09/10/2020 às 23h17min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h23min

O esporte como ferramenta na dor do luto

A dor da perda da filha Niamh a quatro dias do parto tirou o chão do britânico Robert Allen, de 33 anos. Em um movimento involuntário, ele se fechou. Entendeu que não se sentia confortável em demonstrar o quanto estava sofrendo. Robert sempre jogou futebol, teve até um empresário que tentou levá-lo para clubes profissionais. Quando Niamh se foi, ele perdeu o gosto pelo campo. Foi só ao perceber que, provavelmente muitos outros homens estariam, ou já haviam estado, nesse mesmo lugar em que ele estava, que o futebol voltou a sua vida. Robert fundou o Sands United FC, um time formado apenas por pais que perderam seus filhos. Em 2018, foi considerado o “Time do ano” na premiação “orgulho do Esporte”, organizada pelo portal de notícias britânico Daily Mail. O crescimento do time no Reino Unido foi tanto que, no último mês de maio, o Sands United recebeu a visita do príncipe William, Duqye de Campbridge. Essa matéria ganhou destaque nos principais meios de comunicação. Cada um sabe a dor que sente e vai descobrindo aos poucos o que lhe faz sentir melhor. Mas não é incomum encontrar pessoas que fizeram do exercício físico um grande aliado no processo de cura, uma ferramenta poderosa de reconexão com a vida e com o futuro. Correr, nadar, lutar ou praticar qualquer atividade pode ajudar não só fisicamente, mas também emocionalmente. O esporte ajuda no controle de peso, diabetes e colesterol, na proteção contra doenças cardíacas e alguns tipos de câncer, nos faz dormir melhor e melhora o humor. Durante o exercício o organismo libera neurotransmissores importantes no cérebro, a endorfina e a serotonina, que dão a sensação de prazer e bem-estar. Difícil lembrar de si, do próprio corpo, ter ânimo para praticar um exercício no auge da dor. No meio de um turbilhão de emoções muita gente esquece de si, mas é nesse momento em que estamos mais frágeis que precisamos usufruir da força do esporte. O rompimento de um vínculo significativo gera stress e o corpo pode se expressar através da dor. Mas ainda que você não sinta dor física, o processo de luto é um banco de novidades emocionais. Os possíveis “efeitos colaterais” de um luto normal são sentimentos como (tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão); sensações físicas (aperto no peito, falta de ar, fraqueza muscular, falta de energia); cognitivos (descrença, confusão, preocupação); comportamentais (distúrbios de sono, distúrbios do apetite, isolamento social). Não existe nenhum estudo científico que relacione luto e exercício físico, mas ao olhar para essa lista de sintomas, qualquer médico nos indicaria os benefícios dos exercícios. O luto tem várias fases e para cada desafio novo o esporte pode colaborar. Na raiva, na prostração ou na indignação, o esporte tem alto potencial de cura. A atividade física, seja no contexto de luto ou traumas, é uma ferramenta poderosa de reconexão. Quando focamos no corpo, conseguimos nos equilibrar. Não é assim com a meditação? Respiramos e nos distanciamos dos problemas e nos vemos a partir de outras perspectivas. O esporte é uma meditação. E salva. Silvia Vinhas  


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