09/12/2022 às 00h40min - Atualizada em 09/12/2022 às 00h40min

​Já é Natal na Primeira Guerra Mundial

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

O motivo da Primeira Guerra Mundial é o mesmo de todas as outras que ocorreram nos últimos 300 anos, pelo menos: um acordo político de paz mal feito com os responsáveis pelo conflito ao invés de prendê-los, ressarcir os soldados honrados que arriscaram suas vidas e o povo sofrido que passou fome. Da mesma forma, o Banco Central Americano interfere artificialmente na economia mundial com o interesse em solucionar uma crise dando início a outra, num eterno círculo vicioso. Assim, a Convenção de Viena em 1814 acabou com a Era Napoleônica, e a partir daí nasceu a Santa Aliança entre as monarquias da Rússia ortodoxa, da Prússia protestante e do Império Austro-húngaro católico, visando resgatar a fé cristã na Europa contra os iluministas liberais: os franceses, ingleses e americanos. Ocorre que na Revolução de 1848 a Rússia socorreu a Áustria que não retribuiu o favor na Guerra da Crimeia, comprometendo a Santa Aliança. Para piorar, explode a Guerra Franco-Prussiana em 1871 e a Alemanha que fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico foi unificada. Isso contribuiu para a Crise dos Balcãs em 1905 quando a Áustria entra em guerra com a Sérvia por causa do assassinato do príncipe Ferdinando, e a Rússia, aliada da Sérvia, pressionada pelos partidos políticos do país, acaba se unindo à França e à Inglaterra contra a Alemanha e o Império Austro Húngaro. A Primeira Guerra marcou o fim das monarquias Romanov, Habsburgo, Hohenzollern e do Império Otomano, mas a Alemanha não foi punida adequadamente e as outras superpotências saíram fortalecidas. A Rússia em vez de virar a Terceira Roma virou comunista, expulsando todos os padres do país.
Feliz Natal (2005) é um filme franco, germano, britânico, belga e romeno, baseado numa história real, disponível na BP Select, sobre a celebração do Natal de 1914 entre os soldados de trincheiras inimigas a partir de 6 metros de distância. O espírito da Santa Aliança floresceu naquele front, e os franceses católicos, os alemães ortodoxos e os escoceses anglicanos devidamente caracterizados, primos por monarquia, entoaram unidos a canção universal Noite Feliz, antes de rezar uma missa na língua universal, o latim, e jogar futebol, juntos na neve. O corajoso combatente que gerou aquela confraternização inusitada foi o tenor Nikolaus Sprink (Benno Fürmann), acompanhado de gaitas escocesas e da sua bela esposa dinamarquesa, a soprano Anna Sørensen (Diane Kruger), seguido mais tarde do Tenente judeu alemão Horstmayer, interpretado pelo espanhol Daniel Brühl, filho do cineasta paulistano Hanno Brühl com a espanhola Marisa González Domingo. A Primeira Grande Guerra marcou a transição entre o mundo antigo e a era moderna: do cavalo ao tanque de guerra, da baioneta à metralhadora, lança-chamas, gás de cloro, gás mostarda e fosgênio. Os primeiros aviões de combate obrigaram os inimigos a construir trincheiras em zigue-zague com arame farpado, formando muita lama e milhares de ratos ao redor. Uma guerra colonialista no auge do nacionalismo, início do marxismo e da psicanálise.
Mais tarde no Front Ocidental de 1916 dois generais pedantes em busca de promoção, com o bucho cheio de lagosta e o ego nas nuvens, ordenam um ataque suicida ao Formigueiro Alemão do outro lado da Terra de Ninguém. Os sobreviventes que deveriam ser recebidos como heróis, foram condenados à morte pelo tribunal militar francês ao recuarem da forte artilharia e do pesado bombardeio intermitente. Glória Feita de Sangue (1957) com Kirk Douglas foi a primeira obra-prima de Stanley Kubrick, banida da França por 20 anos. O único registro desse vergonhoso julgamento real foi o romance homônimo, escrito em 1935 por Humphrey Cobb que deu origem ao filme estrelado pela futura esposa do diretor por 40 anos, Christiane Kubrick.
Sam Mendes inspirado nas histórias do avô, Alfred Mendes, utiliza dois incríveis planos sequência com belíssimas imagens de natureza bucólica, cachoeiras deslumbrantes, campos arborizados e ruínas históricas, na maior demonstração artística sobre a Primeira Guerra já feita. Ambientado em 06 de abril de 1917 os cabos Schofield (George MacKay, de Capitão Fantástico) e Blake (Dean-Charles Chapman, de Game Of Thrones) ficam encarregados de entregar uma mensagem urgente, cujo objetivo é cancelar a ofensiva de 1.600 soldados ingleses contra os alemães que recuaram estrategicamente com o intuito de atrair os inimigos para uma emboscada mortal. A trama relembra o hercúleo esforço do mensageiro ateniense Fidípides que teria percorrido 246 quilômetros em 2 dias por um terreno acidentado entre o campo de batalha de Maratona até Atenas com o objetivo de anunciar aos conterrâneos a vitória contra os persas. O sentido de urgência era pelo temor dos derrotados se vingarem imediatamente contra aquela cidade desprotegida. Sua morte por exaustão deu origem a ultramaratona esportiva. O filme 1917 está disponível na Netflix.
Bem antes do Armistício, estreava o curta metragem mais ousado e mais popular, criticamente e comercialmente de Charlie Chaplin, ao satirizar com classe os horrores da Primeira Guerra. Carlitos nas Trincheiras (1918) apresentou na época um novo estilo de comédia, trazendo cenas hilárias de inundação no front, muita chuva, lama e gases tóxicos, representado por um Queijo Limburger, jogado do outro lado da trincheira num oficial alemão irritadiço.

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