20/05/2021 às 23h00min - Atualizada em 20/05/2021 às 23h00min

Quatro casamentos, um namoro e dois funerais

Jean (Rachel Brosnahan) sonhava em viver uma vida confortável ao lado do homem ideal como toda mulher do final dos anos 1970. Isso tornou sua relação com o marido Eddie (Bill Heck) extremamente dependente, de modo a ignorar as saidinhas escusas dele. Em dado momento, Eddie surge com um fragilizado recém-nascido no colo, mas volta a desaparecer misteriosamente alguns dias depois, obrigando a dona de casa a se mudar às pressas, após ser ameaçada de morte por bandidos. O excelente longa-metragem da Prime Vídeo, Sou Sua Mulher, aposta numa trama básica de suspense policial, recheada de perseguições angustiantes. Entretanto, o que torna o novo projeto da diretora e roteirista Julia Hart especial é o seu desenvolvimento homeopático, saturado de respostas inconclusivas, cuja atmosfera dramática confunde-se às ações desesperadas da vítima inexpressiva que precisa sofrer calada a fim de sobreviver, além de confiar em estranhos que aparecem no caminho até a nova zona de conforto. Em agosto de 1943, a oficial de voo Maude Garrett (Chlöe Grace Moretz) é designada para viajar com documentos ultrassecretos de Auckland, Nova Zelândia, para Samoa, em um bombardeiro B-17, pilotado pelo namorado. A trama de Uma Sombra na Nuvem, no Telecine, faz referência aos famosos Gremlins, criaturas anárquicas que destruíram aviões durante a Segunda Guerra Mundial, homenageados no episódio da série dos anos 50 e 60, Além da Imaginação, intitulado: Pesadelo a 20 mil Pés, no desenho do Pernalonga - Duendes Pois Sim e no clássico homônimo de 1984, dirigido por Joe Dante e produzido por Steven Spielberg. Na verdade, a citação dessas criaturinhas era uma forma simbólica e educada dos oficiais denunciarem falhas humanas que provocavam o mau-funcionamento dos aviões, sem apontar culpados. No caso do longa dirigido por Roseanne Liang, esses monstrinhos simbolizavam o machismo dentro da força aérea aliada. Fora da análise psicológica, Uma Sombra na Nuvem, torna-se uma comédia dramática absurda e extremamente divertida que desafia as leis da física do mesmo modo que a atriz desafiou em Kick Ass - Quebrando Tudo, dez anos atrás, aos 13 anos. Amy Adams interpreta “A Mulher na Janela”, Anna Fox, uma problemática mãe de família que aparentemente perdeu a guarda da filha por medo de sair de casa. A chegada dos novos vizinhos da frente, interpretados por Gary Oldman, Anthony Mackie e Julianne Moore, transforma a monótona rotina da psicóloga agorafóbica, tal como no clássico de Hitchcock, em A Garota no Trem e na Trilogia do Apartamento dirigida por Roman Polanski. A excelente premissa inicial bem desenvolvida pelo competente diretor Joe Wright (O Destino de uma Nação, Orgulho e Preconceito), peca na parte final, refilmada várias vezes por imposição do estúdio. Por esse motivo, o longa da Netflix acabou fugindo do suspense policial hitchcockiano envolvente, misturando coerência investigativa e loucura, para tentar agradar o público com abruptas reviravoltas pasteurizadas que foram por água abaixo. O elenco de peso somado ao roteiro, à fotografia e à montagem, composto por renomados profissionais da área, tinha tudo para dar certo. O jeito agora é esperar uma improvável versão do diretor. Ryan Reynolds encarna um angustiado caminhoneiro “Enterrado Vivo” no Iraque à espera do governo americano que não demonstra nenhum interesse político em salvá-lo. O ambiente claustrofóbico medido em tempo real pela bateria do pequeno celular Blackberry, reservava um futuro dramático ao pai de família, a partir dos inúmeros obstáculos peçonhentos, imprevisíveis. Já na nova versão futurista francesa, Oxigênio, do mesmo diretor de Predadores Assassinos, Alexandre Aja, o caixão rústico de madeira foi substituído por uma câmara criogênica ultramoderna com apenas 35% de oxigênio. O longa de 100 minutos equivale ao tempo de vida da hóspede, interpretada brilhantemente por Mélanie Laurent (a Shosanna, de Bastardos Inglórios), cuja tensão natural é constantemente abafada pela inteligência artificial insossa, MILO (Mathieu Amalric) e pelas memórias românticas de família, acessadas em vídeo. Enquanto Enterrado Vivo tem uma trama previsível, repleta de empecilhos surpreendentes, apostando no macabro clima de terror envolvente até o fim, Oxigênio, da Netflix, traz revelações bombásticas de enlouquecer os fãs de ficção científica, orquestradas por uma interessante conspiração política de suspense, ignorada pelo final infantilizado, de modo a entrar no clima do mês das noivas.


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