31/07/2020 às 21h53min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h26min

Vai sobrar dinheiro para investir no esporte?

Ao escolher reabrir parte da economia, o Brasil optou por preservar emprego e renda. Desde o início da pandemia, a preocupação do Governo foi auxiliar as pessoas que ficaram em casa, respeitando o isolamento social. Muito dinheiro foi investido na Saúde. Altas cifras disponibilizadas para socorrer um país assustado e refém do vírus. Até aí, tudo certo. Mas com o cancelamento dos Jogos Olímpicos em 2020, o esporte ficou em segundo plano. Atletas viram os sonhos serem postergados. Conversei com Lívia Horácio, da seleção brasileira de Handebol. Lívia, assim como vários atletas de ponta, se preocupa com a diminuição dos investimentos em suas modalidades. Há muito tempo, o êxodo de jogadores brasileiros para o exterior é incontrolável, e por conta da tão necessária troca de experiências com atletas mundiais é impossível evoluir sem a convivência e aprendizado com outros países. Hoje o Brasil é um dos maiores exportadores de jogadoras de handebol para a Europa, mas a liga nacional praticamente não existe no país campeão mundial de 2013. Nem em fim de carreira as brasileiras de elite querem jogar aqui. No exterior, ligas como a espanhola de basquete só foram autorizadas a voltar porque houve redução de casos de Covid-19 no país e a aplicação rigorosa de protocolos. Aqui no Brasil a situação é ainda mais desoladora. Não há dinheiro no esporte “amador” para a realização de testes. A preocupação dos atletas tem fundamento. E a debandada vai começar. Muitos vivem um dilema: ficar no Brasil em meio a uma pandemia sem saber quando terá treinos e apoio ou aceitar receber em moeda estrangeira jogando em qualquer lugar do mundo, em condições seguras a partir de agosto? No futebol, a maior parte dos jogadores profissionais da elite brasileira aceitou ganhar menos durante a pandemia, desde que os clubes acertem depois o que ficou faltando. Mas para preservar o futebol, o Corinthians por exemplo, cortou bolsa auxílio para os jogadores de futsal e o Vasco dispensou todos os atletas paraolímpicos. O governo federal não previu recursos suficientes para manter o programa Bolsa Atleta em 2020 e os grandes clubes sociais já tinham uma tendência de reduzir investimentos no esporte de rendimento. Projetos de formação dependem, em sua grande maioria, de Lei de Incentivo, mas a tendência é de queda drástica de arrecadação. O investimento para que o Brasil tivesse resultados nos Jogos do Rio ainda trariam resultados em Tóquio, mas hoje o cenário é preocupante já para 2024. Vai faltar dinheiro, vai faltar oportunidade, vai faltar atleta. Muitos que dependem do esporte e de patrocínios, que nesse momento foram cancelados, têm família para sustentar e já pensam até em arrumar um emprego, mudar os planos e aposentar sonhos. O COB, comitê olímpico brasileiro, tem há anos uma política de investir em atletas de ponta e vai fazer isso em setembro levando para treinar em Portugal apenas a elite, fugindo da pandemia no Brasil. Quem não pertence a essa ponta da pirâmide, fica aqui sem piscina, sem pista de atletismo, e sem treinadores, porque os melhores também vão para a Europa. Os investimentos provocados pela “década esportiva” estão paralisados. O Brasil corre o risco de ser isolado mundialmente não só por conta da pandemia prolongada, mas com a falta de competitividade dos nossos atletas daqui para frente. Um retrocesso sem volta para um país que um dia sonhou ser olímpico.


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