28/04/2022 às 21h55min - Atualizada em 28/04/2022 às 21h55min

​“Guia rebaixada”, um século de privilegio de veículos?

Nadir Mezerani*

Na conhecida “dinâmica da cidade” é natural que alguma de suas diretrizes urbanísticas, no tempo, não se consolide e se torne objeto de análise e crítica visando atualização. Cabe ao Estado, como dever político, entender a filosofia desta evolução e a implantar.
Quando esta iniciativa não é assumida, por parte dos dirigentes públicos, é democrático que a sociedade assuma este papel, como recurso, exigindo ação concreta às suas necessidades e reivindicações. Hoje a sociedade, mais crítica, sabe avaliar o grau de interferência do veículo no urbanismo. Este fenómeno mundial cria a necessidade de alertas em busca de reverte-lo, em benefício do homem na terra.
Como observador atento, urbanista e tendo à imprensa como porta voz damos guarda aqui, nesta edição, de uma visão crítica a ser submetida aos nossos leitores, extensiva à sociedade!
Hoje criticamos as “guias rebaixadas” nos passeios da cidade 
Não faltam leis normativas municipais, de padronização dos passeios públicos ou calçadas. A última lei da PMSP é de 2018, que ainda realça os rebaixamentos de guias para os veículos acessarem seus abrigos. A nosso ver são as guias rebaixadas que impedem uma boa acessibilidade nas calçadas.
Os passeios públicos exercem inúmeras funções e as várias tentativas, por parte da PMSP, em atender esses objetos com projeto uniforme tem sido infrutíferas em nossa imensa cidade. Não tem resultados satisfatórios, não garantem mobilidade, e sequer tem força estética. As guias rebaixadas, criam conforto aos veículos e aos seus usuários, mas transferem desconforto a quem caminha na superfície da calçada. Elas desnivelam o passeio.
A meu ver, mesmo que a revistam com material maravilhoso, sem a eliminação das guias rebaixadas, ela nunca irá oferecer boa mobilidade. A calçada com guia normal, constante, viabiliza superfície em plano uniforme ao caminhar e com caimento de 3% necessário a conduzir suas águas às sarjetas.
Em determinados locais há tantas guias rebaixadas que chegam a anular o objetivo protetor da própria guia, para tornar a calçada perigosa quando veículo se desgovernar. Qualquer chuva transfere suas águas para cima das calçadas, sem seguir seu caminho pela sarjeta. Nosso bairro de Pinheiros é suficiente para diagnosticar vários males, extensivos à cidade.
Um quarteirão com guias rebaixadas e contínuas cria privilégio ao veículo contra as necessidades do pedestre. Pode-se supor que o pedestre, vítima deste descaso, ainda reverencia o veículo que lhe dá passagem. É fácil sentir que as teóricas leis não vencem a materialidade do veículo confortável, com ar condicionado. 
Basta um olhar atento, às calçadas, e vemos a quantidade enorme de rampas e ajustes irregulares nas superfícies que as revestem, tanto junto a sarjeta como junto às suas garagens, nos imóveis.
É enaltecedora a ‘ginástica’ que um pedreiro faz ao tentar tornar um passeio de se caminhar, sendo obrigado seguir até uma guia rebaixada. Somente há poucas décadas a PMSP tornou obrigatório projetos de novas edificações particulares não interferissem com seus acessos, rampas e degraus, sobre o passeio público. Absurdo superado, apenas em legislação.
Caso tenhamos sucesso neste pleito, basta redesenhar o ângulo abrupto da guia de concreto, já pré-fabricada, com quina arredondada. Para identifica-la, onde houver necessidade de veículos cruzarem os passeios, bastará pintá-la de amarelo ou vermelho! A nova guia, com quina arredondada, sem rebaixo, certamente irá sanar as consequências deste mal. Será automaticamente indutora de qualidade à resolução das funções das calçadas das ruas da cidade. 
É importante lembrar as principais funções de um passeio público: permitir acesso aos pedestres, livre, seguro, iluminado; conduzir as águas pluviais às sarjetas com porcentagem de caimento uniforme; propiciar permeabilidade à água; acomodar vegetações; cobrir encanamento de águas dos edifícios até as sarjetas; atender aos portadores de dificuldades motoras; acomodar elementos e equipamentos urbanos.
Não precisa ser idoso para cair em superfícies tortas, com buracos, rampas e degraus. Não precisa ser policial pra ver que há leis que são descumpridas.
Estas funções de acessibilidade correta serão bem menos difíceis de serem resolvidas com projetos profissionais urbanísticos, a partir das guias constantes redesenhadas, sem rebaixos.
O desenho ilustrativo acima traduz nossa proposta de guias uniformes indutoras de qualidade ambiental.
*Nadir Mezerani é arquiteto e urbanista

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