17/11/2022 às 23h28min - Atualizada em 17/11/2022 às 23h28min

​Dia da Consciência Negra

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

A escravidão nos EUA inicia com a independência do país em 1776, até a revogação de todas as Leis Democratas Jim Crow, principalmente a Lei dos Direitos Civis em 1964 e a Lei dos Direitos ao Voto em 1965. No limiar do século XIX com a rápida expansão da indústria do algodão a maioria dos estados agrícolas do sul dependiam de mão de obra escrava para sobreviver, ao contrário do norte industrializado onde a escravidão já não era tão necessária.
Em 1841, o violinista Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) era um negro livre que vivia em Nova York uma vida relativamente confortável ao lado da mulher e das duas filhas, até ser iludido por uma proposta financeira em Washington onde acaba sendo dopado e sequestrado para trabalhar nas fazendas do estado da Louisiana sob nova identidade de modo a driblar a lei escravocrata. Solomon se destacava entre os escravos comuns de lá devido ao seu vasto conhecimento em carpintaria, engenharia e música, gerando ciúmes nos fazendeiros, principalmente John Tibeats (Paul Dano) e Edwin Epps (Michael Fassbender) que distorcia os versículos bíblicos do Velho Testamento com o intuito de justificar  suas atrocidades. Lupita Nyong’o interpreta a escrava predileta de Epps, abusada sexualmente com frequência que sofria calada sem reagir. Ocorre que Solomon se encontra de forma inusitada com Samuel Bass (Brad Pitt) e o abolicionista entra em contato com o advogado do pai de família injustiçado, garantindo-lhe a sua volta pra casa em segurança após 12 Anos de Escravidão (2013), disponível no Star Plus.
Em 1935 durante a Grande Depressão Americana a esposa do xerife Royce (Ray Baker) que mal sabia assinar um cheque tem agora que manter a sua fazenda no Texas após a morte acidental do marido. Pressionada pelo banco a vender aquele precioso bem de família, Edna Spalding (Sally Field) conta com a ajuda de um negro ameaçado pela Ku klux Klan (Danny Glover), um cego na Primeira Guerra Mundial (John Malkovich) e os dois filhos pequenos, Frank (Yankton Hatten) e Possum (Gennie James), disposta a colher de sol a sol a maior quantidade de algodão possível para vendê-los a tempo e por um bom preço, a fim de sanar as dívidas da sua propriedade. A persistência da valente empreendedora vale a pena, apesar da pressão do gerente do banco e do furacão que arrasou Waxahachie. Um Lugar no Coração (1984), disponível na BP Select, ensina o valor do perdão no momento da comunhão, “não até sete, mas até setenta vezes sete”, seja por adultério ou crime famélico, idêntico ao do clássico de Victor Hugo, Os Miseráveis, ao som de “In the Garden” durante a leitura de 1 Coríntios 13: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine”.
Cinebiografia de Frank Anthony Vallelonga, conhecido por interpretar  mafiosos nos clássicos: O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros, Donnie Brasco e na famigerada série da HBO: Família Soprano onde ganhou notoriedade como Carmine Lupertazzi. O roteirista Nick Vallelonga que acompanhou de perto a carreira do pai resolveu levar às telonas a sua viagem emocionante pelo sul dos EUA durante oito semanas antes do Natal de 1962 quando o ator foi motorista e segurança de um dos maiores pianistas dos últimos tempos, ao estilo Conduzindo Miss Daisy enquanto a boate Copacabana onde ele trabalhava permanecia fechada para reformas. A magia do vencedor do Oscar daquele ano é a inversão estrutural entre o orgulhoso afrodescendente e o semianalfabeto caucasiano de palavreado chulo das ruas de Nova York. Don Shirley (Mahershala Ali) é um homem culto e requintado de postura ereta, fala mansa e delicada, em oposição ao italo-americano, morador do Bronx que comia como um porco e de boca cheia. Curiosamente o artista fã de Chopin e Beethoven não gostava de se misturar com os negros tampouco ouvir música da sua etnia, ao contrário do truculento guarda-costas que ama Little Richard e Aretha Franklin. Apesar das notórias diferenças culturais, hábitos e costumes antagônicos, os dois se completam, ensinando uma magnífica lição sobre comportamento humano e tolerância mútua. O fiel Tony Lip (Viggo Mortensen) a todo momento intimidava os racistas de plantão em favor do músico que morava ao lado do Carnegie Hall. Shirley, em retribuição ao inocente carcamano de bom coração, utilizava sua fama e influência na alta sociedade, livrando-o de enrascadas corriqueiras. Green Book: O Guia (2018), disponível na HBO Max e no Prime Vídeo é o livro que indicava hotéis para hospedar afrodescendentes.
Conduzindo Miss Daisy (1989) estreou no fim da era Reagan, do Comunismo e do Muro de Berlim. A película dirigida por Bruce Beresford, disponível na HBO Max, aborda as transformações socioeconômicas, racismo e anti-semitismo de forma sutil e divertida, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial e início da Primeira Guerra Fria em 12 de março de 1947. Alfred Uhry, autor do roteiro cinematográfico e da peça homônima  (primeira parte da Trilogia de Atlanta), se inspirou no pai, Ralph K. Uhry, na avó, Lena Fox, e no motorista dela, Will Coleman, que dirigiu para a família por 25 anos, sendo também um mordomo de luxo, auxiliado pela governanta da casa. A inesquecível Jessica Tandy dá um show de interpretação na pele da judia rica, teimosa e ranzinza, porém encantadora. Daisy Werthan é uma professora viúva e aposentada que ganha a simpatia do chofer analfabeto ao longo do tempo e o ensina a ler e escrever, tornando-se o seu melhor amigo, mesmo sem admitir, interpretado com a classe e a elegância costumeira de Morgan Freeman, cujo patrão Boolie Werthan, vivido pelo Caça-Fantasma Dan Aykroyd, rege o tom cômico da comédia dramática inesquecível.

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