14/05/2020 às 21h36min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h32min

Dicas de séries - 15/05/2020

O Japão tradicional e moderno do plano físico, psicológico e espiritual   A Viagem de Chihiro, disponível na Netflix, primeira animação não americana a ganhar o Oscar, conta a história da moleca birrenta, amiga do diretor na vida real, bastante insatisfeita ao mudar de cidade com os pais. No entanto, o início da verdadeira mudança, de dentro para fora, ocorre após a abastada família passar por um longo túnel sombrio, divisa de um parque temático construído nos anos 1990, cuja arquitetura equilibra cultura milenar e tradicional japonesa em contraste com o Japão moderno pós-guerra. Como no inferno descrito por Dante, Chihiro Ogino é a única humana daquele mundo espiritual, já que os pais, dominados pela ganância materialista histórica, tornaram-se porcos gulosos ao comerem a comida imponderável dos deuses. Pela primeira vez a menininha mimada, ansiosa para chamar atenção, terá de andar com as próprias pernas, desmerecendo “As Vantagens de ser Invisível”. Logo aos 10 anos, é obrigada a assinar um empregatício contrato leonino a fim de não se desmaterializar por completo, semelhante ao trapaceiro pacto contratual firmado entre a bruxa Morgana e A Pequena Sereia, Ariel. A partir da necessidade extrema de sobreviver, aflora nela o espírito altruísta do nobre amigo da Princesa Mononoke, Ashitaka, após Chihiro, que mudou de nome para Sen, ajudar um “fuligem” da fornalha, os mesmos pequeninos espíritos da natureza presentes no anime Meu Amigo Totoro, o mascote do Studio Ghibli que apenas as crianças enxergam. A casa de banho administrada com mãos de ferro pela maquiavélica Yubaba foi inspirada na antiga casa de banho Dogo Omsen Honkan, construída em 1894 durante o período Meiji (1868 - 1912). Uma vez vinculados, todos os funcionários de lá esquecem as raízes (nome, identidade, cultura e religião), a típica estratégia emburrecedora a fim de estabelecer um eterno vínculo totalitário, dirigido especificamente ao proletariado jovem e humilde do campo. A única forma de recuperar essas lembranças divinas é preenchendo o vazio existencial dentro de nós (conhecendo a si mesmo), sem ceder às provações do satanás do deserto que testou Jesus oferecendo-lhe dinheiro, poder e a infidelidade ao Pai. Entender o vazio contemplativo expressado na específica palavra da língua japonesa, Ma, é fundamental para a compreensão de toda mitologia de Miyazaki. A gentil e prestativa garotinha, Sen, além de ser a única naquele antro pecaminoso a possuir todos esses atributos, com louvor, teve ainda de descer ao submundo do pântano em um trem que pairava sobre a face das águas, o elemento primordial da vida, até a casa da “bruxa boa”, Zeniba, (irmã gêmea de Yubaba), a fim de salvar o amigo, Haru. O dragão e Espírito do Rio em que ela se banhava antigamente, recordou do próprio nome ao expurgar o feitiço que o vinculava a sua mestra, a “bruxa má”. Já o espírito errante “Sem Face”, sereno, fora do cobiçado templo de consumo, descobre o sentido da vida, ao contrário do magnata obeso em Monty Python, após realizar um trabalho artesanal para Zeniba; igual Charlie Chaplin se encontrou em “Tempos Modernos” e o “Espírito do Mau Cheiro” (Kami) após o ritual de purificação (harai). Amadurecida, agora com a pureza de uma pomba e a prudência de uma serpente, Chihiro consegue lembrar do seu nome e dribla a cláusula contratual de Yubaba para libertar os pais e voltar pra casa pelo mesmo caminho de onde veio, determinada a não olhar pra trás, livre das ruínas do passado a fim de viver o presente; igualmente por fora, purificada por dentro. A Viagem de Chihiro. Direção. Hayao Miyazaki. Anime. (Sen to Chihiro no kamikakushi, Japão - 2001, 125 min). Livre. Nota: 5,0 O Muro de Berlim entre nós  Tempestade eletromagnética conecta enfermeira do presente a um garoto de 11 anos vivendo ainda em 9 de novembro de 1989, o fantástico dia da queda do Muro de Berlim, através de um antigo monitor de TV. O contato valioso impede a morte do pré-adolescente no dia seguinte, provocada pelo vizinho Angel Prieto (Javier Gutiérrez Álvarez). A exemplo do longa Efeito Borboleta, as duas realidades são afetadas, apesar de Vera Roy (Adriana Ugarte) ser a única que lembra da vida anterior, como no filme Yesterday. A plebeia de família tornou-se, na manhã seguinte, renomada médica solteira, rica e famosa, funcionária do mesmo hospital. Ocorre que a filha não existe mais e o menino salvo, Nico Lasarte (Julio Bohigas-Couto), continua vivo, mas desaparecido há muito tempo. Desesperada para recuperar a pequena Gloria (Luna Fulgencio) e o casamento com David Ortiz (Álvaro Morte, o Professor de La Casa de Papel), a desventurada doutora por acidente busca auxílio ao prestativo inspetor de polícia, Leyra (Chino Darín), antes do portal do tempo se fechar para sempre. “Durante a Tormenta” é outro surpreendente longa espanhol, original da Netflix, dirigido por Oriol Paulo, o mesmo de O Corpo e Um Contratempo. Durante a Tormenta. Direção: Oriol Paulo. Ficção Científica. (Durante la Tormenta, Espanha - 2018, 128 min). 10 anos. Nota: 4,0 l A terceira temporada de Castlevania reflete sobre a existência humana  Após serem apresentados na primeira temporada e derrotar o Conde Drácula (Graham McTavish) na segunda, o trio formado por Trevor Belmont (Richard Armitage), Sypha Belnades (Alejandra Reynoso) e Alucard (James Callis) seguiram caminhos opostos. Enquanto o meio vampiro amargura depressiva solidão na “Castlevania” do falecido pai, o novo par romântico entre a poderosa Oradora e o último membro vivo do clã dos Belmont se diverte exterminando Criaturas da Noite. Isso até se estabelecerem na pequena vila de Lindenfeld. Ao contrário das anteriores, a terceira temporada do anime da Netflix é totalmente original (não inspirada em nenhum game), dividida em quatro arcos muito bem construídos de forma lenta e trabalhada, a exemplo de Game of Thrones. O enredo isento de vilões, anti-heróis centrais e maniqueístas, contagia pela ação frenética apenas nos episódios finais. O terceiro arco das vampiras lideradas por Carmilla (Jaime Murray) retornam a Estíria, decididas a usar o Mestre da Forja, seu prisioneiro Hector (Theo James), para constituir um novo império vampírico. Enquanto o devoto muçulmano Isaac (Adetokumboh M’Cormack) não os encontra, dialoga com demônios, reflexões humanas, em um mundo dominado pela magia. Castlevania – 3ª Temporada. Direção: Sam Deats, Adam Deats. Anime. EUA - 2020,10 episódios de 25 min). Nota: 4,0
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