17/05/2024 às 00h28min - Atualizada em 17/05/2024 às 00h28min

Planeta dos Macacos: Desafio das Águias

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

“E Deus disse: — Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam pela terra”. “La planète des singes”, publicado pelo escritor francês Pierre Boulle em 1963, aborda a ascensão e queda natural e orgânica tanto de civilizações como de etnias: os lemurianos e os atlantes, por exemplo, assim como os egípcios, gregos e romanos, recentemente. Ao contrário da franquia cinematográfica com 10 filmes, uma série de TV e outra animada, disponível no Star Plus, a sociedade de Pierre Boulle a aproximadamente 350 anos-luz da Terra, possui uma tecnologia bem avançada, além de não ter sido devastada por uma guerra nuclear, cujo astronauta Ulysse Mérou a batizou de “Soror” (irmã, em latim), devido à sua similaridade com a Terra. O casal de chimpanzés: Dra. Zira e o noivo Cornélius, tal como a humana primitiva Nova e o cientista orangotango Dr. Zaius são homenageados no cinema até hoje. Porém, é indiscutível tanto na obra literária quanto na cinematográfica o conceito de alteridade (se colocar no lugar do outro), incluindo os maus-tratos com os animais: “Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna”.
A adaptação mais fiel ao romance de ficção científica foi a de 2001, dirigida por Tim Burton e estrelada por Mark Wahlberg, Tim Roth, Helena Bonham Carter, Paul Giamatti e Estella Warren; com participações especiais de Charlton Heston e Linda Harrison; cuja trama foi ambientada em 2029 — o mesmo ano da cena de abertura de O Exterminador do Futuro que completou 40 anos em 2024.
A ficção científica era um gênero desacreditado nas telonas até o início da corrida armamentista entre EUA e URSS nos anos sessenta. Dessa forma, o ano de 1968 marcou a estreia de dois dos melhores filmes de todos os tempos: 2001 — Uma Odisseia no Espaço e Planeta dos Macacos. Nessa época, a Fox enfrentava grandes dificuldades financeiras devido ao alto custo de Cleópatra (1963); por isso, em vez da tecnologia avançada apresentada no livro, a equipe formada pelo criador da série Além da Imaginação optou por uma estrutura hierárquica medieval barata, embora bastante complexa: com orangotangos nos cargos de liderança governamental e religiosa; gorilas responsáveis pela força militar; enquanto chimpanzés se encarregavam da parte intelectual e artística. As diferenças comportamentais entre eles, junto a humanos ou não, foram fundamentais em toda a franquia. No co- mando dessa distopia pós- -apocalíptica aparece Zaius:
a representação totalitária da
ciência unida à religião dita- da e adulterada pelo estado,
quando convém; cujo acor- do tácito em prol da medio- cridade serve para mantê-lo
no poder, perpetuamente. Sa- bendo da capacidade intelec- tual e de liderança dos hu- manos, Zaius coloca o povo
contra eles: os captura, en- jaula, castra e faz lobotomia,
classificando-os de selva- gens, a exemplo de “Admirá- vel Mundo Novo”. Isso até o astronauta Taylor (Charlton Heston) cair do céu para desmascará-lo com a ajuda de Nova (Linda Harrison); indo até a Zona Proibida depois de cruzar um tenebroso deserto montanhoso.
Em Fuga do Planeta dos Macacos (1971), Zira e Cornelius, desembarcam na Terra dos anos setenta, sendo tratados pelos habitantes de lá como astros de Hollywood. Isso até as autoridades descobrirem que ela guarda em seu ventre o líder da resistência contra os humanos, capaz de provocar uma Revolução dos Bichos: macacos inteligentes.
Já o César (Andy Serkis) de Planeta dos Macacos: A Origem (2011), ou Rise of the Planet of the Apes em inglês, é comparado à Moisés, enquanto Koba, seu braço direito maltratado desde a infância pelos humanos, tem o mesmo apelido do ditador comunista Josef Stalin. Nessa trilogia, em vez de uma guerra nuclear, apenas 0,20% dos humanos são geneticamente imunes à pandemia de gripe símia desenvolvida em laboratório que dizimou todo o planeta. Esse mesmo laboratório foi o responsável por expandir a inteligência de César, como a de seus aliados símios.
Nos dois últimos capítulos dirigidos por Matt Reeves (Dawn of the Planet of the Apes e War for the Planet of the Apes), César evita o holocausto de seu povo, promovido pelo Coronel McCullough (Woody Harrelson) e os conduz até a Terra Prometida, sendo reverenciado na nova trilogia, em cartaz nos cinemas.
Apenas três séculos depois da morte de César e de seu conselheiro Maurice, os humanos deixaram de viver em comunidade, voltando aos poucos a ser nômades. Essa falta de estímulo e comunicação com o próximo provocou uma perda considerável na sua linguagem, principalmente no seu quociente de inteligência (QI) — ao contrário dos símios de fala bem articulada. Para o diretor de Maze Runner, Wes Ball, Planeta dos Macacos: O Reinado (2024) é uma espécie de “Apocalypto com macacos”, cujo descendente de César, chamado: Noa ou Noé (Owen Teague) é amparado pelo sábio conselheiro orangotango de Bornéu (Peter Macon) enquanto está a procura dos integrantes do Clã da Águia, de cuja família foi sequestrada pelo líder de uma seita com o objetivo de deturpar as virtudes de César e tomar posse de uma avançada tecnologia humana para se perpetuar no poder, assim como Zaius e Carnegie em O Livro de Eli. Uma das poucas humanas capaz de acompanhar o raciocínio daquele chimpanzé heroico é a misteriosa Nova (Freya Allan), fingindo ser selvagem antes do Dilúvio.

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