Ditadura com Oligarquia

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

O professor descolado de pólo aquático Rainer Wenger (Jürgen Vogel) ministra um curso de sete dias sobre autocracia, cujo objetivo é demonstrar que sociedades democráticas podem ser facilmente corrompidas pela ideologia sedutora nazifacista. O fã da banda Ramones se inspirou no experimento real do professor de história do ensino médio, Ron Jones, Terceira Onda, ocorrido na Califórnia em 1967. Baseado na Perestroika e nos camisas negras italianos (camicie nere), o “Duce” uniformizou seus pupilos carentes, de vida vazia e mentalmente instáveis, com o intuito de deixá-los mais iguais, utilizando sinais que lembram a saudação romana copiada por Hitler. Os adolescentes, passaram a odiar em poucas horas as tribos contrárias ao movimento revolucionário A Onda (2008), na BP Select, tornando-se mais violentos a cada dia: no colégio e em casa, como manda a cartilha do nazista Carl Schmitt, o criador do ''nós contra eles”. As chamadas Big Techs: Google, Facebook, Youtube, Twitter e Amazon ditam atualmente o que se fala, pensa e age, de modo a suprimir opiniões contrárias, fora da bolha. Da mesma forma que Harvard virou símbolo de status e poder antigo ao ser substituída pelo centro de poder global no Vale do Silício, cujo PIB é maior que o do Brasil. Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), o bilionário mais jovem do planeta, estudou em Harvard no começo do século, e após o fim do namoro com Erica Albright criou o Facemash. O site de relacionamentos tinha a função de classificar as alunas da universidade tradicional de acordo com a sua aparência. Após o escândalo, o arrogante programador amargurado ganhou apoio dos gêmeos engomadinhos da equipe olímpica de remo; maus conselhos do corruptor e cofundador do Napster, Sean Parker (Justin Timberlake) que transferiu a sede do Facebook até Palo Alto, na Califórnia, e o investimento financeiro do seu único amigo, o brasileiro, Eduardo Saverin (Andrew Garfield). Ocorre que o dono de A Rede Social (2010), disponível na BP Select, HBO Max e Star Plus, traiu todos os sócios e acabou sem nenhum amigo de verdade, incluindo a sua advogada que recusou sair com ele logo após a vitória jurídica do cliente: “Você não é uma pessoa má, mas se esforça muito para isso”. Gattaca — A Experiência Genética (1997), disponível na BP Select, representa uma sociedade distópica, obcecada pela perfeição, nos moldes de Admirável Mundo Novo. Lá, agentes do governo, especializados em manipulação genética, trabalham em construções à la Niemeyer, de modo a fomentar relacionamentos, a cor dos olhos, do cabelo e da pele da população. O sistema biológico, hierárquico e pré-determinado, visa substituir a meritocracia, alterando o genoma dos bebês de proveta, imunes à maioria das doenças. Enquanto os transhumanos circulam no topo da pirâmide, os degenerados sem mobilidade social alguma, nascidos de pai e mãe, limpam o chão para os privilegiados passarem. Vincent Freeman (Ethan Hawke) é um excelente nadador no mar bravo e imprevisível onde o Estado não interfere. O jovem esforçado, nascido de parto natural, precisa se superar para voltar à sua Pátria Espiritual, no espaço sideral. Com a ajuda da namorada, Irene (Uma Thurman) o Filho de Deus usa a identidade do atleta aposentado Jerome Eugene Morrow (Jude Law), que ficou paraplégico ao ganhar a medalha de prata, e inconformado, tentou o suicídio. Elia Kazan foi membro do Partido Socialista da América, formado em 1901, e ajudou a fundar o Partido Comunista Soviético em 1912 por Vladimir Lenin, mas se arrependeu a tempo de denunciar os companheiros hollywoodianos ao Comitê de Atividades Antiamericanas após a Segunda Guerra Mundial que hostilizaram o cineasta na cerimônia do Oscar de 1999. A atitude ousada do brilhante diretor, equivale a do ex-boxeador fracassado Terry Malloy (Marlon Brando) e a do Padre (Barry Karl Malden) que levou cusparadas durante o seu discurso emocionante, evocando o espírito cristão das pessoas que se sacrificam para testemunhar a verdade, mesmo sob grave ameaça de morte, a exemplo de Jesus. O funcionário truculento das docas nova-iorquinas que cuida de pombos, peita o sistema e combate o crime organizado, motivou até Rocky Balboa em 1976 com seu discurso inspirador: “Eu poderia ter tido classe. Eu poderia ter sido um lutador. Eu poderia ter sido alguém, ao invés do vagabundo que sou”. Na trama, o ex-pugilista facilita o assassinato do irmão da jovem católica Eva Marie Saint (Edie Doyle), mas se arrepende a tempo de denunciar o mandante do crime, Johnny Friendly (Lee J. Cobb). O mafioso é o presidente do Sindicato de Ladrões (1954), disponível na BP Select, análogo ao líder comunista Stalin que controlava o emprego, impedindo a ascensão social do proletariado ao invés de auxiliá-los. No mesmo ano da obra- -prima de George Orwell (1984), cinco anos antes da queda do Muro de Berlim, o Ministro da Cultura da República Democrática Alemã cobiça a namorada do dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch), a bela atriz Christa-Maria (Martina Gedeck). Com a intenção maquiavélica de separá-los, o socialista grampeia o apartamento do escritor e manda o solitário agente da Stasi, Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), a monitorá-los 24 horas. Wiesler leva uma vida infeliz, incapaz de jogar futebol ao lado de uma criança, pura e inocente. No entanto, conforme o espião acompanha de perto a intimidade do casal, vai aos poucos se humanizando, a ponto de chorar ao ouvir a Sonata para um homem bom (Appassionata), assim como Lênin cogitou desistir da revolução, hipnotizado pela beleza da composição de Beethoven. O ator Ulrich Mühe trabalhou como guarda da polícia secreta alemã na vida real, impedindo fugas para o lado capitalista, mas foi dispensado após contrair úlceras estomacais em razão do estresse diário que deu origem a um câncer de estômago fulminante, alguns meses depois da estreia de A Vida dos Outros (2006), disponível na BP Select. A RDA tinha 17 milhões de habitantes, 100 mil empregados e 200 mil informantes à serviço da Ditadura do Proletariado