03/03/2023 às 00h36min - Atualizada em 03/03/2023 às 00h36min

​As espiãs que amamos

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Para o ex-Presidente da França Nicolas Sarkozy “O maio de 68 impôs o relativismo moral e intelectual a todos nós. Impôs a ideia de que não existia mais qualquer diferença entre bom e mau, verdade e falsidade, beleza e feiura”, fomentando, porém, a carreira de dois dos maiores símbolos sexuais da sétima arte. Jane Fonda era esposa do diretor Roger Vadim quando estreou Barbarella no cinema, cuja personagem foi baseada nos quadrinhos franceses de mesmo nome. Ambientado num futuro distante, o planeta Terra vivia uma era de paz, politicamente correta; sem armas, violência, perversão ou malícia, onde os habitantes convivem nus como no Jardim do Éden; sem fazer sexo ou falar palavrão, a exemplo da distopia em O Demolidor (1993) estrelado por Sylvester Stallone, Wesley Snipes e Sandra Bullock. Isso até o Presidente da Terra armar a patrulheira espacial até os dentes, visando capturar o cientista louco Durand Durand no planeta SoGo, de cuja arma secreta é capaz matar de prazer as vítimas. Uma aventura psicodélica, meio sadomasoquista, sem roteiro definido, embora muito divertida em função do figurino brega e inconfundível, mistura de Flash Gordon, Druuna e Plunct! Plact! Zum, ditando moda até hoje, a exemplo das bandas Kiss e Duran Duran. A astronauta sensual conta com a ajuda de um anjo sarado que saiu do labirinto por cima, sem derreter as asas no Sol ou comer o fruto proibido para ver maldade nas pessoas.
Um ano antes de O Ano Que Não Terminou, estreava no cinema A Espiã Que Veio do Céu (1967), cuja paraquedista (Raquel Welch) tem de impedir que um mecanismo de disparo de uma arma nuclear caia nas mãos dos comunistas. Ocorre que a trama simples fica confusa pelo excesso de personagens com diálogos abruptos e sofisticados demais, ofuscando alguns dos milhares de trajes sensuais da musa, embora a ação prefira perseguições à barco, avião e até touro a duelos ordinários com armas de fogo.
O ex-dublê e co-diretor de John Wick: De Volta ao Jogo aproveitou o sucesso da Furiosa para consolidar a carreira de Charlize Theron como heroína de ação. David Leitch nos brinda com incríveis planos-sequência, incluindo o mais famoso de 10 minutos de duração, equiparado ao de OldBoy e Filhos da Esperança. O visual neon combina com o clima quente no auge da Dance Music unido ao Rock 'n' Roll oitentista de Queen, David Bowie, George Michael, New Order, Depeche Mode e Eurythmics. James McAvoy faz outro excelente vilão um ano depois de Fragmentado, enquanto Sofia Boutella, logo após A Múmia, protagoniza uma das melhores cenas lésbicas do cinema. Atômica (2017), disponível no Prime Video, foi baseado na graphic novel: Coldest City, ilustrada em preto e branco pelo brasileiro Sam Hart, a fim de homenagear o avô (ex-contraespião do MI5 na Segunda Guerra Mundial) e a avó com os mesmos traços faciais da espiã do MI6. Lorraine Broughton (Charlize Theron) foi enviada a Berlim para investigar a morte de um oficial britânico e o desaparecimento de uma lista secreta contendo o nome de todos os agentes duplos envolvidos na Guerra Fria, às vésperas da Queda do Muro de Berlin.
Um vírus elimina 99% da população mundial, e quatro séculos depois, em 2415, os cinco milhões sobreviventes se refugiam numa cidade-estado murada, onde o parto natural está proibido, cujo governo de Trevor Goodchild manda executar opositores confundidos aos cientistas em busca da cura. Apenas o bom senso pode diferenciar o certo do errado. Charlize Theron, em Aeon Flux — Operação Terminus, na Netflix, interpretou pela primeira vez em 2005 uma agente dupla, embora a sua personagem envolvida sexualmente com o ditador orwelliano, capture muito pouco da animação noventista do mesmo criador de Fogo e Gelo e Animatrix, Peter Chung.
Sarah Jeanette Connor (Linda Hamilton) nasceu em 1965 na Califórnia, mas foi abandonada pelo pai quando criança, morando com a mãe até a faculdade. No entanto, a sua vida ordinária e sem futuro, mudaria radicalmente em 12 de maio de 1984 após Kyle Reese (Michael Biehn) salvá-la de O Exterminador do Futuro com uma das frases mais famosas do cinema: “venha comigo se quiser viver!” O casal considerado louco naquela sociedade, cujo desejo da futura mãe de John Connor em destruir o prédio da Cyberdyne Systems estivesse latente naquele ano, conforme a cena deletada do filme disponível no Prime Video. Na linha do tempo original o primeiro marido da garçonete permanece desconhecido, após Reese criar um paradoxo temporal ao se tornar o pai de John que o enviou do futuro para 1984, dezenove anos antes de Reese nascer. John nasceu em 28 de fevereiro de 1985 enquanto a mãe realizava um intenso treinamento militar na América Central a fim de dar a vida pelo líder da resistência contra as máquinas, até o Dia do Julgamento, em 29 de agosto de 1997, antes de ser internada num hospício ao tentar explodir o covil da Skynet. Aos 10 anos, é a vez de John (Edward Furlong) ser perseguido por um novo exterminador (Robert Patrick), muito mais avançado, apesar de estar protegido pelo guarda-costas vindo do futuro (Arnold Schwarzenegger) enviado por ele mesmo. Sarah foi considerada uma das maiores heroínas do cinema ao lado de A Noiva, de Kill Bill; Ellen Ripley, da saga Alien; Major Motoko Kusanagi, de O Fantasma do Futuro; e a Imperatriz Furiosa, de Mad Max: Estrada da Fúria.

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