28/10/2022 às 00h09min - Atualizada em 28/10/2022 às 00h09min

Halloween e Hellraiser: Franquias nunca morrem

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Nascidas em 1987, ambas as franquias tiveram filmes novos em 2022.  Como se comparam os primeiros e mais recentes filmes dessas famosas franquias de terror?
A franquia Halloween começou em 1987 quando John Carpenter entregou ao mundo “Halloween”, um Slasher feito com orçamento de pouco mais de 300 mil dólares e que faturou 70 milhões nas bilheterias. O filme, cheio de suspense e muito efetivo em sua simplicidade, conquistou o público, se tornando um dos mais lucrativos de todos os tempos. As escolhas criativas de direção, o tom sobrenatural e misterioso que rodeia o assassino Michael Myers, a icônica máscara inspirada no rosto do ator William Shatner (o Capitão Kirk de Star Trek), o papel de destaque que começou a carreira de Jamie Lee Curtis, é um verdadeiro estudo de caso de cinema de baixo orçamento. 
Doze filmes depois, “Halloween Ends” é o terceiro filme do reboot da franquia que começou em 2018, da dupla Danny McBride e David Gordon Green com a produtora Blummhouse. Ele considera somente o filme original de 1978 para a sua continuidade, o que na prática quer dizer que a Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) nunca foi irmã do Michael Myers, que é o grande ponto de discussão em relação à qualidade de alguns dos filmes da franquia. Este é, portanto, o fim da trilogia nova da Blumhouse e, segundo a atriz, a última vez que a Jamie Lee Curtis fará o papel de Laurie.
Halloween Ends (2022) cumpre o que promete: é o fim, apesar de não da forma que os fãs imaginavam. O filme começa com um personagem novo, Corey Cunningham (Rohan Campbell), que se transforma no pária da cidade após um acidente que resulta em uma morte de um jovem garoto. Três anos depois, Laurie Strode decidiu se libertar do peso da sua história com Michael Myers e abraçar a vida sem a paranóia dos últimos filmes. Laurie então aproveita para escrever um livro de memórias. Ela mora com a sua neta Allyson (Andi Matichak) que se interessa por Corey, mas o relacionamento deles terá mais obstáculos do que qualquer um poderia imaginar. A primeira metade do filme vira o espelho para o público, constantemente fazendo a pergunta: "você seria capaz de matar alguém nessa situação?" enquanto são mostradas diversas cenas de injustiças com os protagonistas. O mal “infecta” a cidade, levando a uma exploração temática da origem de atos violentos, talvez um assunto profundo demais para as habilidades dos cineastas. Halloween Ends não é o pior filme da franquia, mas é o pior dessa nova trilogia, apesar de tentar fazer algo diferente, ele se perde em um roteiro confuso e desnecessariamente complexo. 
A Franquia Hellraiser teve 11 filmes, baseada na obra “The Hellbound Heart” escrita por Clive Barker em 1986 e que deu origem ao primeiro filme: Hellraiser - Renascido do Inferno (1987). O próprio Clive Barker decidiu dirigir o filme por não gostar das outras adaptações do seu trabalho, embora tenha admitido que só realizou a façanha graças à ajuda de Tony Randel como assistente de direção, esse que depois foi convidado a dirigir o segundo filme. Barker não sabia nada de direção, a ponto que pegou um livro na biblioteca pública chamado “como dirigir um filme” para aprender o que seriam as suas responsabilidades. Feito com um orçamento de menos de um milhão de dólares, a trama segue Frank Cotton, um homem em busca de prazeres que encontra um quebra-cabeça quadrado, a Configuração Lemarchand, ou Lamont ou Lament, ou simplesmente “a caixa”, libertando criaturas de uma outra dimensão infernal chamadas cenobitas, criaturas que não fazem distinção entre o dor e prazer, e eles dilaceram Frank. Rory, o irmão de Frank se muda para essa casa anos depois com sua esposa Julia, que teve um relacionamento com Frank semanas antes do casamento e ficou obcecada com ele. Rory se corta, cai sangue no local onde Frank morreu, ele volta à vida e precisa de mais sangue para sobreviver, e Julia começa a matar para alimentá-lo. Enquanto isso, a filha de Rory, Kirsty Cotton, encontra a caixa e libera os cenobitas, culminando em eles levarem (quase) todo mundo pro inferno.
Barker tomou decisões criativas inusitadas para fazer o filme, como deixar os Cenobitas, os torturadores do inferno, “demônios para uns, anjos para outros”, muito bem iluminados ao invés de escondidos nas sombras. O “padre do inferno” Pinhead, o Cenobita mestre da dor e da tortura com visual icônico, teria presença em todos as sequências. Filmado em ordem cronológica da história, permitindo que a intensidade dos atores aumentasse com o desdobramento da história, Hellraiser aborda temas como vício, desejo, dor e desespero, usando os Cenobitas como um espelho dos pecados do ser humano. 
Hellraiser (2022) é o terceiro melhor filme da franquia. Decisões acertadas mantiveram o tom, as técnicas de iluminação, a música, a produção e orçamento do original, trazendo adições interessantes ao mundo, novas regras, novas formas dos Cenobitas interagirem com seres humanos através de recompensas, além do aperfeiçoamento de ideias tiradas de dezenas de horas das sequências ruins e colocadas em um filme de terror moderno, focado na construção dos personagens.O novo Hellraiser não tenta refazer o filme original, mas criar os alicerces para levar a franquia numa direção nova, respeitando e ampliando a mitologia original. É um alento para os fãs de longa data que tiveram que assistir sequências que foram uma verdadeira tortura. 
As duas franquias foram marcadas por cineastas talentosos fazendo o filme mais assustador que conseguiram com os recursos disponíveis. E essa é a fórmula perfeita para um excelente filme de terror.
Colaboração: James Salinas,
roteirista dos filmes `SP:
Crônicas de uma cidade real”,
“Tração”, “Máscaras”, “Amor,
confuso amor”, e “Vagabundos
Enrascados”, Diretor dos
documentários “Vira-latas” e
“Diário de uma metrópole”.
Instagram: @james_salinas

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