Como um imã, logo na primeira sequência, a arma retorna às mãos do vingador Leonard Shelby (Guy Pearce) com amnésia anterógrada ao lado da poça de sangue pertencente ao astuto traficante John Edward Gammell (Joe Pantoliano) cúmplice do assassino de sua amada esposa. Amnésia (Memento), montado do fim para o começo, análogo à memória fragmentada do deficiente mental, revelou Christopher Nolan à Warner Bros com a ajuda fundamental de Steven Soderbergh. Em 2020, o diretor britânico utiliza essa mesma ideia de entropia reversa concomitante ao tempo regular para desenvolver seu novo projeto, celebrando a reabertura do circuito cinematográfico nas capitais após longo hiato. Em Tenet existe o tempo linear e o tempo retrógrado, cujos responsáveis (O Infiltrado na Klan: John David Washington, o próximo Batman: Robert Pattinson e a futura Princesa Diana em The Crown: Elizabeth Debicki) devem se virar literalmente para salvar o mundo de um traficante russo (Kenneth Branagh) munido de plutônio, relembrando os tempos da Guerra Fria. Nolan ao lado da esposa, Emma Thomas na produção e do irmão Christopher no roteiro, ambos desde os tempos de faculdade, exploram temas existenciais, éticos e epistemológicos, tais como experiência subjetiva, distorção de memória, moralidade humana, natureza do tempo e construção da identidade pessoal. Diz o cineasta: “Eu sou fascinado por nossa percepção subjetiva da realidade, por estarmos todos vinculados a pontos muito singulares de vista, perspectivas únicas que todos concordamos serem uma realidade objetiva, e o cinema é uma das formas por meio das quais podemos tentar ver as coisas a partir do mesmo ponto de vista”. O fã de Quentin Tarantino tornou-se especialista em contar histórias e desenvolver conceitos inovadores, a partir no curta amador de 1997, Doodlebug, ao confundir macrocosmo e microcosmo, prelúdio para o primeiro longa metragem hitchcockiano em preto e branco, Following, no ano seguinte, financiado do próprio bolso, cujo elenco era formado por colegas de universidade. Em 2014, a montagem em Dunkirk, mistura três momentos temporais distintos por terra, ar e mar, variando o dia a hora e a semana até entrelaçar em algum momento. A famosa Operação Dínamo, foi a evacuação da praia francesa de Dunkirk por 50 quilômetros até o Canal da Mancha de aproximadamente 400 mil soldados aliados entre 25 de maio e 4 de junho de 1940, quando estavam completamente cercados por tropas nazistas. Na última trilogia do Batman, realidade e ficção também se misturam em um Thriller psicológico de ação, complexo e realista, ambientado na megalópole corrupta dos quadrinhos dominada por habitantes emocionalmente perturbados e moralmente ambíguos, inspirada nos padrões atuais. Paralelamente em O Grande Truque (2006), feito por mágicos ilusionistas que manipulam a percepção da plateia a todo momento, na trama fantasiosa, inspirada em acontecimentos históricos, o ex-Cavaleiro das Trevas (Christian Bale) rivaliza com Wolverine (Hugh Jackman) e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) ao viajarem no tempo até a virada do século XIX e XX, enquanto descansam das suas missões heroicas. É o cenário londrino preferido de Hayao Miyazaki durante a batalha das correntes elétricas: a contínua e a alternativa entre dois grandes cientistas contemporâneos: o aclamado Thomas Edson e o injustiçado Nikola Tesla (David Bowie). Já em A Origem, contraventores desbravam as diversas camadas mentais do jovem empresário Robert (Cillian Murphy), cujo tempo passa cada vez mais lento em relação ao tempo do mundo físico conforme eles adentram mais e mais. Diferente do sol da meia-noite que dura 6 meses na pequena cidade de Nightmute, Alaska, local do remake norueguês de suspense psicológico, Insônia (2002), cujo assassino de uma garota de 17 anos tira o sono do detetive Will Dormer (Al Pacino) chantageando-o a firmar um acordo imoral entre eles, enquanto a policial honesta, Ellie (Hilary Swank) avança nas investigações que pode levá-los à ruína, semelhante ao ocorrido com o “dorminhoco” do longa de 2010. Por fim, Albert Einstein usou como exemplo o movimento de um trem sob a ótica de um passageiro interno e de um observador externo a fim de demonstrar que existe variação no tempo. Pensando nisso, a “HardScience” de Interistelar (2014), fundamentada pelo produtor executivo, o famoso astrofísico especialista em buracos negros, Kip Thorne, reforça a Teoria da Relatividade Geral ao comparar o tempo astronômico entre os planetas Terra e aqueles que orbitam o buraco negro esférico Gargântua: Miller, Edmunds e Mann, complementada pelo documentário de 2015: A Ciência de Interestelar, provando que quanto maior é a gravidade mais lento é o tempo.