A bem intencionada Mare, representa essa protetora legal, que zela, cuida e administra na palma da mão a cidadezinha no interior da Pensilvânia onde cresceu, agregada ao seu nome de batismo, cujo superpoder para solucionar dois casos enigmáticos foi compreender as peculiaridades, intimidades e segredos ocultos dos habitantes, em oposição ao “estrangeiro” agente do FBI, Dale Cooper, de Twin Peaks. Por mérito do árduo trabalho diário, envolvendo muita responsabilidade, a respeitada e temida xerife moderna, é amada e odiada constantemente por cumprir a lei, ao invés dos caprichos de cada um dos moradores de Easttown. Tanto a personagem quanto a atriz e produtora da minissérie da HBO, Kate Winslet, fazem questão de ficar fora dos padrões estéticos e morais, característicos das heroínas hollywoodianas. Mare of Easttown, aparece de cara lavada, acima do peso e bebendo cerveja no gargalo. A detetive vive com a mãe, a filha lésbica e o ex-marido que mora no fundo daquela casa com sua nova namorada. Os fantasmas do passado em função do pesado sentimento de culpa pela morte recente do filho, somado a perda iminente da guarda do neto pela nora viciada em heroína, ofuscam a concentração da policial, o que não a impede de fazer o que acha certo por linhas tortas, com muito esmero e dedicação, sem hipocrisia. Para interromper o tráfego humano envolvendo um ministro sul-africano, a intrépida investigadora Jodie Snyman (Erica Wessels) terá de fugir da burocracia do sistema corrupto, sobretudo do pragmatismo do chefe, de modo a proporcionar um final feliz às infelizes garotas raptadas, rumo ao Oriente Médio. Eu Sou Todas as Meninas, da Netflix, baseado numa história real, vale como cine-denúncia. No Brasil vivemos uma inversão de valores: policial é tratado como bandido, e bandido é tratado como vítima da sociedade pela mídia progressista, enquanto o cidadão de bem torna-se refém em sua própria casa. Com exceção ao longa independente de Elder Fraga, SP: Crônicas de uma Cidade Real, disponível no Looke, onde o criminoso é colocado em seu devido lugar. O prelúdio já encanta pela divina panorâmica da cidade de São Paulo, descortinando cinco histórias antológicas sobre pedofilia (Por uma Lata de Atum), a beleza da arte grotesca (Vênus ao Espelho) e um caso sobrenatural de máfia russa (Folha em Branco). Destaque ao papo de buteco infernal em Teu Dia Chegará e ao primeiro conto: Extração, envolvendo uma troca de reféns entre um policial e um assassino, roteirizado por James Salinas. Baseado numa extensa reportagem da revista New Yorker em janeiro de 2017, intitulada: A batalha desesperada para destruir o ISIS (Estado Islâmico), os irmãos, Joe e Anthony Russo, auxiliado pelo diretor e roteirista Matthew Michael Carnahan, retrata no longa Mosul, disponível na Netflix, a última missão da incorruptível SWAT iraquiana, de modo a exterminar os últimos focos da organização terrorista queridinha da imprensa globalista, na apocalíptica cidade de Mosul, no Iraque. Uma batalha pessoal dos agentes remanescentes daquela nativa tropa de elite, a fim de resgatar suas famílias, raptadas pelos tentáculos do Daesh. Os mais recentes trabalhos de Mel Gibson disponíveis na Netflix e no Prime Vídeo, apesar de abordarem temas semelhantes, estabelecem um contraste absurdo entre a direção de Michael Polish e S. Craig Zahler. Na trama de A Força da Natureza, assaltantes invadem um condomínio em busca de valiosas pinturas, indo de encontro a dois policiais rotineiros. O furacão porto-riquenho nível cinco não passa de um elemento estético, enquanto o mesmo furacão nível cinco em Predadores Assassinos foi responsável por todos os entraves no filme de terror dirigido por Alexandre Aja. O único personagem interessante do longa da Netflix, é um feroz animal de estimação guardado a sete chaves em um quarto escuro. Mal se entende os diálogos entre o oficial moribundo Ray Barrett (Mel Gibson) e a filha (Kate Bosworth). Ao contrário de Justiça Brutal da Prime Vídeo, cuja atmosfera de suspense envolvente é preparada desde o início, impregnando o cotidiano periférico de dois policiais truculentos. Brett Ridgeman (Mel Gibson) é outro pai de família, cuja filha é assaltada com frequência e a esposa sofre de esclerose múltipla. O parceiro Lurasetti, vivido por Vince Vaughn, protagoniza também a excelente série realista, de equivalente desenvolvimento natural, extremamente técnico: True Detective. Os planos longos, a montagem e o roteiro singular, preparam o espectador para a catarse violenta do porvir, provocada por assassinos profissionais, auxiliados pelo piloto de fuga, Henry (Tory Kittles), que acabou de sair da prisão e agora precisa sustentar o sobrinho cadeirante e a mãe desempregada. A frase do delegado interpretado por Don Johnson justifica o desfecho: ser racista hoje em dia tem a mesma conotação pejorativa de um comunista nos anos 50.