18/09/2020 às 14h09min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h24min

Dicas de filmes e séries - 18/09/20

Cobra Kai, a melhor série do ano, desconstrói a política do nós contra eles Essa tal polarização que vivemos hoje equipara-se ao termo "dividir para conquistar”, cunhado do livro de Júlio César: A Guerra das Gálias, inspirado tratado militar A Arte da Guerra, escrito no século IV a.C. pelo estrategista chinês Sun Tzu, que o “Príncipe” Maquiavel complementou. Mais tarde, durante o período da Guerra Fria, ou melhor, do ufanismo nacionalista americano contra o comunismo partidário-materialista soviético, que invadiu os Jogos Olímpicos de Moscou em 1981 e o de Los Angeles em 1984 até impregnar a sétima arte em Rocky IV, que estreou alguns meses depois das Olimpíadas do Tio Sam. A franquia original Karate Kid também captou a mensagem maquiavélica e, três décadas depois, a nova série derivada de duas temporadas, dessa vez isenta de maniqueísmos (sucesso da Netflix), faz de tudo para tentar apagar aquele vício sinistro ainda impregnado em nós, contrapondo com máximas universais a partir do equilíbrio interior, honra, lealdade e piedade para só então colocar em prática a autodefesa. Na trama, após vencer o torneio cinquentenário duas vezes, Daniel LaRusso (Ralph Macchio) se tornou um bem sucedido empresário vendedor de carros naquela região interiorana, enquanto o adversário derrotado Johnny Lawrence (William Zabka), um confuso alcoólatra falido que dependia do padrasto para sobreviver. Isso até o ex-carateca reabrir a saudosa academia Cobra Kai, auxiliado pelo aluno hispânico Miguel Diaz (Xolo Maridueña), que lhe trouxe dezenas de colegas de escola cansados de sofrer bullying de valentões. Ao contrário do garoto mimado de outrora, Lawrence virou um inocente professor jurássico de bom coração que nos conquista logo no primeiro capítulo de sua jornada de amadurecimento, embora possuído pelo desejo de vingança há 34 anos transmitido aos primeiros pupilos. O lema da academia inaugurada é atacar primeiro, ser desleal sem piedade, e, acima de tudo, levar vantagem em função das excepcionais lacunas escondidas nas regras, sob risco constante de ser desclassificado do torneio e da vida. Nesse sentido, Daniel também foi dominado por essa odiosa rivalidade oitentista, contaminando a filha adolescente Samantha (Mary Mouser), em oposição às virtudes tradicionais ensinadas pelo falecido Sr. Miyagi. Para isso, remonta seu antigo dojo e inscreve gratuitamente outros alunos interessados, delegando a esmo a empresa que sustenta a família para a bela esposa Amanda (Courtney Henggeler) administrar. A trama amarradinha é inteligentíssima, cheia de fanservices, plot twists e sacadas sutis objetivas. Os episódios produzidos por Will Smith brincam conosco em um tom bem humorado, envolto nas canções clássicas oitentistas, contrapondo com dramas pontuais a fim de sabiamente quebrar a todo momento nossa expectativa tendenciosa, viralizada pelos antigos clichês e estereótipos inquisitivos. A motivação dos personagens, muito bem construída, provoca em nós um sentimento de raiva e piedade ao mesmo tempo, graças a essa viagem bem editada entre o ódio sectário do passado e a busca por valores e virtudes clássicas universais unidos à moralidade cristã, a exemplo do discurso do atleta homossexual e campeão do torneio juvenil do ano anterior: “uma raça, um gênero e uma religião". Essa sociedade homogênea, representada por membros egoístas de anseios e aptidões antagônicas, que evolui como a nossa por amor ou pela dor, na pior das hipóteses, apenas após o agressor ser vítima da própria ideologia, retratada brilhantemente no texto de Martin Niemölle aqui resumido: Um dia vieram e levaram meus vizinhos religiosos. Como não sou religioso, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar... Cobra Kai. Criação: Josh Heald, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg (10 episódios de 30 min – 2 temporadas,  EUA, 2018 – 2020). 12 anos. Nota: 5,0   A verdade inconveniente que dói antes de libertar O taciturno pastor de ovelhas Memo (Jorge Garcia - da série Lost) isola-se numa ilha chilena, determinado a se esconder dos fantasmas do passado. Isso até conhecer a patroa Marta (Millaray Lobos), por quem se apaixona, revelando em primeira mão seu grande talento musical, motivo de orgulho e vergonha ao mesmo tempo. Ninguém Sabe que Estou Aqui, da Netflix, é um filme artístico, lento e contemplativo durante os dois primeiros terços, mas com revelações bombásticas no final que valem a espera paciente. Ninguém Sabe que Estou Aqui. Direção: Gaspar Antillo. Drama. (Nadie Sabe Que Estoy Aquí, Chile - 2020, 91 min). 12 anos. Nota: 3,5
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