O Gato de Botas no Dia dos Animais: 4 de Outubro

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Os gatos transitam naturalmente entre o mundo físico e o mundo espiritual, a exemplo do etéreo sorridente Gato de Cheshire em Alice no País das Maravilhas, protegido pelas sete ou nove vidas que Deus lhe deu, dependendo da região; símbolo de poder e esforço ou da renovação cíclica da Bíblia. Esse dom divino é devido às sete camadas duplas em sua aura e aos oito sentidos: três a mais do que o normal, além da Glândula Pineal com quartzo em excesso, formando um campo de som vibratório peculiar (o ronronar), capaz de eliminar 100% das impurezas naquele ambiente. Acreditava-se que na Pérsia Antiga ao maltratar um gato preto, corria-se o risco de maltratar um espírito amigo, criado especialmente para fazer companhia ao homem durante sua passagem pela Terra. Assim, o agressor estaria atingindo a si mesmo. No Egito Antigo os gatos eram animais sagrados, quando associados à deusa Bastet, graças ao onisciente Olho de Hórus; enquanto na Europa Medieval, eram companheiros das mesmas médiuns que até hoje canalizam e manipulam energias; poções e elementos místicos: acusadas tanto de bruxaria quanto de heresia pela Santa Inquisição, cujo extermínio de ambos resultou na Peste Negra: da bactéria Yersina pestis encontrada em ratos. 
A leveza e  elegância no modo silencioso de agir rendeu-lhes o apelido de gatuno, inspiração para o escritor francês Charles Perrault, homônimo ao personagem da DreamWorks, cujo filho caçula recebeu de herança, enquanto os outros irmãos preguiçosos do conto: um burro e um moinho. Chateado pelo presente aparentemente inútil, transformou-o num ser antropomórfico ao vestir-lhe botas, inteligência e astúcia; cuja retribuição de “O Gato Mestre ou o Gato de Botas”, foi o casamento do amo com uma linda princesa num lindo castelo de propriedade de um ogro, após eliminá-lo de forma brilhante.
 Nesse sentido, o mercenário foragido da justiça (Antônio Bandeiras) tentou matar o solitário Shrek (Mike Myers), e acabaram grandes amigos ao lado do Burro (Eddie Murphy), pois acreditavam nos contos de fadas tradicionais e no amor verdadeiro, análogo ao de O Feitiço de Áquila. Shrek (2001) foi a primeira animação premiada pelo Oscar após satirizar com inteligência e bom humor os clássicos da Disney, sem desconstituí-los ou humilhá-los. Na trama, aquele ogro flatulento se apaixona sem querer pela Princesa Fiona (Cameron Diaz) e acaba assumindo os compromissos burocráticos da realeza contra sua natureza introspectiva. Enquanto Shrek para Sempre (2010) lembra Cinderela III: Uma Volta no Tempo, quando aquele pai de família egoísta assina um contrato leonino, semelhante ao de Úrsula com A Pequena Sereia, e finalmente dá o merecido valor à família e aos amigos após perdê-los para sempre. O sucesso da franquia rendeu o spin-off: Gato de Botas (2011), enquanto acertava as contas com a justiça de San Ricardo junto ao interesse amoroso e o genial ovo antropomórfico bastante carente com o mesmo fim trágico contido na rima original: Humpty Dumpty sentou-se no muro, Humpty Dumpty caiu de maduro. Nem os homens e cavalos do Rei conseguiram juntá-lo outra vez. Em Gato de Botas 2: O Último Pedido (2022), o destemido espadachim torna-se uma lenda viajando pelo mundo, até se assustar com o Ceifador Lobo Mau (Wagner Moura) quando já havia morrido oito vezes. A única forma de recuperá-las foi pedir a lendária Estrela dos Desejos através da Floresta Negra, que se altera conforme o detentor do mapa. Se Shrek amadureceu, aquele gato galanteador perdeu a arrogância, já que é impossível escapar da morte, lutando, contudo, pela última vida. Dessa forma a ressentida ex-noiva Kitty Pata-Mansa (Salma Hayek) encontrou a quem confiar, enquanto Cachinhos Dourados (Florence Pugh) sua verdadeira família, graças a convivência com Perrito, que apesar dos maus tratos na infância sente-se feliz com tudo aquilo que tem porque enxerga O Lado Bom da Vida; o único com um caminho repleto de arco-íris após segurar o mapa.