​Enquanto houver amizade

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

“Pode ser que um dia deixemos de nos falar...Mas, enquanto houver amizade, faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe... Mas, se a amizade permanecer, um de outro se há-de lembrar. Pode ser que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, a amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos...Mas, se ainda sobrar amizade, nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente, cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre” (autoria atribuída a Albert Einstein).
Em Conta Comigo (1986), na Netflix, quatro amigos de infância, os quais pertencem a famílias desestruturadas, não permitem que o convívio tóxico dos pais contamine a sua relação saudável e duradoura, contrária ao determinismo, impondo que o meio faz o homem. A passagem que eternizou esses laços foi narrada pelo escritor Gordie (Richard Dreyfuss) ao lembrar do incidente aos 12 anos (Wil Wheaton) que resultou na morte do irmão mais velho (John Cusack). Nessa época, Gordie partiu para uma jornada de amadurecimento ao lado dos seus melhores amigos Vern (Jerry O’Connell), Teddy (Corey Feldman) e Chris (River Phoenix) em busca do cadáver de um menino desaparecido, durante o fim de semana do Dia do Trabalho em 1959, cuja caminhada reta pela linha do trem, repleta de desafios um tanto hilários quanto mortais, acabou fortalecendo os laços em um dos últimos reencontros daquela turma.
Joe Lamb (Joel Courtney) ainda sofre com a morte precoce da mãe enquanto amadurece o relacionamento com o pai (Kyle Chandler), um policial dedicado à profissão, aprendendo a conviver com o filho. Fã de cinema e estudioso de maquiagem, Joe se diverte ao lado dos amigos, Charles (Riley Griffiths), Martin (Gabriel Basso) e Cary (Ryan Lee), e da bela Alice Dainard (Elle Fanning) ao tentar rodar um filme caseiro visando participar de uma competição local para jovens cineastas. Dirigido por J. J. Abrams e produzido por Steven Spielberg, Super 8 (2011), homenageia o cinema dos anos 1980 trazendo de volta a nostalgia de ET, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Conta Comigo e Goonies. Porém, o espectador é surpreendido pelo clima de terror em meio a divertida convivência dos atores mirins ao filmarem sem querer um terrível acidente envolvendo uma operação ultra secreta do governo americano, à la Stranger Things. O diretor de Star Wars: O Despertar da Força mantém o terror lovecraftiano e o suspense hitchcockiano, misturado ao comportamento hilário da equipe de filmagem em meio a tensão sobrenatural, sem parecer piegas ou infantilizado.
Assim como James Gray em Armageddon Time, Sam Mendes em Império da Luz e Spielberg em Os Fabelmans, o ator e diretor Kenneth Branagh transportou a sua infância às telonas, de modo a concorrer ao Oscar. A sua Terra-Natal que deu origem ao longa-metragem Belfast (2021), disponível no Telecine, é a capital da Irlanda do Norte e da província de Ulster, sendo a segunda maior cidade na ilha da Irlanda, onde o Titanic foi construído. Aos 9 anos, o alter-ego do diretor, conhece as primeiras películas, lembrando o olhar hipnotizado de Toto em Cinema Paradiso. Até meados de agosto de 1969, Buddy (Jude Hill) vivia uma infância agradável onde católicos e protestantes conviviam relativamente bem no seu bairro, isso até a formação de milícias protestantes fomentando o ódio e a discórdia e entre os cristãos. O conflito “The Troubles” que provocou a migração da família do cineasta para a Inglaterra começou durante uma campanha da Associação dos Direitos Civis da Irlanda do Norte a fim de acabar com a discriminação contra a minoria católica por parte do governo protestante/sindicalista e das autoridades locais, mas o tiro saiu pela culatra, transformando-se numa guerra civil através das belíssimas imagens em preto e branco misturadas ao colorido de vez em quando.