03/02/2022 às 23h27min - Atualizada em 03/02/2022 às 23h27min

​O homem faz o meio, enquanto a fé move montanhas

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

King Richard - Criando Campeãs conta a trajetória das irmãs Venus (Saniyya Sidney) e Serena Williams (Demi Singleton), as duas maiores tenistas de todos os tempos que se destacaram em um esporte elitista como o golf que revelou Tiger Woods, diferente do basquete e do boxe. A trama biográfica é focada em Richard Williams (Will Smith), convicto em levar as filhas ao lugar mais alto do pódio, amparado pela esposa (Aunjanue Ellis) e as outras três filhas do primeiro casamento, unidas numa saudosa Kombi, diariamente. Obstinado pelo sucesso antes mesmo das tenistas nascerem, o pai treinador não caiu na lábia de qualquer empresário, sabendo negociar um excelente contrato na hora certa. Nem mesmo a Ku Klux Klan, fundada pelo Partido Democrata, conseguiu abalar sua fé (confiança) nas meninas. O longa para assistir em família na HBO Max foi inspirado nas virtudes da Cinderela original de 1940, como humildade, disciplina e determinação, agregadas ao trabalho duro, sem o típico vitimismo corriqueiro de hoje em dia.
Outra fiel biografia sobre fé inabalável é o novo trabalho do polêmico diretor de Robocop e Instinto Selvagem, Paul Verhoeven. O longa irá chamar a atenção pelas cenas lésbicas de sexo explicito e pelos sonhos eróticos com Jesus Cristo, apresentando inúmeras camadas existencialistas aos despercebidos, baseado na obra literária: Atos Impuros, de Judith C. Brown. Benedetta (Elena Plonka) aos nove anos é “vendida” pelo pai a um convento na região da Pescia após a morte da esposa. Contudo, sua devoção pelo Cristo, incluindo as chagas e os supostos milagres provoca ciúmes nas outras freiras, principalmente na Reverenda Madre (Charlotte Rampling, de Duna) que articula um meio de condená-la a fogueira sob o impacto do suicídio da filha Christina (Louise Chevillotte). A oportunidade ideal surge após a chegada da noviça rebelde, Bartolomea (Daphne Patakia),  abusada pelo pai constantemente. As duas são obrigadas a dormirem juntas, afinal, toda nudez será castigada, contrariando a bíblia e as mitologias clássicas de Eva, Inana e Afrodite, símbolo de purificação, ao invés da heresia dos inquisidores encarnados atualmente no Brasil. A Abadessa (Virginie Efira) aos 30 anos fica dividida entre o desejo carnal vulgar e o amor espiritual sagrado, ora possuída pelo demônio, ora sintonizada com o Pai celestial, imponderável. No entanto, sua paciência de Jó e a dedicação ao Messias, acaba salvando a região que se torna imune a peste bubônica, milagrosamente. 
Assim como Benedetta, Tammy Faye Messner (Jessica Chastain), em Os Olhos de Tammy Faye, descobriu a vocação religiosa ainda criança ao ser possuída num culto evangélico. A jovem articuladora de fantoches na primeira oportunidade se casa com o pastor evangélico Jim Bakker (Andrew Garfield), e logo constroem juntos um império religioso entre os anos 70 e 80, retratado superficialmente no longa do diretor Michael Showalter como um artigo da Wikipédia, em oposição ao documentário homônimo de 2000, muito mais detalhado e que aborda o caso amoroso do marido corrupto com a coelhinha da Playboy, Jessica Hahn, comparado ao escândalo sexual envolvendo Bill Clinton. O teleapresentador materialista foi um dos primeiros a criar um canal de TV evangélico e um dos primeiros  condenados por desviar as doações dos fiéis para o próprio bolso, enquanto a extravagante esposa idealista era ridicularizada na imprensa pela maquiagem pesada, permanecendo no seu mundinho particular, coberta de casacos de pele, cantando músicas de louvor em prol das causas LGBTQIA+ no auge da AIDS como se nada tivesse acontecido.
I Love Lucy foi o programa de maior audiência da TV Americana, exibido entre 1951 e 1957. Um em cada quatro americanos ligavam a TV naquele horário, equivalente na época a 60 milhões de espectadores. O elenco principal era formado pelo casal na vida real, Lucille Ball e o cubano Desi Arnaz, interpretando Lucy Ricardo, e Enrique Ricky Alberto Ricardo. Apresentando os Ricardos, disponível na Amazon Prime, retrata os bastidores dessa deliciosa sitcom estrelada por Nicole Kidman e Javier Bardem, cujo lado profissional da comediante perfeccionista ofuscou as raras cenas engraçadas do seriado interpretadas pela atriz que venceu o Globo de Ouro em 2022. Ocorre que enredo sério e arrastado perde demasiado tempo em acusações levianas contra a apresentadora filiada ao Partido Comunista que nunca foi atuante. O grande problema do macartismo foi ter crucificado artistas inocentes, enquanto ignorava mafiosos, guerrilheiros, militantes e espiões, análogos aos da série The Americans. Esse grupo foi responsável pela doutrinação dos jovens de hoje que se tornaram antiamericanos, anticristãos e antiocidentais.
A princesa Diana ficou conhecida como a mulher mais fotografada do planeta. A Princesa de Gales caiu nas graças do povo, cujo legado foi muito bem assimilado pelos filhos Harry e William ao lado da esposa Kate Middleton. A trama cobre os três dias em que a princesa com nome de heroína foi obrigada a passar com a Família Real, na casa de campo de Sandringham, durante o Natal de 1991. A protagonista em foco o tempo todo, vivida magistralmente por Kristen Stewart parecia habitar um castelo mal-assombrado repleto de empregados. Um espantalho que não pertencia àquele mundo protocolar, cheio de ritos e cerimônias forçadas, ao invés de comer livremente um hambúrguer junto dos filhos, sua única paixão real. Spencer (nome de família de Diana) é um filme de terror documental sufocante, a exemplo do colar de pérolas no seu pescoço o tempo todo, confundindo realidade e ficção, sanidade e loucura, envolto numa trilha sonora perturbadora,  direcionada aos fãs que a acompanharam desde o casamento dos sonhos até o trágico acidente de carro.
Por fim, a ascensão e queda da família Gucci lembrou uma romântica máfia italiana com sotaque, além da  trilha sonora oitentista espetacular e o figurino de alta costura ao estilo da marca originária de Florença que se confunde á Nova York em razão da montagem confusa. A introdução do casal Maurizio (Adam Driver) e “Viúva Negra”, Patrizia  (Lady Gaga) na primeira hora deixou House of Gucci muito divertida, incluindo a apresentação deturpada dos tios excêntricos, Paolo (Jared Leto), Aldo Gucci (Al Pacino) e o pai exigente Rodolfo Gucci (Jeremy Irons), retratados de maneira brega e com sotaque forçado em vez da típica  elegância a altura da marca tradicional italiana. A transição abrupta do galhofa a um tom mais sério destruiu a biografia que já estava confusa. Apenas Lady Gaga se salvou. Será que teremos uma versão do diretor Ridley Scott ao invés dessa bagunça? Os indicados ao Oscar serão conhecidos dia 8 de fevereiro. 

King Richard - Criando Campeãs (2021) - Nota: 4,5 
Benedetta (2021) - Nota: 4,0 
Os Olhos de Tammy Faye (2021) - Nota: 3,0 
Apresentando os Ricardos (2021) - Nota: 2,5 
Spencer (2021) - Nota: 3,5 
Casa Gucci (2021) - Nota: 3,5 

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