Há muitas moradas na casa de meu Pai

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Cem anos após o nascimento de Chico Xavier estreava no Brasil: Nosso Lar (2010), disponível no Star Plus, sobre a vida após a morte do Espírito André Luiz (Renato Prieto), encarnado na Terra como o renomado médico Carlos Chagas. Aquele suicida inconsciente desencarnou em 1934 com apenas 55 anos de idade, vagando erraticamente cerca de oito anos consecutivos por regiões umbralinas até suas súplicas sinceras serem atendidas pelos integrantes do Ministério da Regeneração, onde foi alimentado com proteínas e carboidratos até se recuperar completamente, cuja diretora Veneranda (Lu Grimaldi) foi a única além do Governador Anacleto (Othon Bastos) a estar pessoalmente com Jesus ao acumular mais de um milhão de bônus-hora de serviços gratuitos àquela comunidade meritocrática. A Ministra Veneranda quando encarnada em Portugal foi a “Rainha Santa” Isabel de Aragão, esposa de Dom Diniz. Ocorre que para visitar seus entes queridos, André Luiz teve de acumular centenas de horas de trabalho (como no Brasil) ajudando as vítimas do início da Segunda Guerra Mundial recém-chegadas à colônia bendita. Nosso Lar, tem o formato da Estrela de Davi, localizada entre o umbral e o plano superior, a 50 km acima da cidade do Rio de Janeiro — fundada no século XVI por portugueses ilustres desencarnados no Brasil. A Cidade-Estado foi inspirada nas Polis Gregas, com governo próprio e independente, cujo governador não descansava há 117 anos, coordenando 72 ministros em seis ministérios distintos: doze em cada um; de modo a decidir sempre coletivamente. Entre eles: os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Os quatro primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao plano superior.
Com o sucesso estrondoso do filme espírita a sequência ficou garantida ao diretor, produtor e roteirista Wagner de Assis, embora a pandemia e a burocracia na compra da Fox pela Disney tenha atrasado a estreia em treze anos e meio, apesar do livro homônimo psicografado por Chico Xavier completar exatos setenta anos em 2024. Dessa vez, André Luiz deixa aquela colônia espiritual ao lado de um grupo de benfeitores liderados pelo Mentor Espiritual, Aniceto (Edson Celulari), cuja missão é resgatar espíritos fracassados por instigar o suicídio de encarnados como Joaninha (Letícia Braga). Ao contrário da obra literária, Nosso Lar 2: Os Mensageiros (2024), em exibição nos cinemas, descreve de forma não linear três histórias interligadas: até “demônios” aprisionados na escuridão do inferno por séculos um dia se arrependem, elevando-se para a luz.
Em Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), disponível no Prime Vídeo, a médium psicofônica Oda Mae Brown (Whoopi Goldberg) foi a responsável pela comunicação entre os amantes dos dois mundos, cuja profecia constava na peça regicida, Macbeth, assistida pouco antes do trágico incidente. Nossa alma possui milhares de “fios de prata” acima da cabeça: rompidos após o desencarne apenas por espíritos superiores conhecidos na Grécia Antiga como as mitológicas moiras. Por isso, aquela morte violenta causou tanta perturbação ao Espírito vivido pelo saudoso Patrick Swayze quando atravessou abruptamente a fronteira entre a vida e a morte com a mesma aparência física “sem sair do lugar.” Sua missão antes de descansar até o “Paraíso”, foi convencer a namorada e artista plástica, Molly Jensen (Demi Moore), que a vida continua fora do corpo físico.
Um Olhar do Paraíso (2009) de Peter Jackson, é outra ótima opção, disponível no Paramount Plus, para entender o mundo espiritual, quando ideias e imagens são plasmadas conforme o desejo de vingança do Espírito Susie (Saoirse Ronan), estuprada e morta aos 14 anos pelo serial killer George Harvey (Stanley Tucci), infernizando a mente do seu pai por mais de uma década, a fim de condená-lo sem provas. No final, a justiça divina prevaleceu e o casal interpretado por Mark Wahlberg e Rachel Weisz se reuniu novamente. “Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas se vos acrescentarão. E assim não andeis inquietos pelo dia de amanhã. Porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado; ao dia basta a sua própria aflição”(Mt, 19–21, 25–34).