​Drácula de Bram Stoker: Ficção e Realidade

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Desde Lilith — a primeira esposa de Adão na Bíblia — o vampiro se faz presente na humanidade, tal qual em outras mitologias. Porém, foi a partir da Peste Negra na Idade Média que o morto-vivo ganhou corpo e o status de pária da sociedade como “portador de doenças e pragas”: Nosferatu em húngaro-românico. Ao lado de Frankenstein e O Médico e o Monstro, através do clássico romance epistolar de Bram Stoker, esse demônio anti-cristão encontraria em 1897 um líder à altura, baseado na biografia do impiedoso Príncipe da Valáquia com fama de empalador, cujo método consiste em enfiar uma estaca de madeira no ânus dos inimigos até sair pela boca, junto ao sangue derramado pela vítima numa taça de vinho para comemorar; a exemplo da Condessa de Sangue Elizabeth Báthory. Vlad Dracul governou a região da Transilvânia no lugar do pai (Vlad II), o qual pertencia à Ordem do Dragão, criada em 1408 pelo sacro imperador romano Sigismundo (rei da Hungria) com o intuito de combater o Império Otomano que havia conquistado grande parte da península balcânica antes de conquistar a Maçã Vermelha, Constantinopla; usando canhões de última geração contra o Fogo Grego da marinha bizantina que inspirou o Fogovivo em Game of Thrones. Essas técnicas de guerrilha e bacteriológicas de embrulhar o estômago foram-lhe ensinadas a partir dos onze anos pelos próprios turcos quando era preso político em troca de apoio militar ao pai, embora tenha às usado contra o exército do sultão depois de tomar posse, enquanto a primeira esposa se afogava nas águas do rio Arges, ao invés de se render aos turcos.
A tragédia real foi a motivação necessária para o diretor Francis Ford Coppola transformar o cruel empalador no Rei dos Vampiros, interpretado por Gary Oldman em Drácula de Bram Stoker (1992), cujo ódio pela Igreja Católica por condenar sua esposa Elisabetha (Winona Ryder) ao Inferno (Vale dos Suicidas) gerou repulsa eterna ao cristianismo, uma vez que os artefatos usados pelo professor Van Helsing (Anthony Hopkins), tornaram-se sua fraqueza mortal, além da morada solar do Cristo: capaz de destruir o corpo de qualquer vampiro, mas libertar sua alma, ascendendo aos céus. Quadro séculos depois, Elisabetha encarna novamente na Terra como Mina Harker (Winona Ryder), por isso o conde tenta reconquistá-la em Londres, durante a exibição da película dirigida pelos irmãos Lumiére: A Chegada do Trem na Estação (1895), enquanto seu noivo Jonathan (Keanu Reeves) é mantido refém pela estonteante Súcubo (Monica Bellucci) na estrangeira corte romena daquele nobre vampiro amargurado. A sonâmbula Lucy (Sadie Frost) foi outra vítima do Príncipe das Trevas ao emancipar sua alma e a feminilidade à flor da pele, imune às doenças venéreas “de Vênus” (o astro do amor) em alusão à epidemia de Aids na época do lançamento do filme.
O rei das paródias, Mel Brooks, por “Amor à Primeira Mordida”, reverenciou essa lenda da cultura pop após Leslie Nielsen vestir uma peruca ridícula, sem ao menos vê-la no espelho do baile de gala: porque já estava “Morto Mas Feliz“.
Sir Christopher Lee presenciou a última execução de guilhotina na França, mas conheceu J. R. R. Tolkien num pub da Inglaterra. O Saruman de O Senhor dos Anéis foi voluntário do exército finlandês na Guerra de Inverno contra a União Soviética, influenciando o primo Ian Fleming na criação do agente secreto mais famoso do cinema, incluindo O Homem com a Pistola de Ouro. Na década de 1950, no entanto, o ator consolida uma parceria com o amigo Peter Cushing, transformando-se num dos maiores ícones de terror de todos os tempos. Graças A Maldição de Frankenstein, a Múmia, e O Vampiro da Noite: o melhor Drácula de todos os tempos. Sucedido na pele dos ícones: Jack Palance, o galã Frank Langella, o erotico Udo Kier “louco por sangue imaculado” e até Gerald Butler antes de ficar boladão. Acredite se quiser.
Já o capacho com Síndrome de Renfield (Nicholas Hoult) ganhou um filme moderno só para maiores de idade em homenagem ao Drácula de Béla Lugosi de 1931. Na trama, Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe (2023) tenta se desapegar do Conde Drácula (Nicolas Cage) combatendo uma família de narcotraficantes ao lado da policial honesta Rebecca Quincy (Awkwafina); ou na terapia de grupo em busca de redenção e paz interior.
Drácula: A Última Viagem do Demeter (2023), em homenagem à deusa da fertilidade, é uma mistura de Alien, o Oitavo Passageiro e Nosferatu, cuja criatura semelhante ao monstro, invade secretamente aquela embarcação russa conforme o Capítulo 7 da obra de Bram Stoker; desde a Transilvânia até a Inglaterra: Céu ou Inferno depois de algumas semanas.