​Férias: sinônimo de animação

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

As principais animações da Disney/Pixar estão se tornando cada vez mais chatas e vazias, pois a criatividade que era a marca registrada da empresa em todo o século XX foi substituída por um insuportável viés panfletário, politico-ideológico. Enquanto as animações descartadas ou escondidas no catálogo do Disney Plus contém ótimas mensagens ao público infanto-juvenil. Se Toy Story 4 já apresentava sinais de desgaste em 2019, imagine um spin-off. Lightyear (2022) começa bem na primeira meia hora, lembrando a primeira cena emocionante de Up — Altas Aventuras e o paradoxo temporal chocante, apresentado em Interestelar. Isso até a chegada dos parceiros identitários que atrapalharam o patrulheiro espacial Buzz em vez de ajudá-lo a derrotar a tropa de robôs à la Darth Vader. Com exceção ao gatinho robô Sox que rouba a cena e ainda o ajuda a atingir o Hiperespaço. Seria melhor ter ido ver o filme do Astronauta da Turma da Mônica.
Red: Crescer é uma Fera (2022), é outra animação chata e lacradora sobre essa nova geração mimada e intransigente que faz tudo o que quer; luta por direitos, esquivando-se de deveres e responsabilidades, sem aceitar opiniões contrarias. O Panda-Vermelho representa os obstáculos desses rebeldes infantilizados sem propósito algum que  perdem o controle facilmente.
Tico e Teco: Defensores da Lei (2022) é a prova definitiva de que a Disney quando quer produz animações de qualidade, fazendo piadas inteligentes e criativas de duplo sentido, somado á diversos símbolos, com o intuito de agradar adultos e crianças. Tal como na cena do aroma do queijo, referindo-se ao efeito da cocaína no dependente químico. A trama homenageia Uma Cilada Para Roger Rabbit e o famoso seriado homônimo investigativo que passou na Tv brasileira nos anos 1990, cujo colega de trabalho dos detetives esquilos (o rato Monterey Jack) está desaparecido. Por esse motivo a dupla se reúne novamente a fim de encontrá-lo. O Live-Action denuncia a indústria pirata, especificamente as versões toscas de má qualidade. O chefe do tráfego antropomórfico é o amargurado Peter Pan adulto ao perder o emprego na Disney. O criminoso com barba na cara sustenta-se conforme a falsificação de personagens originais em 2D, visando driblar os direitos de imagem. Isso proporciona a animação resgatar uma infinidade de ídolos esquecidos pelo público desde a década de 1940 ou os heróis de outros estúdios como um Batman modificado e o He-Man dos anos 1980, sem preocupação de pagar direitos autorais. Nesse sentido quem rouba a cena é o Sonic Feio. A aparência do porco-espinho deixou os fãs furiosos, antes de ser alterada para estrelar seu primeiro longa-metragem em 2020. Os próprios esquilos e o urso Balú estavam na sarjeta antes dessa fantástica animação estrear no Disney Plus.
Após Bolt, Big Hero 6 e Moana, o diretor e roteirista Chris Williams embarca em definitivo na Netflix, comandando a melhor animação do ano, até agora. A Fera do Mar (2022) é uma história original, criada pelo próprio cineasta ao misturar King Kong, Pinóquio, Moby Dick e No Coração do Mar. Esse último estrelado por Chris Hemsworth, Cillian Murphy e Tom Holland. Durante a Era de Ouro dos Piratas a monarquia ligada ao establishment contava mentiras sobre os monstros marinhos, com intenção de ser publicada nos livros de história. O verbete monstro vem do latim monstrum: objeto ou ser de caráter sobrenatural que anuncia a vontade dos deuses. A narrativa falsa e difamatória tinha o objetivo de atrair os leais e honrados caçadores de olho de vidro e perna de pau, interessados em extrair a pele escamosa dessas criaturas, tão valiosa quanto o couro de baleia. Ocorre que a caça predatória provocou a ira dos piores gigantes adormecidos, atingindo em cheio a tripulação do navio "O Inevitável", liderado pelo lendário Capitão Crow e o seu fiel braço direito, Sarah Sharpe, o filho adotivo Jacob Holland e a inusitada garotinha órfã Maisie Brumble, financiados pela Coroa. A imensidão azul espelhada está divina na animação, equiparada às verdades contidas no código de honra dos piratas.