um Oscar e dois Tonys, faleceu no dia 5 de fevereiro aos 91 anos. Entre o palco e as telonas seu personagem mais conhecido que inspirou Família Trapo brasileira foi baseado na autobiografia escrita pela verdadeira Maria von Trapp: "A História dos Cantores da Família Trapp" que virou musical da Broadway. Uma salva de 21 tiros para essa lenda do cinema.
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