17/08/2018 às 19h47min - Atualizada em 05/05/2021 às 10h04min

Predinhos da Hípica são tombados

Enfim, um dos maiores patrimônios históricos do bairro de Pinheiros foi tombado. Conhecidos como Predinhos da Hípica, os imóveis agora contam com a proteção do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Publicado no Diário Oficial do município, o decreto que estabelece o tombamento aponta que o órgão levou em consideração “a importância histórica do processo de implantação do quadrilátero, vinculada à ocupação das áreas suburbanas e rurais de São Paulo, intensificada a partir da década de 1920”. Assim, a importância da concepção urbanística do conjunto, observado nas condições de implantação dos edifícios, consolidadas através de um processo de ocupação introduzido no bairro a partir da década de 1940 fortaleceu a decisão. O valor urbanístico e paisagístico do conjunto, vinculado ao seu grau de preservação, e o conjunto de áreas verdes permeáveis, presentes em espaços públicos e lotes particulares, proporcionando uma relevante qualidade ambiental urbana e o valor simbólico e afetivo do quadrilátero reconhecido pela população local também foram apontados como causa do tombamento. Assim, deverão ser protegidas as volumetrias das edificações principais, recuos laterais e de frente, incluindo área ajardinada e características arquitetônicas externas das edificações Histórico Próximo à agitada Rua Teodoro Sampaio, alguns quarteirões formados por pequenos prédios de dois andares remetem à São Paulo dos anos 50. Cercados por ruas arborizadas, este conjunto de edificações baixas esteve ameaçado nas últimas décadas pela especulação imobiliária e pelas empresas de serviços públicos, que eventualmente substituem os tradicionais paralelepípedos pelo asfalto. Porém, a mobilização de moradores tem evitado que esse quadrilátero seja descaracterizado ao longo do tempo. Conhecidos como “Predinhos da Hípica” pelos próprios moradores e vizinhos, as edificações estão localizadas no perímetro formado pela Avenida Pedroso de Moraes e pelas ruas Teodoro Sampaio, Mourato Coelho e Artur de Azevedo. A maioria dos imóveis é de perfil residencial, mas em alguns deles funcionam escritórios. Já no trecho da Teodoro Sampaio a parte térrea é ocupada por lojas e nos andares superiores há apartamentos residenciais também. O conjunto foi projetado por Felix Dabus, filho do imigrante libanês Raduan Dabus que adquiriu lotes da antiga Hípica Paulista após esta ser transferida para Santo Amaro. Nesta época, algumas regiões da cidade como Pinheiros começavam a mudar o seu perfil rural para o urbano. A maior parte dos pequenos edifícios é separada da rua por portões baixos e muretas, fazendo com que os apartamentos do térreo sejam praticamente duas casas, pela proximidade com a calçada. Entre a fachada e os portões, há jardins bem cuidados pelos moradores. Seguranças de terno, comuns em prédios residenciais de alto padrão em bairros nobres, não são vistos em frente aos antigos Predinhos da Hípica. Associação No início dos anos 2000 os moradores começaram a demonstrar receio com os avanços do mercado imobiliário. O temor veio a ser maior principalmente após a construção de um arranha-céu estilo neoclássico e cercado por muros, perfil arquitetônico distinto em relação aos imóveis do entorno. O empreendimento foi erguido em meio aos quarteirões dos predinhos e sobre uma área livre, onde antes existia uma pequena praça. Agora, porém, a vitória junto ao Conpresp é comemorada pelos moradores locais. A Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais conversou com Verônica Bilyk sobre o resultado deste longo processo. Gazeta de Pinheiros - O que representa o tombamento dos Prédios? Verônica Bilyk - Representa um sucesso muito grande. Os moradores e amigos do bairro passam a ter garantias de que o conjunto urbano terá suas medidas e características preservadas. É uma vitória dos que sabem e acreditam que o urbanismo e seu planejamento tem uma direita relação com a qualidade de vida do cidadão. GP - Desde quando vinha esta luta? VB - O tombamento foi requerido em 2002 pela moradora Yvonne Mautner, de 72 anos, professora aposentada de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e que continua morando nos predinhos e podendo testemunhar este momento depois de 14 anos de tramitação. GP - Qual é o diferencial de morar nos predinhos? VB - São apartamentos muito agradáveis, bem distribuídos, feitos com material sólidos. Todo prédio é cercado por jardins bem cuidados. Os muros e grades são baixos. Não existem zeladores e os prédios não tem elevadores. A altura dos prédios tombados é de 15 metros, o que possibilita uma visão mais 'arejada´ dos seus arredores. As ruas do conjunto são de paralelepípedo. A distribuição de árvores e jardineiras é abundante. Isto tudo promove um ambiente favorável ao pedestrianismo, ao uso de bicicleta, à convivência com idosos e crianças. GP - O tombamento afastará ameaças de incorporadoras? VB - O tombamento coloca a população moradora em condição fortalecida. Define claramente as regras de construção no quadrilátero. Se os objetivos das incorporações são apenas os de construir edificações altas e volumosas que abriguem números expressivos de moradores, então a região tombada dos Predinhos deixa de ser um local de interesse para elas. O tombamento implica na desaceleração de um ritmo frenético de vida. GP - Há alguma associação dos moradores? Quais papéis exerce? VB - Foi criada há 3 meses a AMAPP (Associação de Moradores e Amigos dos Predinhos de Pinheiros). A AMAPP se reúne formalmente uma vez por mês para colocar os assuntos em dia e para confraternização, uma conduta incentivada desde que passamos a conhecer  o programa de Vizinhança Solidária. Desta interação entre moradores detectamos área importantes de interesse e desenvolvimento do bairro e nos dividimos em Grupos de Trabalho por assunto. Atualmente são: Arborização, Calçadas e Acessibilidade; Comgás/Sabesp; Lixo, Varreção e Carpinagem; Pessoas em Situação de Risco; Eletropaulo/Ilumina; Segurança/Vizinhança Solidária; CET; Tombamento e Paralelepípedo; Feira, Operação e Limpeza; Relação com Fernão Dias e Arredores; Concessionárias de Telecomunicação; Comunicação Visual; Assessoria de Imprensa; Reuso Água Prédião; PSIU; Carnaval; Comércio Amigo. GP - Há integração entre comércio e moradores? VB - Sempre houve neste pedaço de Pinheiros um comércio tradicional que os moradores acompanharam. Os tempos mudaram e os comércios também. Talvez neste  momento, pode se dizer que está havendo um resgate destas relações e a AMAPP é grande responsável por isso. No grupo de trabalho Comércio de Amigo estamos reunindo os donos de estabelecimentos comerciais para construirmos juntos orientações de boas práticas quanto a ocupação de imóveis, respeito às regras do PSIU, ocupação de calçadas etc. GP - Quais são os próximos passos? Há melhorias a serem buscadas? VB - Nós estamos muito contentes com tantas conquistas em tão pouco tempo. O tombamento, a suspensão do asfaltamento do paralelepípedo, nossa aproximação com a Escola Fernão Dias, o entrosamento entre moradores e comerciantes, tudo está nos deixando muito entusiasmados. Os passos futuros são infinitos, mas queremos melhorar o trabalho de grupos de trabalho que ainda não estão demonstrando produtividade e atuação. Estamos atentas para nos relacionar com outras organizações comunitárias para evoluirmos nos nosso aprendizado. E precisamos de mais adesões de moradores e visibilidade. Mas, sabemos estar no caminho certo e tem sido extremamente prazeroso.
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