11/11/2022 às 00h25min - Atualizada em 11/11/2022 às 00h25min

Os dois maiores clássicos de Jane Austen

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Uma das maiores escritoras de todos os tempos publicou seis romances em apenas 41 anos de vida. Assim como Tolkien, Jane Austen (1775 – 1817) teve influências de Shakespeare e do catolicismo, sendo alfabetizada pelo pai e tutor, um reverendo anglicano extremamente culto que reunia com frequência toda a comunidade de Steventon na sua casa, visando dar aulas de literatura e religião, principalmente. A precursora do romance moderno em oposição ao romantismo piegas e superficial anterior, acreditava no amor puro e verdadeiro, numa época em que as mulheres se casavam apenas por interesse, pois não lhes era permitido herdar a propriedade do pai, arrumar emprego e lutar na guerra. A autora que detestava a Revolução Francesa foi considerada feminista pelos simpatizantes, embora as virtudes e a dignidade humana dos seus personagens transcendiam ao sexo. Os protocolos sociais exagerados do início do século XIX eram descritos com muito bom humor e elegância, o que afastava os instintos animalescos de sobrevivência, reforçando a nobreza espiritual da cor do céu, desassociada de posses materiais. Os bons e maus partidos das prováveis noivas ingênuas eram apresentados pela escritora inglesa com ironia e sarcasmo junto da renda anual, cujo final feliz simboliza a esperança onde todas as coisas se harmonizam conforme o mito humano.
Na cinebiografia Amor e Inocência (2007), a ótima pianista do interior da Inglaterra planta e cria porcos, enquanto escreve romances num ambiente alegre e descontraído ao lado da melhor amiga, a irmã Cassandra (Anna Maxwell Martin) que desenhou o seu único retrato conhecido. Apesar das dificuldades, o seu namorado Tom Lefroy (James McAvoy) lhe proporcionou momentos dignos de contos de fadas, sem a típica pompa aristocrática da literatura. Com a publicação de Razão e Sensibilidade em 1811 e Orgulho e Preconceito dois anos depois, Jane Austen (Anne Hathaway) obteve pela primeira vez uma renda financeira, mantendo o anonimato até a morte precoce.
 Em Razão e Sensibilidade (1995), disponível na BP Select, Elinor é a mais pura razão, enquanto Marianne é inteiramente sensibilidade. São a calma e a insensatez, garoa e tempestade. A personagem interpretada por Emma Thompson, que também escreveu o roteiro da adaptação dirigida por Ang Lee, devia  permanecer sóbria e serena o tempo todo, após a morte do pai. A jovem centrada, administrava o modesto chalé da família, cercado de caricaturas humanas desequilibradas como a mãe, interessada apenas em arrumar um marido para as filhas. Marianne (Kate Winslet) foi prometida ao encantador John Willoughby (Greg Wise) antes de ser trocada por uma mulher mais rica. Essa desilusão quase matou a Srta Dashwood de febre infecciosa, o que a fez enxergar o valor do coronel Brandon (Alan Rickman), cujo amor desinteressado, sem ostentação, conquistou a garota impulsiva na hora certa. A voz da experiência do militar taciturno complementou aquela juventude desvairada. Ao mesmo tempo, a compenetrada Elinor, Amava, Trabalhava, Esperava e Perdoava, pacientemente, até ser pedida em casamento por Edward Ferrars (Hugh Grant) após o cavalheiro que quase foi padre romper o noivado com Lucy Steele. Maridos de grande caráter, incapazes de se expressar externamente. 
Orgulho e Preconceito foi estrelado por Colin Firth na famosa minissérie da BBC de 1995 que originou uma divertida trilogia para o cinema em 2001, vivida pela inconfundível Bridget Jones (Renée Zellweger), disposta a deixar de ser titia e perder peso depois dos 30. Os pretendentes que “duelavam” pelo seu amor foram os próprios Colin Firth e Hugh Grant em cenas memoráveis de uma autêntica comédia romântica, inesquecível.
Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016) é uma paródia disponível na Netflix e no Prime Vídeo onde as cinco irmãs eram exímias lutadoras de artes marciais, lideradas por Elizabeth Bennet (Lily James), a fim de combater uma população de zumbis inteligentes e outra de zumbis racionais, impossível de identificar a olho nu sem o auxílio do especialista em mortos-vivos, Fitzwilliam Darcy (Sam Riley), apesar dos empecilhos criados pela megera Lady Catherine de Bourgh (Lena Headey), inspirada em Lady Gresham, personagem real interpretada por Maggie Smith no longa já citado, dirigido por Julian Jarrold em 2007.
Por fim, na adaptação do mesmo diretor de Anna Karenina, Joe Wright, as irmãs mais velhas, Jane (Rosamund Pike) e Elizabeth Bennet (Keira Knightley) eram as que se complementavam, baseado na personalidade da escritora, enquanto as mais novas (Mary, Kitty e Lydia) só se metiam em enrascadas amorosas. No entanto, o excesso de otimismo de Jane Bennet que não enxergava maldade nas pessoas quase levou a  loira à perdição, antes de se firmar com o Sr Bingley (Simon Woods). Ao contrário de Lizzy, uma garota de apenas 20 anos, inteligente, perspicaz e perceptiva, embora preconceituosa com o caridoso Sr Darcy (Matthew Macfadyen) que salvou a honra da família Bennet às escondidas, como ensina Jesus a fazer o bem sem ostentação. Ocorre que o orgulho do Sr Darcy mascarou toda a sua humildade, tumultuando o relacionamento dos dois, confundindo Orgulho e Preconceito (2005), disponível na Netflix. Lizzy toma consciência, determinada em conhecer a verdade, pois a verdade os libertará, felizes para sempre.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.