25/01/2024 às 00h42min - Atualizada em 25/01/2024 às 00h42min

Pérolas Negras da MPB

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Mussum, o Filmis (2023) foi baseado no livro “Mussum — uma história de Humor e Samba” de Juliano Barreto, e no documentário Mussum, um Filme do Cacildis (2018), disponível no Prime Video. Um dos maiores humoristas do Brasil, quiçá do mundo, foi apenas o segundo negro a despontar no meio artístico. Curiosamente, Grande Otelo: o primeiro, foi quem lhe deu este apelido inspirado no peixe de água doce escorregadio com o mesmo nome. A trajetória de Antônio Carlos (1941 – 1994) foi baseada em escolhas difíceis, cujo privilégio foi graças à educação virtuosa da mãe (Neusa Borges) que aprendeu a ler com ele, porque como empregada doméstica não teve oportunidades na vida. No entanto, o rígido ensino do colégio interno e a curta carreira militar acabaram moldando o caráter daquele aluno estudioso e disciplinado, de modo a sustentar a família de cinco filhos com cinco mulheres diferentes, apesar da boemia. No início dos anos sessenta, Carlinhos da Mangueira e do Reco-Reco troca a Força Aérea Brasileira pela harmonia de Os Originais do Samba, adaptando o banjo americano à música brasileira, cujo sucesso meteórico contou com a parceria de Jair Rodrigues e as participações especiais de Elis Regina, Alcione e Jorge Ben Jor; principalmente: Elza Soares e Garrincha. Foi Chico Anysio quem inventou aquela linguagem inconfundível dos “is” no final, após Mussum (Aílton Graça) participar da sua primeira “Escolinha”, antes de Jair Rodrigues o apresentar para Dedé Santana, ainda na TV Tupi, de modo a substituir mais tarde o samba pelo humor em definitivo; até trocar de coração e de dimensão.
Elza Soares da Conceição (1930 – 2022) foi eleita pela BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio. Tanto ela quanto Garrincha (1933 – 1983) morreram em 20 de janeiro. Elza nasceu numa família pobre com dez irmãos, na favela de Moça Bonita, Rio de Janeiro, mas foi obrigada pelo pai a se casar aos 12 anos; aos 21 ficou viúva com cinco filhos aos 27; até conhecer o “Mané”, no Bicampeonato de Futebol; cuja relação extraconjugal foi bastante criticada pela imprensa da época, pressionando-os a se casar mais tarde. Elizabete Martins Campos lançou o documentário My Name is Now em 2014, sobre a biografia da cantora de voz rouca, contada por ela mesma, disponível no Prime Video.
O amigo de Jorge Ben Jor, Tim Maia (2014), na Netflix, foi apelidado de Rei do Soul ao introduzir o gênero na Música Popular Brasileira, além do funk. Sebastião Rodrigues Maia (1942–1998) teve uma infância bastante pobre no bairro carioca da Tijuca onde cantava no coral da igreja perto de casa, sendo o caçula de doze irmãos. Quando criança, trabalhou como entregador de marmitas para ajudar nas despesas da família; até em 1957 formar a banda The Sputniks ao lado de Roberto Carlos, onde ganhou fama com a ajuda do empresário Carlos Imperial, pouco antes morar nos EUA com a namorada (Alinne Moraes) e os integrantes da sua nova banda solo, incluindo o amigo Fábio, interpretado por Cauã Reymond. A seita alienígena dos anos setenta lhe rendeu um disco e a abstinência total das drogas, durante a conversão, dando-lhe fôlego e sobrevida fundamental para chegar aos 55 anos, mesmo com graves problemas de saúde e bem acima do peso.
Um dos últimos amantes do funk melódico com ritmo, rima e poesia romântica sobre a periferia; sem drogas, violência ou pornografia, foi a dupla, Claudinho & Buchecha, estrelas do novo longa-metragem, Nosso Sonho (2023), disponível no Prime Video. A trama trata sobre amizade e meritocracia, superação e conquista: sob a perspectiva de Buchecha (Juan Paiva), cujo objetivo, na verdade, é aprender a perdoar o pai, quantas vezes forem necessárias, como ensinou Jesus. Souza (Nando Cunha) foi o seu grande ídolo por ensiná-lo a tocar violão, enquanto a bebida não o transformava numa pessoa violenta e sem vergonha de beber. O que levou Buchecha a fugir da casa do pai até o Morro do Salgueiro, onde reencontrou Claudinho (Lucas Penteado), o anjo da guarda que o incentivou a compor as primeiras canções e fazer os primeiros shows naquela comunidade extremamente unida. Afinal, “quem tem talento não tem patrão”, capaz de superar todas as barreiras, antes e depois da tragédia profética.

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