15/12/2022 às 23h17min - Atualizada em 15/12/2022 às 23h17min

​Boas Festas a todos os leitores

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Numa pequena aldeia na costa oeste da Jutlândia, as irmãs dinamarquesas, Filippa (Bodil Kjer) e Martine (Birgitte Federspiel) administram uma paróquia pietista após a morte do pai e fundador. Sem o mesmo carisma do protestante (Pouel Kern), a relação das puritanas com os fiéis vai se deteriorando dia a dia, apesar da caridade diária com os necessitados. Contudo, naquele ano de 1871 elas acolhem uma refugiada da Comuna de Paris que se oferece a trabalhar de graça em troca de abrigo permanente, mudando paulatinamente a rotina daquele povoado. Na verdade, Babette (Stéphane Audran) foi uma renomada chef francesa que escondeu todo o seu talento por 14 anos, tendo que se alimentar com sacrifício de sopa de cebola, preparada de forma utilitária, fria e sem graça pelas patroas que renunciaram aos prazeres carnais sem desfrutar da vida espiritual. No entanto, ao ganhar na loteria, a cozinheira usa todo o dinheiro para homenagear o falecido pastor no ano do seu centenário oferecendo um banquete divino para 12 pessoas daquela comunidade religiosa. O cardápio de A Festa de Babette (1987) era composto de codorna com trufas e foie gras, creme azedo com caviar no blinis, acompanhado de maravilhosos vinhos franceses, como Veuve Clicquot (safra 1860) e Clos Vougeot (safra 1845), mas os convidados desconheciam aquele menu de altíssimo padrão, incluindo uma tartaruga que chegou viva da França pouco antes de ser servida. Tal semelhança com um ritual satânico amedrontou os ignorantes em gastronomia que se recusaram a falar sobre o assunto. Porém, ao saborear aquela comida estranha, preparada com muito esmero, a congregação vai se alegrando aos poucos, “morde a língua” no final, e se une novamente, a exemplo da Última Ceia. “Beba por estar feliz, mas nunca por se sentir extremamente infeliz. Nunca beba quando estiver infeliz por não ter uma bebida, ou irá parecer um triste alcoólatra caído na calçada. Mas beba quando, mesmo sem a bebida, estaria feliz, e isso o tornará parecido com um risonho camponês italiano. Nunca beba por precisar disso, pois tal ato racional é o caminho para a morte e o inferno. Mas beba por não precisar disso, pois beber irracionalmente é a antiga fonte de saúde do mundo.” CHESTERTON, G. K. Hereges (Cap. VII). 
A retirada das tropas inglesas de Dunkirk em 4 de junho de 1940 abriu caminho para os fascistas italianos invadirem a França em 10 de junho, e os nazistas ocuparem Paris sem qualquer resistência, quatro dias depois. Lá, o casal de namorados Rick e Ilsa viviam em constante “lua de mel” quando são obrigados a se separar. Rick Blaine (Humphrey Bogart) abriu imediatamente uma boate no Marrocos francês de Vichy, sendo rota de fuga para a América e Portugal. O expatriado americano, preocupado apenas com a sua clientela, tentou se manter indiferente ao caos até dezembro de 1941 ao receber a visita de um fugitivo tcheco de um campo de concentração acompanhado da sua esposa para a surpresa e a desilusão do proprietário. Isso despertou a consciência e o espírito patriota do empresário que mandou tocar imediatamente A Marselhesa, abafando o hino alemão à capella. A partir daí, o apaixonado pela canção As Time Goes By ajuda todos os refugiados que o procuram, a começar pelo algoz tcheco, Victor Laszlo (Paul Henreid) e a sua bela esposa Ilsa Lund (Ingrid Bergman). Casablanca (1942), disponível na HBO Max, continua na mente e no coração da crítica e do público até hoje, incluindo Steven Spielberg e Woody Allen, fãs incondicionais do diretor Michael Curtiz. A trilha sonora do mesmo compositor de King Kong, E o Vento Levou contribuiu para os momentos mais românticos da história do cinema: “Nós sempre teremos Paris…”
Antes do estouro da Segunda Guerra Mundial, Frank Capra já tinha dirigido os clássicos inspiradores: Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936), Do Mundo Nada se Leva (1938) e A Mulher Faz o Homem (1939), porém, a euforia da guerra o fez produzir documentários panfletários sobre o assunto, causando-lhe o remorso necessário para fundar o próprio estúdio independente. Assim, um dos melhores cineastas de todos os tempos, reuniu o elenco perfeito para a sonhada obra-prima autobiográfica que acabou sendo exibida na véspera de Natal de todas as TVs do país, graças ao inexplicável fracasso de bilheteria que levou a falência do estúdio, cujos direitos autorais ficaram confusos. A Felicidade Não Se Compra (1946), disponível no Telecine e no Prime Video, ensina que a vida é como ela é, e não como queremos que ela seja. Na trama, George Baily (James Stewart) almejava ser rico, viajar pelo mundo e se alistar no exército, mas é seu irmão que se torna um grande herói de guerra, enquanto aquele que salvou a sua vida na infância se casa com Mary Hatch (Donna Reed), antes da sua empresa ir à falência por causa do inescrupuloso Mr. Potter (Lionel Barrymore). Desesperado, George Baily se joga da ponte, mas é salvo a tempo pelo seu anjo da guarda, graças às orações fervorosas da família, renascendo das águas batismais. Mais tarde, o enviado alado de São José lhe explica que a cidade de Bedford Falls se tornaria um prostíbulo a céu aberto caso Baily não tivesse nascido. Por esse motivo, o pai de família decide administrá-la antes de Mr. Potter, sendo o homem mais rico da cidade. “Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos. Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão” (O Evangelho Segundo O Espiritismo).

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