Gordinha complexada supera o preconceito em ótimo exemplo de meritocracia na Netflix Após a morte repentina da estimada tia, Lucy, (Hilliary Begley) de biotipo semelhante, a adolescente do interior do Texas, Willowdean Dickson, (Danielle Macdonald) passa a conhecer melhor a mãe, Rosie, (Jennifer Aniston) que a constrange inconscientemente quase todo dia na frente das amigas do colégio, chamando-a de “cheinha” (Dumplin'). A ideia de peso em forma de protesto a fim de constranger a matriarca antagonista é se inscrever no concurso de beleza mais famoso da região, o Miss Teen Blue Bonnet Pageant, que Rose coordena após ter vencido nove vezes na década de 1990. Ocorre que sua melhor amiga, a esbelta Ellen, (Odeya Rush) resolve participar também, motivando por acaso a rebelde sem causa, Hannah (Bex Taylor-Klaus) e a “cheinha” Millie (Maddie Baillio), oportunidade sonhada desde criança. Na prática, o tiro sai pela culatra, porém, a única constrangida vence o preconceito e o vitimismo, além de conviver melhor com a mãe e com o novo namorado galã, Bo (Luke Benward). Will, a gordinha complexada que largou por último naquela típica sociedade estreita e fofoqueira, tornou-se uma mulher madura e descolada, superando no final as colegas que sempre a ridicularizavam. Exemplo de que a meritocracia funciona, basta ter força de vontade. Dumplin'. Anne Fletcher. Comédia dramática. (EUA - 2018, 110 min). 10 anos. Nota: 3,5
Maravilhosa epopeia animada pré-contemporânea narra a história do Japão Naquele tempo os filhos dos "deuses olímpicos" (Kami) viviam nas montanhas, representado por fiéis lobos, fanáticos javalis anarquistas, vingativos, e os enigmáticos kodamas. Em oposição aos maléficos macacos-humanos pré-históricos comedores de cérebros, semelhante à besta lendária da China, Shoujou. Esses dois grupos de Espíritos imperfeitos e antagônicos desceram ao submundo das sátiras florestas shakespearianas, inspirada na Ilha mística de yakushima, localizada na costa de Kyushu, sudeste do Japão. Tempos dourados de convivência pacífica com os humanos até o início do fim da era medieval, chamada Muromachi (1336-1573). O período em que nasceu a inocente Princesa Mononoke (que significa espírito ou monstro), criada por lobos ao ser abandonada pelos pais. Época romântica de samurais honrados em homenagem aos clássicos de Akira Kurosawa, desfalecida, após a invenção da pólvora. Atitude covarde de uma civilização desenfreada, em antítese à floresta mística. Cidades que frutificavam prostitutas e leprosos famintos, todos comprados e acolhidos na Ilha de Ferro, coordenada pela moderna Lady Eboshi, que derrubava árvores em troca de minério para sua refinaria, gerando lucro suficiente a fim de sustentá-los. Ao contrário da vingativa San (Mononoke), temendo a destruição da morada, ataca a cidade fortificada de Tatara-ba, cobiçada também pelos samurais do Imperador, Mikado. A menina-loba de pureza virginal que rejeita sua raça biológica, lembra a deusa grega da caça, Ártemis, e a divindade xintoísta, Ainu, trajada de “Donzela Veado”. Enquanto isso, a bem-intencionada empresária é manipulada pelo astuto mercenário, Jiko, motivado apenas pelo dinheiro e poder que corrompe. O semeador da discórdia entre os dois povos vizinhos, tenta convencê-la a decepar a cabeça do Deus-cervo, o Espírito protetor da Floresta, que cria vida à luz do dia (Shishigami) e a destrói à noite (Daidarabotchi). O monge ganancioso de uma das melhores animações de todos os tempos pretende conquistar vida eterna, a cobiçada pureza de espírito, contrária ao seu egocentrismo. Em contrapartida, surge o ronin altruísta, Ashitaka, pertencente longínquo vilarejo do clã Emishi. O herói, guiado pelo oráculo de sua aldeia, pretende pôr fim a essa batalha homérica ao aceitar o chamado da alma em forma de maldição, transmitida por um Javali, Tatari Gami, que só pode ser curada naquela floresta. Ocorre que para o diretor Hayao Miyazaki, tal reconciliação tornou-se impossível diante do já corrompido cenário lúdico e viciado. A exemplo da situação em que vivemos hoje em razão da Covid-19, aquela sociedade necessitava também de uma reforma íntima. É partir do afastamento do teimoso Jiko que a empreendedora arrependida, Lady Eboshi, constrói um novo vilarejo naturalista, independente de minério, com ajuda do ronin conciliador, pontífice entre os dois mundos, formando um harmônico triângulo amoroso entre ela e sua indomável amada selvagem, instigante.
Princesa Mononoke. Direção: Hayao Miyazaki. Anime. (Mononoke-hime, Japão -1997, 134 min). 14 anos. Nota: 5,0
Lingo, lingo! Garrafas! A multicultural Netflix trouxe novas facetas ao público interessado em fugir da bolha maniqueísta de Hollywood. O remake melodramático do longa homônimo sul-coreano superou a bilheteria de Vingadores - Ultimato, na Turquia, o país mais ocidentalizado e democrático do oriente, graças à revolução modernizadora conduzida por Mustafá Kemal Artaturk nos anos 1920. Milagre na Cela 7, ambientado em 1984, numa pequena vila ao sudoeste de Istambul, localizada na linda província de Muğla, onde vive o deficiente intelectual (cognitivo), cuja idade mental assemelha-se à da única filha de 6 anos, Ova (Nisa Sofiya Aksongur). Memo (Aras Bulut Iynemli) foi condenado sem direito de defesa a cruel e injusta pena de morte por enforcamento, na época em vigor no país. Isso até a pena crucial ser extinta em 2004. O inocente pastor conhece suas ovelhas pelo nome, a exemplo de Jesus, um dos profetas mais aclamados do islamismo. O jovem especial foi preso em flagrante, acusado de matar a filha pequena de um militar autoritário que agiu irracionalmente, sob violenta emoção, abusando do poder discricionário concedido pelo Estado de Direito, convalescente. Quem não teria feito o mesmo do lugar dele? A trama desenvolve comovente relação angustiante entre o réu e a graciosa filha, devido a idade avançada da avó cuidadora (Celile Toyon Uysal), à espera de um milagre. Com o tempo, os confortáveis companheiros de cela, incluindo o taciturno diretor da prisão, (Sarp Akkaya) simpatizam pela pureza do homérico ciclope, desfigurado lá dentro. Logo, o líder homicida, Askorozlu (lker Aksum), vincula-se ao colega simplista em uma eterna dívida de honra turca por ter salvo a vida, decidido a livrá-lo a qualquer custo do corredor da morte.
Milagre na Cela 7. Direção: Mehmet Ada Öztekin. Drama.(Yedinci Kogustaki Mucize, Turquia - 2019, 132 min). 14 anos. Nota: 3,5 --------------------------------------------------------------------------------------------------------
Livre-arbítrio é proporcional à nossa reforma íntima, iniciada a partir do lado escuro da lua, até a sublime luz do sol, fora da caverna Desde o primeiro capítulo da primeira temporada de Westworld fica evidente que a camponesa angelical de programação poética, interessada apenas no belo e no bom socrático, dificilmente se tornaria uma vilã clássica. Dolores (Evan Rachel Wood), a mãe dos exilados feitos à sua imagem e semelhança, salvou o mundo dos homens em um final de temporada aquém das anteriores. O tenebroso caos na cidade futurista de Los Angeles em comemoração à reconquista do livre-arbítrio pela população não teve o impacto fomentado em razão da beleza estética “cool” exagerada, isento de violência impactante. Por conseguinte, as boas sequências de ação perderam força devido à irritante previsibilidade. O peão Caleb, (Aaron Paul) seguiu à risca as ordens da rainha, já Maeve (Thandie Newton) e Charlotte (Tessa Thompson) terminaram a jornada sem surpresas. Bernard (Jeffrey Wright) e William (Ed Harris) tiveram participações insignificantes, equivalentes ao despretensioso e singelo personagem de Rodrigo Santoro, que causou mais impacto aos telespectadores. Por esse motivo, a participação dos dois grandes atores foi compensada apenas nas surpreendentes cenas pós-créditos. De acordo com o pensamento comum dos maiores filósofos da antiguidade, a evolução (e não revolução), ou melhor, reforma íntima, deve começar de dentro para fora (de baixo para cima) e não, de cima para baixo como foi estruturado por Serac (Vincent Cassel). O livre-arbítrio é inversamente proporcional ao instinto divino, por isso, levou milhares de anos para ser conquistado pelos humanos; desde a aurora dos tempos quando dormia na abelha, sonhava do réptil para despertar finalmente em complexos mamíferos e se aprimorar nos humanos, racionais. Os céticos não acreditam na alma ou consciência, quem decide tudo para eles é o cérebro humano, tirando todo nosso livre-arbítrio, a exemplo da relação simbiótica entre Rehoboam e Serac (Vincent Cassel). O milionário que poderia ter tudo, preferiu virar robô de um gigante ditador com inteligência artificial ao abrir mão voluntariamente do seu livre-arbítrio, conquistado duramente. Serac revelou ainda que a megaempresa, Incite, estava vinculada ao atual governo de capitalismo de estado, motivo fundamental que provocou a crise global na série da HBO, nome do último episódio, “Crisis Theory”, em oposição ao livre mercado.
Westworld – 3X08: Crisis Theory. Direção: Jennifer Getzinger. Ficção Científica. (EUA - 2020. (62 min). Nota: 3,5