18/11/2021 às 23h57min - Atualizada em 18/11/2021 às 23h57min

​Marighella e os afrodescendentes em destaque no cinema

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Depois de vários adiamentos e muitas polêmicas, o primeiro filme dirigido por Wagner Moura entra em cartaz nos cinemas brasileiros em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Se Christian Bale pode interpretar Moisés em Exodus e Scarlett Johansson ser a protagonista do mangá japonês Ghost in the Shell, adaptado para o cinema, Seu Jorge pode perfeitamente interpretar com maestria Carlos Marighella, um mulato descendente de italiano. Com ótimos figurinos e cenas de ação e de tortura de alto nível, ambientadas entre 1964 e 1969, o longa é uma adaptação do livro: Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães, além de ter sido inspirado no Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano escrito pelo próprio terrorista que ensina a viver clandestinamente, falsificar documentos, explodir pontes e matar opositores a fim de tomar o poder a qualquer custo de modo a implantar o comunismo no Brasil. O Partido Comunista Brasileiro foi fundado em 1922 no qual Marighella se filiou em 1932, sendo preso no mesmo ano e durante a Era Vargas novamente em 1939 por seis anos, até ser morto pela Ditadura Militar em 4 de novembro de 1969. Em meados dos anos 1950 se fortalece a guerrilha armada brasileira que recrutava crianças e adolescentes, a exemplo das Farcs atualmente, e da Ditadura para o Proletariado no Camboja em 1975, retratada no filme de Angelina Jolie: Primeiro, Mataram o Meu Pai. Antes de se encontrar com Fidel Castro em 1967 na primeira conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) e aprender guerrilha armada em Cuba por vários meses, o stalinista pede ajuda aos freis dominicanos do Convento de Perdizes em São Paulo a fim de fundar a Ação Libertadora Nacional (ALN) com apoio da Teologia da Libertação. Nesse período sombrio a guerrilha armada já infestava a américa latina inteira, mas batia de frente com os militares desorganizados em seus respectivos governos, tentando impedir com truculência que a ditadura totalitária comunista se consolidasse no continente sul-americano, de acordo com o documentário do Brasil Paralelo - 1964: O Brasil entre Armas e Livros, e a edição histórica da extinta Revista Manchete de abril de 1964 intitulada: Deus, Família e Liberdade. Por isso Chico Xavier abençoou o governo brasileiro ao ser perguntado no Programa Pinga Fogo da extinta TV Tupi em 1971 ao invés de defender os marxistas adeptos a Lei de Talião: "Então, sem qualquer expressão eufemística, declaremos que a posição atual do Brasil é das mais dignas e das mais encorajadoras para nós, porque a nossa democracia está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias vinculadas a desagregação. Precisamos honorificar a posição atual daqueles que atualmente nos governam, que vigiam sobre os nossos destinos”. Na trama de Marighella, apesar do diretor mostrar defeitos de ambos os lados, enfatiza o comunista sempre com um tom sentimental e uma trilha sonora melancólica, de modo a transformar o inimigo número 1 do Brasil na época em um humanista, semelhante à deturpação ocorrida no documentário fictício de Petra Costa, Democracia em Vertigem e na obra cinematográfica de Zeca Brito, Legalidade, enquanto do outro lado os militares e americanos imperialistas são retratados por Wagner Moura como insensíveis, cruéis e sem família, centrados na figura de Lúcio (excelente Bruno Gagliasso), inspirado no delegado Sérgio Paranhos Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). 
Ao contrário do maquiavélico supramencionado, Carl Brashear (Cuba Gooding Jr.), o primeiro mergulhador negro oficial da marinha americana da mesma época, foi um patriota determinado a atingir o seu objetivo histórico apesar das limitações físicas adquiridas ao longo da árdua jornada que incluía a segregação racial em vigor. Para piorar, o sargento afrodescendente também teve um carrasco na sua cola, interpretado por Robert De Niro, ao estilo de Hurricane e do Fugitivo. O comandante Leslie Sunday fez de tudo para arruinar a carreira do novato, mas isso o incentivou a alçar voos ainda maiores, munido do saudoso escafandro dos desenhos do Popeye com seu inseparável cachimbo que De Niro imitou muito bem. Homens de Honra, disponível no Star+, conta com a participação de Charlize Theron em início de carreira. 
Mary Clarence (Whoopi Goldberg), a afro americana disfarçada de freira mais famosa da cultura pop que inspirou o padre Marcelo Rossi, fez uma apresentação especial ao Papa polonês anti-comunista João Paulo II e assim revolucionou a Igreja Católica a exemplo de Irmã Dulce e Madre Teresa de Calcutá que abandonaram a burocracia para sair às ruas e auxiliar o povo necessitado. Essa é a mensagem que passa a cantora de um cassino do estado de Nevada, Deloris Van Cartier (Goldberg) em Mudança De Hábito ao se mudar para um convento da periferia de modo a fugir de mafiosos. Um dos melhores musicais dos últimos 50 anos do cinema para a Broadway disponível no Disney +.
A Princesa e o Sapo foi um dos últimos desenhos feitos totalmente à mão depois da morte do seu fundador baseado levemente no conto adaptado pelos Irmãos Grimm: O Príncipe Sapo ou O Rei Sapo. A trama disponível no Disney+ se passa na lendária terra onde nasceu o jazz, Nova Orleans, enfeitada pelas charmosas máquinas a vapor do início do século XX que cruzavam até os pântanos da Louisiana no fim da Segunda Revolução Industrial. Época em que as princesas trabalhavam muito até atingir os objetivos, além de almejar a mão de um príncipe encantado, exaltando assim a família e a figura masculina. A primeira princesa negra da Disney disfarçada de garçonete chama-se Tiana que após a morte do pai sonha em ter o próprio restaurante, enquanto o príncipe boêmio Naveen chega da áfrica para casar com a filha do homem mais rico de lá, Charlotte La Bouff,  uma aristocrata inspirada em Blanche DuBois, pois, o rei não pretende bancá-lo após o matrimônio. Ocorre que Naveen é transformado em um sapo em razão de um pacto mal sucedido com os espíritos antigos do mal orquestrado pelo bruxo praticante de vodu Dr. Facilier, cuja missão é induzir os clientes ao erro, semelhante aos contratos leoninos firmados pela ardilosa bruxa Úrsula, de A Pequena Sereia.

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