03/07/2020 às 21h01min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h27min

Dicas de Filmes e Séries - 03/07/2020

De patriota à progressista “Nascido em 4 de Julho”, um jovem católico de família puritana e conservadora, inspirado no discurso nacionalista do presidente Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”, decide se alistar no exército. Após dançar no baile de formatura do colégio com a garota dos sonhos, Donna (Kyra Sedgwick), a fim de ter sucesso na vida acima de tudo, chamado de American Way of Life, o encantado fuzileiro naval vai ao encontro do Apocalypse Now. Traumatizado pelo “fogo amigo”, ambientado na belíssima fotografia incandescente do crepúsculo de Saigon e envolto na competente trilha sonora de John Williams, o patriota desiludido, Ron Kovic (Tom Cruise), abandona precocemente a Guerra do Vietnã, devido à ausência do movimento nas pernas, engessado de horror interminável em um precário hospital do subúrbio nova-iorquino, determinado a não amputá-las. De volta ao aconchego do lar, após rever os amigos interioranos de infância, aos poucos, o republicano vai se transformando em um radical hippie "paz e amor", em protesto contra aquela guerra absurda e sem nexo. Para piorar, o vitimista intransigente abandona a família, indo morar no submundo mexicano, acompanhado de outro veterano de guerra (Willem Dafoe) antes de se filiar ao Partido Democrata. O longa multipremiado, dirigido por Oliver Stone, disponível na Netflix e na Claro Video, mostra que Tom Cruise já era um ator fora de série há 30 anos. Nascido em 4 de Julho. Direção: Oliver Stone. Drama de guerra. (Born on the Fourth of July, EUA - 1989, 144 min). 14 anos. Nota: 4,0   Apocalypse Now: Final Cut - A Guerra do Vietnã realmente existiu? O veterano Capitão das Operações Especiais, Benjamin Willard (Martin Sheen), ao “sentir o cheiro de napalm pela manhã”, delira na cama manchada sangue em um hotel de Saigon, sob efeito de álcool, prestes a ter um ataque cardíaco. Helicópteros rondam em sua mente vertiginosa e a melodia intermitente da clássica canção “The End”, da banda The Doors, tilinta nos ouvidos, como o tufão Olga que devastou as Filipinas em maio de 1976. A desventurada missão de Willard, segundo o Coronel Lucas (Harrison Ford), é matar o ilustre desertor enlouquecido, Coronel Kurtz (Marlon Brando), membro das Forças Especiais e o atual líder de uma seita macabra que doutrina milhares de seguidores fanáticos em um templo hindu rupestre, escondido na fronteira selvagem entre o Vietnã e o neutro Camboja, anterior à equiparada ditadura para o proletariado do tirano Pol Pot que contaminou o país inteiro. Sob as brumas de Valhalla, o oficial se une a outros guerreiros valquirianos, numa odisseia desvairada rio Nung acima, a bordo de um barco-patrulha da marinha yankee, desnorteados entre a linha tênue que divide lucidez e loucura, civilização e barbárie, o velho colonialismo francês do novo imperialismo americano, envoltos pela praga comunista soviética escravizadora de vietcongs, sintetizados no poema “Os homens ocos”, de T.S. Eliot. declamado pelo endeusado boina verde. Paus e pedras, tiros e bombas saindo pela culatra, foram os únicos adversários físicos naquela guerra psicodélica desordenada, eclodindo das profundezas da alma. Apocalypse Now: Final Cut, está disponível desde dia 1 de julho na plataforma Belas Artes à La Carte, acompanhado de 2 documentários sobre os bastidores da produção: Francis Ford Coppola - O Apocalipse de Um Cineasta e Dutch Angle: Fotografando Apocalypse Now. Lançada em 2019, “Final Cut” é a versão ideal entre a obra-prima de 1979, baseada no livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, lançada nos cinemas apenas quatro anos depois do fim da guerra e a longa versão Redux, de 2001. Essa nova versão, mesclada às anteriores, comemora os 40 anos de um dos maiores clássicos da sétima arte, trazendo cenas sucintas do defasado show de coelhinhas barangas da Playboy, assistido por uma plateia de jovens famintos por sexo selvagem, além da cena do funeral do militante “Clean", excluído da película original (vivido por Laurence Fishburne, na época com 14 anos de idade), enterrado numa fazenda de colonos franceses, enraizados no local há 150 anos, remanescentes da colonização da Indochina. Um oásis fantasmagórico no meio dessa fascinante sinfonia de horror, de horror..., entoada diversas vezes na mente impregnada de soldados em transe hipnótico à base de ácido constante. Apocalypse Now: Final Cut. Direção: Francis Ford Coppola. Drama de guerra. (EUA - 2019, 82 min). 16 anos. Nota: 5,0   O Supremo Tribunal do Mal que também destroça patriotas do bem  O coronel do exército e ex-advogado criminalista, Dax (interpretado por Kirk Douglas - falecido em fevereiro aos 103 anos), sente vergonha da raça humana em razão das atitudes hipócritas e acordadas de militares supremos que mancharam a nação francesa de sangue, desonrando dezenas de singelos combatentes que lutaram bravamente no front em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, ceifando suas vidas pela pátria amada contra a Alemanha, dois anos antes do surto de gripe espanhola, o verdadeiro motivo que provocou o armistício. A primeira obra-prima do genial e polêmico diretor de “2001 - Uma Odisseia no Espaço”, Stanley Kubrick, foi banida da França por 20 anos. O único registro desse vergonhoso julgamento real foi o inspirado romance literário homônimo, escrito em 1935 por Humphrey Cobb. “Glória Feita de Sangue”, disponível no Telecine, sobre dois generais pedantes em busca de promoção, preocupados apenas em manter a reputação, o ego nas nuvens e o bucho lotado de fartas refeições diárias à base de lagosta, ordenam um ataque suicida do batalhão competente até o “Formigueiro Alemão” do outro lado da Terra de Ninguém, entre as trincheiras. Os poucos corajosos soldados sobreviventes foram condenados à pena de morte pela Corte Marcial por escaparem, recuando da forte artilharia e do pesado bombardeio constante. O olhar melancólico da cantora alemã na cena final da película em uma taverna, interpretado por Christiane Kubrick, a futura esposa e fiel companheira do cineasta por 40 anos até a morte dele, ilustra com perfeição o contraste abismal entre a sensibilidade dos humildes soldados carentes por sexo selvagem que desmancharam facilmente em prantos feito bonecas de pano ao ouvi-la, e a total insensibilidade da elite militar e política petrificada, indiferente para com o próximo. Glória Feita de Sangue. Direção: Stanley Kubrick. Drama de guerra. (Paths of Glory, EUA – 1957, 88 min). 14 anos. Nota: 4,5
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