28/01/2021 às 23h18min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h19min

A música enobrece a alma, mas pode levar ao inferno

A Festa de Formatura, musical sensação da Broadway desde 2018, baseado numa história real, faz dura autocrítica que se estende à patota oportunista de Hollywood. No enredo adaptado por Ryan Murphy (Glee) para a Netflix, os notórios dançarinos narcisistas, Dee Dee Allen (Meryl Streep) e Barry Glickman (James Corden) após perderem o emprego, procuram logo alguma narrativa progressista sinalizadora da virtude, a fim de se manterem na mídia. De súbito, navegando nos Trending Topics da Internet, a colega Angie Dickinson (Nicole Kidman) na mesma situação, encontra um video viralizado da lésbica Emma Nolan (Jo Ellen Pellman), desconvidada a participar da sagrada Festa de Formatura do seu colégio no interior de Indianápolis, coordenado pela mãe (Kerry Washington) da namorada secreta, Alyssa Greene (Ariana DeBose). No entanto, os falsos ativistas, adoradores da fama fugaz, acabam sensibilizados com a vítima. Um retrato da hipocrisia dessa pedante classe artística, apegados ao seu mundinho de fantasia enquanto as luzes não se apagam, influenciando ainda, estudantes universitários arrogantes. Esses pobres mortais com síndrome de Peter Pan foram na verdade traumatizados na infância pelos pais controladores. Destaque para a canção “Ame o Próximo'', cuja letra critica a convencional leitura sectária da Bíblia, já que a homossexualxilade na época era um comportamento natural, até a igreja medieval transformá-la em pecado. Afinal, quem nunca pecou que atire a primeira pedra. A ética aristotélica consiste no equilíbrio entre o excesso e a falta. Virtude conquistada apenas por Espíritos Superiores. No caso do veterano professor de Jazz nova-iorquino que decidiu abandonar os pupilos, obcecado na missão de integrar o conjunto musical da famigerada trompetista, Dorothea Williams (Angela Bassett). Essa atitude egoísta provocou uma experiência forçada de quase-morte fora do corpo, a fim de valorizar as pequenas coisas da vida, como por exemplo: a família, os amigos e a natureza à sua volta (Carpe Diem). Em estado de coma, após esse acidente ridículo, Joe Gardner (Jamie Foxx) volita até uma colônia espiritual ao estilo Nosso Lar. Lá, amparado por Espíritos elevados como Jerry A (Alice Braga), Joe acaba se tornando acidentalmente o mentor da 22º alma (Tina Fey) criada por Deus no Universo (homenagem ao 22º longa da Pixar: Soul - Uma Aventura com Alma, disponível no Disney Plus). Ocorre que essa alegre alma errante há séculos (provável reencarnação da garotinha Riley de Divertida Mente) assume compulsoriamente, sem qualquer planejamento reencarnatório ou personalidade definida na Escola da Vida, o corpo do músico fanatico, enquanto seu mentor afobado, assume o corpo fragilizado de um gato. Para piorar, a alma 22 na primeira recaída acaba deformada em estado obsessivo chamado: Flow. Esses espíritos infelizes e ovóides, nessa forma monstruosa, só podem ser resgatados do Umbral pelo barco pirata do Bicho-Grilo Estrela (Graham Norton) em oposição ao barqueiro de Hades, Caronte, que carrega as almas recém-mortas sobre as águas do rio Estige e Aqueronte, divisa do mundo dos vivos com o mundo dos mortos. Por falar em gato, esse animal endeusado no Egito Antigo que hoje partilha o lar dos humanos com os cachorros, até o início do século passado perambulava pelas tenebrosas ruas londrinas, época em que foram redigidos os poemas de T. S. Eliot e publicados no livro: Old Possum's Book of Practical Cats. A indispensável obra prima sobre a psicologia e a sociologia dos felinos deu origem ao musical Cats da Broadway, literalmente fiel aos poemas, graças ao genial Andrew Lloyd Webber de O Fantasma da Ópera. Já a última adaptação cinematográfica de Tom Hooper (Os Miseráveis) com participação das cantoras: Jennifer Hudson e Taylor Swift, disponível no Telecine, ao contrário do ótimo longa metragem teatral de 1998, descortinou sensivelmente o enigmático universo dos excêntricos Jellicle Cats, apesar dos cenários confusos e multicoloridos. Na misteriosa trama, a gata Victoria (Francesca Hayward), abandonada em um saco à própria sorte, é resgatada pela “tribo dos gatos gelatinosos”. Lá a gata bailarina se reúne para o Jellicle Ball, um sagrado ritual anual de passagem durante a Lua Cheia onde apenas um gato será escolhido pela Velha Deuteronomy (Judi Dench) à elevar-se ao celeste Reino dos Gatos (Heaviside Layer), a fim de reencarnar numa nova vida digna. O problema é que o gatuno, Macavity (Idris Elba), um criminoso procurado pela Scotland Yard, surge para eliminar os demais concorrentes: Bustopher Jones (James Corden), Rum Tum Tugger (Jason Derulo), Gus (Ian McKellen) e Jennyanydots (Rebel Wilson), ciente de que Todos os Animais Merecem o Céu (menos ele). Outro nobre felino que chegou recentemente ao Paraíso dos Gatos foi o Pantera Negra. O último trabalho do ator Chadwick Boseman, vítima de câncer de colo, ofuscou a ganhadora do Oscar, Viola Davis. O longa da Netflix, baseado na peça de teatro homônima de August Wilson, ambientada na Chicago de 1927, auge das racistas Leis Democratas: Jim Crow. A história real produzida por Denzel Washington acontece durante uma desgastante gravação de um single cantado pela orgulhosa “Mãe do Blues”, Ma Rainey ((Viola Davis), ansiosa na verdade por uma refrescante coca-cola, Enquanto isso, do outro lado do estúdio, os ânimos esquentam entre os integrantes da banda, envolvendo, pra variar, racismo e religião. A Voz Suprema do Blues foi dirigido por George C. Wolfe.
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