25/11/2021 às 23h07min - Atualizada em 25/11/2021 às 23h07min

​Os espiões que amamos

Daniel Craig interpretou por 15 anos o espião mais famoso do cinema, que pela primeira vez se aposenta do MI6 de forma digna ao final de um ciclo perfeito. Ao contrário dos espiões anteriores, o último James Bond é mais humano e sentimental, porém, não voltará à ativa tão cedo. Cassino Royale foi a primeira obra escrita por Ian Fleming em 1953, adaptado para a TV, meses depois, além de uma sátira cinematográfica estrelada por Peter Sellers, Woody Allen e Orson Welles em 1967. A versão definitiva de 2006 foi o primeiro e melhor trabalho de Daniel Craig, seguido de Operação Skyfall, enquanto em 007 – Sem Tempo para Morrer, vemos o agente secreto dourado curtindo uma praia na Jamaica ao lado do antigo par romântico, interpretado por Léa Seydoux, apesar das lembranças traumáticas pela morte do amor da sua vida (Eva Green) não saírem da cabeça. Esses 25 minutos iniciais, mais lentos e menos confusos que os demais, correspondem a melhor parte do longa dirigido por Cary Joji Fukunaga. A cubana Ana de Armas rouba a cena novamente em uma ótima sintonia com o ator britânico, a exemplo da versão moderna de Agatha Christie, Entre Facas e Segredos, enquanto a atriz Naomie Harris, em evidente homenagem a Grace Jones, desbanca a franzina Halle Berry como a nova Bond Girl. Ocorre que a ânsia de juntar as  pontas soltas do reboot de cinco partes de modo a produzir um final melodramático e retumbante, tornou o roteiro apressado, confuso e com excesso de personagens, incluindo dois vilões clássicos com pouco tempo de tela. Uma trama complexa demais que acaba dispersando o espectador, cujo desfecho ignora mais de meio século da maior franquia do cinema com 25 filmes.
Alerta Vermelho é um filme pipoca que aposta no carisma dos três atores mais badalados do momento, lembrando os personagens que marcaram suas respectivas carreiras hollywoodianas. A investigação requintada à la James Bond se confunde ao humor maroto do inspetor Clouseau, ambientado tanto na selva densa ao estilo Indiana Jones quanto nas principais cidades ao redor do mundo onde o melhor investigador do FBI, John Hartley (Dwayne Johnson) entra em ação para capturar o Bispo (Gal Gadot), um dos criminosos mais procurados do mundo. Para isso, Hartley se une ao larápio Nolan Booth (Ryan Reynolds). A trindade no final das contas acaba disputando a posse dos três ovos da Cleópatra, cujo objetivo é vendê-los a um egípcio bilionário. O filme mais caro da Netflix não economiza nas reviravoltas, e sim nas locações. Todavia, nada disso importa, apenas uma diversão cadenciada e ótimo tom de comédia sem muita lógica. 
Após erros e acertos em O Agente da U.N.C.L.E, Rei Arthur: A Lenda da Espada e Aladdin, Guy Ritchie realiza um trabalho conciso que se destaca pela montagem não linear. Em, Infiltrado, Jason Statham vive um homem misterioso em busca de vingança, cujo passado nos é revelado em doses homeopáticas. O ex-mergulhador profissional praticante de artes marciais na vida real divide  tela com personalidades pouco conhecidas do público, ao invés de se transformar no exército de um homem só. Na trama, Patrick Hill (Statham) se infiltra numa empresa de carros-fortes que movimenta grandes quantias em dinheiro por Los Angeles. O frenesi característico do cineasta dá lugar a um drama complexo inteligente, produzindo ótimas sequências de ação, baseadas no original francês: Assalto ao Carro Forte de 2004, que é bem inferior ao americano.
Nikita tornou-se uma das espiãs mais famosas do cinema, inspirada em Cat Ballou e Barbarella na década de 1960. Por esse motivo, a sobrinha de Jane Fonda, Bridget Fonda, estrelou o remake americano, A Assassina, três anos depois. O longa original de 1990 também virou série de TV, e o ótimo filme coreano, A Vilã, em 2017, bebeu da mesma fonte. A espiã francesa mudou os rumos da carreira de Scarlett Johansson após interpretar a Viúva Negra em 2010 e a transcendental Lucy em 2014, além de convencer Charlize Theron a trocar papéis dramáticos premiados, como Monster - Desejo Assassino pela ação frenética de Æon Flux, Atômica e o recente The Old Guard, da Netflix. Nikita (Anne Parillaud) é uma garota selvagem de boa índole condenada a pena de morte que o serviço secreto francês adota com intuito de transforma-lá numa assassina profissional disfarçada. A trajetória pode ser comparada a de um boxeador que encontra no esporte violento a única saída para escapar da criminalidade. O interessante no filme de Luc Besson é o progresso civilizatório da delinquente que aprende artes marciais e aulas de etiqueta, transformando-se numa dama da alta sociedade parisiense, ao invés de uma máquina de matar sem sentimentos, semelhante à Jason Bourne.  

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