11/07/2024 às 22h13min - Atualizada em 11/07/2024 às 22h13min

​A história e os santos de barro

Um povo que ainda se glorifica como ‘varonil’, pós-guerra do Paraguai, precisa autocriticar-se culturalmente  para atingir  a desejada identidade .
Dizia meu irmão Samir que “o enredo não pode ser mais forte que o objeto“, quando um diálogo fica carregado do emocional. Como não estamos enredando uma tese de doutorado, vale lembrar falas coloquiais importantes que nos traduzem os fatos em foco.
Recorro novamente, aqui à Gazeta, aos escritores renomados, dizendo que “a história precisa ser acordada de certa amnésia”, Carlos Guilherme Mota, e Wilheim Faulkner que nos ajuda nesta busca ao dizer que “o passado nunca morre; ele nem é passado”.
O foco é a preocupação com notícias do jornal sobre Condephaat’s , Cetesb’s, Butantan’s, Morumbi’s, Sabesp’s, Metro’s que me forçam a concluir que a história está na verdade em ‘coma’!
Mas para fugir da tragédia acima, ainda recorro a imaginar que a história mora no ‘subconsciente’.
Portanto contarei a minha netinha, quando meu filho George casar com a Catarina, que: “a Semana de 22’ foi uma bela história de patinhos na lagoa” e que  “Charles Darwin se encantou tanto com o Brasil, que enalteceu em diário, a convivência humanista de nosso diverso e inclusivo povo, como herdeiros de bons modos de Deuses e Deusas, junto a imensa beleza de nossas riquezas naturais”.
Contarei por aí que “um tal presidente de um país nos adorou tanto, que pensou que Pablo Picasso fosse brasileiro”; outro “presidente, cavalheiro, preferia nosso perfume, ao invés daqueles dos cavalos”; um simpático ministro nos lembrou que “os bichos também são gente”; ainda “há por aqui grandes hélices que armazenam vento”; aos bisnetos contarei que “foi um bloco de Carnaval, em um janeiro, que desfilou modos com fogos de artifício nas rampas de Brasília, pois lá não há gradis e  gostaram da arquitetura e urbanidade do comunista Niemeyer!”.
Com esse enredo pode-se entender o alto grau de dificuldade de nossos órgãos públicos, que cuidam da preservação do patrimônio histórico nacional, ao trabalhar a questão cultural.
A cultura é repleta de valores imponderáveis como parte de nossa pretendida “identidade nacional”. Neste percurso de arte de nossa sabedoria e feitos, as leituras do emocional se perdem antes de atingir o objeto: o ‘tombamento’ ou ‘urbanidade’ do espaço .
Mas já que o passado também não existe, sei que o presente está nas mãos de um poder privado-público, que nos conduz .
Há santos de barro nos campos de futebol, que valem a crítica os relacionando com o urbanismo desta cidade de São Paulo.
Há pouco tempo, um time desta bela arte, construiu um belo estádio em local arejado, na periferia da cidade, ao lado do metrô, onde os torcedores têm mobilidade de ir e vir e a cidade assim virá.
Há outro estádio, cor de praça arborizada, com bela reconstrução se multiplicou centenas de vezes em capacidade, subiu ao céu, o ruído foi ao inferno, abafou casas e ate predios de 10 andares ao lado, mas os de 40 assistem ao jogo pois não podem sair de casa.
Outro campo de futebol será acompanhado por moderna ‘Estação de Tratamento de Esgoto’ e rios canalizados, esperando as águas de março.
E para tristeza paulistana, a perfeitíssima arquitetura urbana tombada do Estádio do Pacaembu, melhor desenho nacional de espaço público de esportes, agora com interior destombado, servirá de coca-cola para quem mora no Ipiranga.
Quanto ao andor que carregou o santo shopping cinco estrelas em Higienópolis, melhor seguir a santa conclusão de Faulkner .
Desejo boa viagem aos amigos leitores que possam visitar as obras tombadas ao lado, na América do Sul. Por aqui não me vejo iluminado em fazer proposta que garanta a luz à santa saída merecida ao santo São Paulo.

*Nadir Mezerani é arquiteto, professor, urbanista e diretor da Gazeta de Pinheiros

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