15/06/2022 às 22h47min - Atualizada em 15/06/2022 às 22h47min

​A Hora do Cavaleiro

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Os cavaleiros medievais seguiam à risca um código de honra, com destaque a sinceridade, honestidade e a honra. Além de proteger os indefesos e se entregar de corpo e alma à Igreja e à Cavalaria. Fé, esperança e caridade são virtudes teologais, enquanto prudência, temperança, justiça e fortaleza, virtudes cardeais. Os mais conhecidos foram os Cavaleiros da Távola Redonda, entre eles, o mais fiel ao Cristo foi Gawain (Dev Patel) que no mais recente trabalho do diretor David Lowery (Sombras da Vida) era aspirante de cavaleiro, ansioso pelo primeiro ato de bravura. A Lenda do Cavaleiro Verde (2021), disponível no Prime Vídeo, foi inspirado no poema Sir Gawain e o Cavaleiro Verde, escrito do século XIV por um autor desconhecido e adaptado para o inglês moderno por JRR Tolkien. A sua jornada rumo ao norte ao encontro dos mortos, inicia-se não por acaso em 31 de outubro, no primeiro dia do ano novo gaélico, Dia de Samhain, o Halloween americano, pois a cor verde é a mistura do azul com o amarelo, entre o Céu e a Terra. Apenas no norte é possível visualizar a constelação de ursa menor, especificamente Polaris que marca o eixo da Terra, onde o jovem desnorteado é tentado três vezes por uma dama comprometida (Alicia Vikander), tão bela quanto Eva, Dalila e Betsabá, mas resiste bravamente, inspirado na Virgem Maria estampada no seu escuro. Porém o medo da morte, antes descobrir que o Cavaleiro sem Cabeça havia sido enfeitiçado pela fada Morgana, prejudicou a sua missão.
A versão estadunidense mais famosa da Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça foi escrita em 1820 pelo americano Washington Irving, adaptado pela Disney em 1949 como As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo. O folclore tradicional afirma que o Cavaleiro era um soldado hessiano morto na Batalha de Forte Washington em 1776, durante Guerra da Independência, decapitado por uma bala de canhão americana, cuja cabeça foi deixada pra trás, enquanto os companheiros enterravam o corpo no cemitério da Antiga Igreja Holandesa de Sleepy Hollow, um vilarejo no condado de Westchester em Nova Iorque, pacato e sonolento como o nome. Esse é o típico caso do espírito desencarnado por morte violenta que ainda não percebeu que está morto. Por isso, busca furiosamente a cabeça desaparecida, munido de uma abóbora iluminada (Jack-o'-Lantern), a fim de clarear o caminho tenebroso. Na adaptação de Tim Burton em 1999, no Telecine, estrelada por Johnny Depp (Ichabod Crane) e Christina Ricci (Katrina Van Tassel), o fantasma não se atreveu a entrar naquela igreja por se tratar de um lugar sagrado. A  Mulher de Branco (La Llorona), citada no conto, faz parte de uma lenda mexicana indígena como a da época colonial, vista na animação ganhadora do Oscar, Viva – A Vida é uma Festa, no seriado Chaves, no longa de terror da Warner, A Maldição da Chorona, e na comédia brasileira, Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro. Enquanto A Mula sem Cabeça é a versão feminina do Lobisomem Brasileiro, fruto de colonização também, após médiuns imigrantes da Península Ibérica divulgarem apavorados ao povoado da sua respectiva capitania o fenômeno sobrenatural. Segundo a lenda católica as “mulheres do padre” ou aquelas que perderam a virgindade antes do casamento na igreja, transformam-se numa mula sem cabeça à meia-noite de lua cheia, de quinta para sexta-feira 13, e, a partir duma encruzilhada, percorrem descontroladas, sete povoados até o sublime alvorecer, ao terceiro canto do galo. O animal irracional, envolto em chamas no lugar da cabeça inexistente, cega pelo pecado, chupa os olhos, unhas e dedos das vítimas que a olharem diretamente nos olhos. O único jeito de quebrar o feitiço é retirar da besta, já esgotada e quase sem forças, uma gota de sangue com um alfinete, ou retirar o cabresto da sua boca. Tal ritual devolverá a sua forma natural, purificada e completamente nua como veio ao mundo. Simbolismo semelhante ao do sangue do cordeiro judaico, imolado. Tudo está conectado. 
The Batman, de Matt Reeves, disponível na HBO, também começa em 31 de outubro em homenagem à clássica HQ, O Longo Dia das Bruxas, que virou animação recentemente. Porém, a adaptação cinematográfica é bem diferente, apesar do espírito investigativo do morcego florescer pela primeira vez no cinema, graças a sua ótima parceria com o policial Jim Gordon (Jeffrey Wright) e a Mulher Gato (Zoë Kravitz). Contudo, Selina Kyle e o seu pai biológico deveriam ter um capítulo à parte na provável sequência, o que daria mais espaço ao Pinguim (Colin Farrell) e ao próprio Gordon. Entre os vilões quem roubou a cena foi o Charada (Paul Dano) ao abandonar aquele personagem caricato que marcou a carreira de Jim Carrey, encarnando dessa vez num psicopata, análogo à John Doe, de Se7en – Os Sete Crimes Capitais. Robert Pattinson como o Batman, supera Michael Keaton e Ben Affleck, pois Christian Bale com a voz robótica e um traje que limitava os  movimentos, foi ofuscado pelo Coringa de Heath Ledger, ficando com o título de melhor Bruce Wayne do cinema.
A nova série da Marvel, Cavaleiro da  Lua, disponível no Disney Plus, é um Batman vestido de branco com Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), ambientado no Egito ao invés de Gothan City. Oscar Isaac dá um show, interpretando dois personagens ao mesmo tempo aprisionados no umbral egípcio, no 6º episódio, idêntico ao da animação da Pixar, Soul. Um hospital psiquiátrico infernal onde Marc e Steven são pacientes do Doutor Harrow (Ethan Hawke) que tenta manipulá-los de todas as formas, a fim de permanecerem lá por toda a eternidade. Ocorre que o consultório, na verdade, é um barco navegando pelo Tuat, cuja mulher com cabeça de hipopótamo (a deusa egípcia Tuéris), pesa seus corações na Balança da Justiça. Se os corações estiverem equilibrados, os mortos podem entrar nos Campos de Junco. A balança equilibrada significa morrer em paz, sem remorso algum; perdoar e esquecer, desapegado da matéria a exemplo de Jesus que desceu à Mansão dos Mortos a fim de amparar Judas.
O Homem do Norte, somente nos cinemas, é um dos melhores e mais fiéis épicos sobre a cultura e a mitologia nórdica que lembra as últimas temporadas da série Vikings ao se passar na Islândia e na Rússia. O novo trabalho do mesmo diretor de A Bruxa e o Farol, Robert Eggers, pode ser comparado à jornada evolutiva do Rei Leão em razão da trama simples de vingança, cuja espada é tão importante para o guerreiro Viking quanto Excalibur ao Rei Arthur. Amleth (Alexander Skarsgård) que quase foi morto pelo tio (Claes Bang) viria a inspirar Hamlet de William Shakespeare. No elenco temos ainda Nicole Kidman, Ethan Hawke, Björk e as figurinhas carimbadas do cineasta, Anya Taylor Joy e Willem Dafoe.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.