03/10/2024 às 22h43min - Atualizada em 03/10/2024 às 22h43min

​A metrópole dos vereadores despenca na vertical

Nadir Mezerani

Não demorou muito para todos os jornais de São Paulo diminuírem de tamanho, integrando-se na luta contra o desperdício e pela preservação de nossa Terra, antes que ela se torne um ‘segundo sol’ (*parodiando a bela letra de Nando Reis), que infelizmente, em chamas, se desponta como candidata.
Cada união de esforços, mãos dadas, tem aquele sabor de infância feliz em tempos de antidiálogo, em busca do diálogo, mesmo que longe da dialética. Retoma-se o sabor do caminho do Natal.
Mas está difícil suportar os supostos políticos falando outra língua, como se soubessem como nos ajudar a viver em nossa terra redonda, mesmo que nosso Brasil ainda seja surreal!
Época de candidatos e candidatas a tudo que está na moda, no modo bienal, envolvem-se com todos que já estão no pedestal, desejando seus tronos de governos e presidentes que os sustentem. Estes e estas versam o que veem em seu carro, de vidros fechados, quando ouvem o apito irritante da moto infartante que os ultrapassa ao trabalhar. Mas ninguém lê um livro sobre como fazer algo, na história do que deu errado, para saber fazer certo, fazer o bem.
São Paulo caminha para o caos urbanístico, resiliente em oferecer emprego, como cidade dormitório de 71% da população.
Dizem que 90% dos vereadores apoiaram o tal Plano Diretor Estratégico de 2014 em diante, que gosta de Estações de Metrô, onde os prédios seriam mais baratos pois não precisam de subsolo de garagem e nem de grama, no antigo e inútil recuo de cinco metros. (*Li na ‘Folha de SP’ há décadas que, salvo melhor juízo, o tal arquiteto dinamarquês Jan Gehl palpitou sobre o recuo nos prédios em SP como se fosse besteira… Paulistanos críticos o mandam ao inferno, mas outros por aqui têm complexo de cachorro).

Tristeza!
Nenhuma candidata ou candidato que veio pela Rodovia Raposo Tavares nos perguntou, em reuniões culturais, receptivas e espontâneas, na sede do Grupo 1, por que a Secretaria da Habitação da PMSP aprovou um prédio monstruoso barrando a chegada desta estrada à capital, como se fosse um anti Borba Gato. Sabemos que há sete outras estradas no Estado que, ao chegar aqui, se integram em ginásticas viárias às marginais. Ainda há que se resolver a conclusão dos caminhos possíveis de mobilidade integrados, tirando o Metrô do coma.
Não ouvimos candidatos da maior metrópole do país comentarem sobre nossa cidade e seu primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) de 1971, onde os Sistemas de Mobilidade Urbana incluíam o Metrô, enquanto empresa municipal conjunta na política de organização do território. Hoje, o Estado doa uma Estação de Metrô como metrificador, gabarito de prédio à Metrópole. Como escreveu o colega Valter Caldana: “… O zoneamento é o último, não o primeiro instrumento a ser preparado, depois do Plano Diretor. Na nossa prática, é desenhado, não escrito” … comentário feito “no CMPU paulistano, alertando para fragilidades do PDE 2014: cidade não se escreve, se desenha!”
Não se ouve ou vê empenho maior, de candidatos a tudo, que versassem qualquer conhecimento de pesquisas, estudos, teses, projetos de urbanismo, sobre os caminhos deste tão vasto território Brasil. Fala-se com naturalidade em ‘piscinões’, que o mal está no lixo das ruas e que, fatidicamente, o gene da metrópole só tem quatro fiscais da PMSP, como o pastel de feira da Maria!

*Nadir Mezerani é professor, arquiteto, urbanista e diretor do Grupo 1

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