20/07/2023 às 23h56min - Atualizada em 20/07/2023 às 23h56min

​Barbie X Barbie com spoiler

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Barbie (2023) governa uma utopia infantilizada de cores fortes e gritantes, cujas ideias surgem do mundo físico, contrário ao mundo de Platão, materializando-se em bonecas adultas, de modo a vendê-las por um bom preço, cujo padrão de beleza ideal opõe-se ao de antigamente quando as bonecas eram cuidadas por crianças ao imitarem suas respectivas mães. Análogo à jornada do herói, as multifacetas da Barbie estereotipada (Margot Robbie) tal qual a contraparte masculina, o Ken (Ryan Gosling), lembram com a devida proporção os deuses da mitologia egípcia: Ísis, Osíris e Hórus, que ao lado de Maria de Nazaré governam a Constelação Sírius como representantes da nossa jornada da alma, sempre. 
Na fantástica Barbilândia, no entanto, os habitantes levam uma vida fútil e hedonista, semelhante à artificialidade em O Show de Truman — O Show da Vida (1988), inspirado no episódio “Special Service” de Além da Imaginação. Lá, o único nativo de Seaheaven, interpretado por Jim Carrey, torna-se o primeiro bebê adotado por uma empresa disfarçada de ilha pré-fabricada, sendo coordenada pelo seu “pai”, Christof (Ed Harris). Dessa forma, Truman Burbank era o centro das atenções até completar 30 anos, sendo bajulado pela esposa Hannah (Laura Linney), o seu falso melhor amigo e primeiro amor de mentirinha, interpretado por Natascha McElhone; sem saber que era filmado por 5 mil câmeras junto á dezenas de atores e figurantes ao seu redor, 24 horas, visando manter a audiência de bilhões de telespectadores ao vivo por três décadas ininterruptas. Assim como Truman, Barbie se libertou daquele Feitiço do Tempo ao entrar estranhamente na menopausa, indo desesperada consultar a Barbie-Bizarra (Kate McKinnon) que a aconselha viajar até o mundo real, onde é hostilizada pelas roupas chamativas, enquanto o parceiro metrossexual se identificava no pôster de Sylvester Stallone, libertando o macho-alfa dentro de si.
A ingenuidade da boneca perfeita com excesso de otimismo, foi inspirada no arquétipo das princesas clássicas da Disney: Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida e A Pequena Sereia, mescladas em Encantada (2007) no Disney Plus. Na trama, Giselle (Amy Adams) ao encontrar seu príncipe encantado (James Marsden) acaba disputando o trono com a Rainha má Narissa (Susan Sarandon) quando é enviada do reino animado de Andalasia até o Times Square de Nova York. Perdida como um cachorro caído de um caminhão de mudança, é salva a tempo pelo advogado pragmático Robert Philip (Patrick Dempsey), que apesar do choque de realidade, os opostos acabam se atraindo, a exemplo da parábola das 10 Virgens em que Jesus é o noivo; o pai do noivo é Deus, e a noiva é o planeta Terra. No final das contas, aquela princesa frágil e inocente aprendeu a ser prudente como uma serpente no meio de lobos, enquanto o futuro marido aprendeu a acreditar em contos de fadas, vendo-a cantar e encantar animaizinhos com sua voz de veludo, cujos Espíritos da Natureza conspiravam a favor: ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. Enquanto isso, Barbie caminhava de piada em piada sarcástica de duplo sentido, desde Os Embalos de Sábado à Noite, O Poderoso Chefão, Orgulho e Preconceito, Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, até o Snyder Cut, quando ela finalmente se reúne com o CEO da Mattel (Will Ferrell) e à sua criadora nos anos 1960, Ruth Handler (Rhea Perlman), num encontro emocionante, embora decida continuar com celulite ao invés de voltar para a caixa de bonecas, enquanto homens e mulheres convivem pacificamente em sua Terra Natal antes de se chamar “Kendom” por algumas horas, durante a construção de um Muro de Berlim que quase foi finalizado, separando as duas realidades.
Mary Poppins e Se Minha Cama Voasse foram interações clássicas entre humanos e cartoons que inspiraram Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), numa época patriota o suficiente, capaz de reunir Looney Tunes e todos os personagens da Disney, entre outros, na Desenholândia, dirigido por Robert Zemeckis e produzido por Steven Spielberg. A trama noir à la Dick Tracy, mescla Los Angeles e Chinatown, durante a Era de Ouro das animações em que desenhos animados são assassinados de verdade por humanos, enquanto as mulheres os seduzem até uivarem como lobos em sua caça. Mel Blanc emprestou a voz pela última vez à Pernalonga, Patolino, Piu-Piu, Gaguinho e Frajola, enquanto Roger Rabbit e Jessica Rabbit (Kathleen Turner), inspirada nas atrizes Rita Hayworth, Veronika Lake e Lauren Bacall como na personagem Red, criada por Tex Avery, nunca mais foram lembrados porque não pertencem ao politicamente correto insuportável de hoje.

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